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Análise
Rebeldes buscam fim de acordo que definiu atual Oriente Médio
MÁRIO CHIMANOVITCH ESPECIAL PARA A FOLHAA ofensiva de radicais islâmicos em direção a Bagdá, mais do que uma ameaça ao equilíbrio regional, tem como objetivo colocar fim a um dos mais polêmicos acordos da Primeira Guerra Mundial.
O tratado Sykes-Picot, lavrado por França e Reino Unido, foi um arranjo secreto formalizado em 1916 que definiu as respectivas áreas de influência das potências europeias no Oriente Médio.
Negociado pelo diplomata francês François Georges-Picot e pelo britânico Mark Sykes, acabou impedindo a materialização das aspirações nacionalistas árabes.
Por ele, o Reino Unido exerceria o controle dos territórios correspondentes hoje à Jordânia e a parte do Iraque. A França ganhou domínio do sudoeste da Turquia, da Síria e do norte iraquiano.
Os europeus teriam o poder de definir fronteiras em suas respectivas áreas. Foram criados Estados artificiais como Líbano e Jordânia, que integravam, até a guerra, a chamada Grande Síria. A Palestina seria colocada sob administração internacional.
Os eventos no Iraque indicam que as forças jihadistas querem levar a cabo a "Destruição do Sykes-Picot", revertendo um século de história regional e recriando o que já foi uma região chamada de "Grande Mesopotâmia".
XADREZ REGIONAL
Na conjuntura atual já parece claro que os EUA evitarão a todo custo uma nova intervenção no Iraque, mas esperam contar com o apoio e ação de um aliado inusitado, o Irã.
Teerã, contudo, mantém-se numa atitude defensiva, embora nos últimos meses venha reforçando seus efetivos militares na fronteira ao norte com o Iraque.
A posição iraniana torna-se desconfortável na medida em que Teerã tem que manter apoio financeiro e político aos aliados xiitas num Iraque militarizado e em guerra.
Por outro lado, a Arábia Saudita vê com cada vez maior desconfiança a aliança entre Barack Obama e os aiatolás e faz o possível para minar essa reaproximação.
É nesse contexto que se deve tentar entender o misterioso encontro travado em Sochi, balneário russo frequentado pelo presidente Vladimir Putin, em 3 de junho, poucos dias antes da ofensiva islâmica.
O líder russo convidou o ministro de Relações Exteriores da Arábia Saudita, Saud al-Faisal, para conversações.
Não é segredo que Moscou quer manter seu poder de influência em Damasco e necessita do endosso da Arábia Saudita, cujo dinheiro financia em grande parte os rebeldes contra o governo sírio.
Suspeita-se, no entanto, que a agenda do encontro em Sochi tenha ultrapassado essa questão. Rússia e Arábia Saudita dividem interesses fundamentais que objetivam minar as negociações entre Washington e Teerã.