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Putin quer Brics como contraponto aos EUA
Em entrevista a agência russa, presidente defende elevação do papel do bloco, que inclui o Brasil, a 'outro nível'
Ao lado de Putin, Dilma fala em 'escalada de conflitos', mas não cita Ucrânia, que combate rebeldes pró-russos
O presidente russo, Vladimir Putin, defendeu a ideia de que os Brics aumentem seu peso político e façam um contraponto, em fóruns como a ONU, às políticas norte-americanas e de seus aliados.
Ele também quer que o bloco formado por Rússia, Brasil, China, Índia e África do Sul monte um banco de fomento e trabalhe junto em ações como o combate ao terrorismo, mas negou propor uma aliança militar. Também descartou, por ora, a entrada da Argentina no grupo.
As afirmações foram feitas em entrevista publicada nesta segunda (14) pela agência de notícias estatal russa Itar-Tass, realizada antes da viagem de Putin ao Brasil.
O presidente da Rússia, que assistiu à final da Copa no domingo (13), no Rio, foi recebido nesta segunda por Dilma Rousseff e participa nesta terça (15) do encontro dos chefes de Estado e governo do Brics, em Fortaleza.
Putin quer aproveitar sua viagem para fugir do isolamento internacional devido às ações russas na Ucrânia.
Após a queda do regime pró-Moscou, a Rússia anexou a Crimeia e é acusada de insuflar o separatismo no vizinho. Por isso, EUA e União Europeia determinaram sanções, criticadas por Putin.
"A Rússia está sob ataque de sanções dos EUA e de seus aliados. [Devemos] ponderar juntos [na cúpula dos Brics] um sistema de medidas que permitiria impedir a caça aos países que discordam de certas decisões tomadas por EUA e aliados", afirmou Putin.
Para o presidente, "chegou a hora de elevar o papel dos Brics a outro nível". Citou para isso o combate às drogas e ao terror, além de iniciativas na ONU para se contrapor a "tentativas de alguns países de impor à comunidade internacional a política de remover regimes indesejáveis e promover as variantes unilaterais da solução de situações de crise" --modus operandi associado aos americanos.
RUMO A 2018
Em Brasília, Putin foi mais genérico e falou principalmente da Copa do Mundo que seu país irá sediar em 2018.
Dilma, por sua vez, demonstrou preocupação com a "escalada de conflitos em várias partes do planeta" e elogiou a condução russa na crise da Síria --quando Moscou colheu os louros pelo acordo que demoveu os americanos de intervir no país.
Dilma não falou sobre Ucrânia. Na final da Copa, Putin e a chanceler alemã, Angela Merkel, conversaram sobre o recrudescimento da crise, que impediu a vinda do presidente ucraniano, Petro Poroshenko, para o evento.
Na entrevista à Itar-Tass, Putin afirmou que discutiria Ucrânia, Síria e Iraque com seus colegas de Brics.
Sobre economia, Putin voltou a defender um banco de desenvolvimento do bloco, que possa agir no fomento de infraestrutura e eventualmente ser uma reserva cambial comum.
AGENDA
A semana diplomática será agitada no Brasil. Após receber Putin, Dilma voou para o encontro dos Brics. Na quarta (16), ela toma café da manhã com o premiê indiano, Narendra Modi, e depois recebe Modi e os outros chefes de Estado e governo dos Brics e da América da Sul.
Por fim, na quinta-feira (17), o presidente da China, Xi Jinping, ficará em Brasília para uma visita de Estado, na qual são acertados acordos mais importantes.
No caso da Rússia, foram assinados sete acordos bilaterais. O principal deles trata de uma intenção de elevar o patamar comercial entre os dois países a US$ 10 bilhões.
Foi reconfirmada a intenção brasileira de compra de sistemas de defesa anti-aérea russos, negócio estimado em R$ 2 bi.