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Milícia avança e deixa Bagdá em alerta
Grupo islâmico ultrarradical toma postos de fronteira entre Iraque e Síria, o que pode facilitar trânsito de armas
Analistas dizem que retirada do Exército de cidades conquistadas serve para organizar blindagem da capital
Combatentes sunitas radicais tomaram mais cinco cidades do Iraque, aumentando a pressão sobre a capital, Bagdá, onde o governo dominado por xiitas dá crescentes sinais de nervosismo.
No fim de semana, a conquista mais significativa do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL), facção que vem expandido seu domínio territorial desde janeiro, foi a captura de dois postos de fronteira com a Síria, Qaim e al-Waleed.
Caso se consolide, o avanço poderia facilitar a circulação de armas do EIIL e colocar sob seu controle uma área que se estende do leste do Síria, onde o grupo surgiu em 2012 como dissidência da Al Qaeda, até o oeste do Iraque.
Os jihadistas dizem que sua intenção é redesenhar as fronteiras do Oriente Médio para fundar um Estado islâmico supostamente inspirado nos tempos do profeta Maomé, no século 7.
O EIIL também tomou Rawa, Ana e Rutba, diminuindo ainda mais o controle do governo sobre a Província de Anbar, maior do Iraque e com forte presença de sunitas. Os combatentes mataram ao menos 21 pessoas na ofensiva.
Um porta-voz militar admitiu que as tropas se retiraram das cidades invadidas, numa manobra vista como prova da inépcia militar do governo.
Segundo o governo, evitar o confronto foi uma tática para preparar o contra-ataque.
Analistas, porém, afirmam que o objetivo é reorganizar o contingente para reforçar a blindagem de Bagdá, que o EIIL prometeu tomar.
A periferia oeste de Bagdá, onde começa a Província de Anbar, está sob forte tensão, conforme a Folha comprovou neste domingo.
Unidades fortemente armadas controlam o acesso à rodovia que liga a capital a Falluja, reduto sunita a 50 km do centro de Bagdá sob controle do EIIL desde janeiro.
A reportagem chegou a 25 km de Falluja, num ponto da estrada praticamente sem movimento de carros.
Controles também foram reforçados no acesso a Bagdá pelo norte, numa estrada que liga a capital a várias cidades tomadas pelo EIIL, entre as quais Baquba, a 60 km.
A reportagem viu uma coluna de 40 picapes recém- compradas pelo governo indo em direção ao norte, num aparente reforço no front. Na mesma estrada também havia ônibus e vans levando rumo ao norte o que aparentavam ser civis alistados às pressas como voluntários.
O porta-voz do Ministério do Interior, Saad Maan, disse à Folha que a estratégia de blindar Bagdá inclui apoio de tribos residentes próximo da capital. "Bagdá está segura e estável. Temos policiais, militares e 40 mil voluntários envolvidos para protegê-la."
AJUDA URGENTE
Maan, no entanto, pediu ajuda urgente às potências estrangeiras. "A situação é gravíssima, e ninguém está nos ajudando", disse ele, destacando sobretudo a expectativa de apoio dos EUA.
A tensão era palpável no ministério, onde havia intenso vaivém de oficiais, telefones tocando sem parar e assessores trazendo aos chefes informações em voz alta na frente de todos.
O governo bloqueou acesso às redes sociais, alegando que elas servem para fins de propaganda inimiga. Ligações pelo celular, que vinham funcionando normalmente, se tornaram mais difíceis.
A TV estatal divulga à exaustão imagens dos soldados em ação ao som de cantos ufanistas.
Apesar da pressão, o EIIL não pretende nem pode chegar à capital, disse Abdul Jabbar Ahmad, cientista político da Universidade de Bagdá.
"É uma guerra psicológica para enfraquecer o governo. O EIIL não tem homens nem armas para isso", afirmou.
"Se quisesse entrar em Bagdá, precisaria de respaldo muito mais significativo de seus apoiadores Turquia e Arábia Saudita. Duvido que estes países tenham interesse em ver o colapso do Estado iraquiano."