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Kerry vai ao Iraque pedir novo governo

EUA exigem que nova administração inclua sunitas e, nos bastidores, articulam coalizão sem o xiita Nuri al-Maliki

Pressão acontece em meio a avanço do grupo fundamentalista sunita EIIL, que tomou cidades e se aproxima de Bagdá

SAMY ADGHIRNI ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ

O secretário de Estado dos EUA, John Kerry, fez inesperada visita a Bagdá nesta segunda-feira (23) para pressionar pela formação de um novo governo iraquiano, mais inclusivo e capaz de frear o avanço de grupos sunitas ultrarradicais.

Tida como afronta ao premiê xiita Nuri al-Maliki, a posição americana contraria o poderoso vizinho Irã e acirra disputas sobre como responder à ofensiva do Estado Islâmico no Iraque e no Levante (EIIL), facção jihadista que já cerca Bagdá ao norte e oeste.

Num encontro descrito como tenso, Kerry condicionou a ajuda americana a ações de Maliki em favor dos sunitas (36% da população), que querem maior participação no governo. "O Iraque enfrenta uma ameaça existencial. [...] Nosso apoio será intenso, se os líderes iraquianos se unirem", disse Kerry.

Segundo Kerry, Maliki se comprometeu a acelerar negociações para formar uma coalizão após a inconclusiva eleição parlamentar de abril passado, na qual o premiê não obteve maioria necessária para emendar um terceiro mandato consecutivo.

Os EUA afirmaram que Maliki tem até 1º de julho para anunciar um governo onde sunitas terão espaço.

Kerry ressaltou que Washington não esperará pela formação de um novo gabinete caso julgue necessário intervir militarmente para conter os avanços do EIIL.

Ironicamente, foi a invasão americana, em 2003, que acabou com o governo sunita em Bagdá ao derrubar Saddam Hussein. Desde então, porém, o sentimento de opressão levou muitos sunitas a se revoltarem contra o novo Estado e, desde o ano passado, a apoiarem o avanço do EIIL no oeste e no norte do Iraque.

No fim de semana, os jihadistas, presumivelmente apoiados por tribos sunitas, tomaram mais cinco cidades e teriam chegado a estabelecer controle sobre as fronteiras do Iraque com a Síria e com a Jordânia.

Várias localidades caíram nas mãos do EIIL sem resistência das tropas oficiais, que bateram em retirada ou desertaram. O EIIL controla áreas situadas nas redondezas do aeroporto de Bagdá, ainda operacional.

Na segunda, houve relatos, não confirmados, de que o grupo teria tomado a refinaria de Baiji, a maior do país.

PRESSÃO

A possibilidade de colapso do Estado central e partilha do Iraque gerou apelo pela renúncia de Maliki entre sunitas, curdos e até xiitas rivais. Os EUA vêm evitando exigir abertamente a renúncia de Maliki, apesar da pressão cada vez mais visível.

O coro anti-Maliki foi engrossado pelos aliados sunitas dos EUA, Arábia Saudita, Turquia e Emirados Árabes Unidos, que acusam o premiê de inflamar tensões sectárias para servir o expansionismo xiita iraniano.

"Quem garante que a renúncia de Maliki trará resultado contra o EIIL?", diz Abdul Jabbar Ahmad, cientista político da Universidade de Bagdá. "Se ele cair, os sunitas ficarão satisfeitos, mas os xiitas se revoltarão", prevê.

Maliki nega ter oprimido sunitas e atribui a gravidade da crise a "terroristas" apoiados por "forças estrangeiras".Num apelo, o governo iraquiano pediu ajuda militar aos EUA, o que desagradou o Irã, país ainda propenso a manter Maliki no cargo, segundo analistas.

O aiatolá Ali Khamenei, líder máximo da teocracia xiita iraniana, condenou planos de intervenção e disse no domingo (22) que os EUA querem voltar a ocupar o Iraque.

Teerã, porém, se diz disposta a interferir para ajudar a proteger santuários xiitas em Najaf, Karbala e Samarra que o EIIL prometeu destruir por considerar hereges.

Um porta-voz de Bagdá disse à Folha que a ajuda iraniana é bem-vinda, mas ressaltou a dificuldade de se assumir publicamente o apoio da república islâmica.

Para Ahmad, o analista iraquiano, não há solução sem conciliação regional. "Países que usam o Iraque como palco de disputas deveriam perceber que a partilha do território iraquiano não traria benefícios para ninguém."


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