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Eleições EUA Fronteira EUA-México vive recuperação Região, com estratégico eleitorado hispânico, recebe investimentos do governo; grupo é vital para reeleição de Obama Empresas têm desistido de investir na China para se aproveitar dos salários mais baixos que são pagos na área
ENVIADA ESPECIAL A BROWNSVILLE, TEXAS, E MATAMOROS, MÉXICO Apontando a vastidão pontilhada por bobinas de ferro laminado, Manuel Ortiz indica, satisfeito: "Aqui será a nova doca, a 16ª. Se você seguir nesta direção, chega ao mar. À sua esquerda, fica a Ilha do Padre, e à direita, a uns 10 km, Matamoros. O México". Ortiz é porta-voz do Porto de Brownsville, cidade de 181 mil habitantes na ponta do mapa do Texas desde 2009, quando o governo Barack Obama injetou ali US$ 12 milhões em estímulo anticrise e ele voltou após 11 anos fora. A cidade que achou, maior e mais viva, é um retrato em negativo de dois dos maiores fantasmas da campanha presidencial americana, evocados a toda hora por Obama e o republicano Mitt Romney: a reforma imigratória e a rivalidade com a China. Após o baque da crise de 2008 e diante do flanco aberto no país asiático pela alta dos custos trabalhistas, Brownsville se lançou em uma campanha agressiva por investimentos com a meia-irmã mexicana, Matamoros. "Temos sido mais transparentes em mostrarmos que estamos trabalhando juntos. Saímos do armário", brinca o prefeito Tony Martinez, um democrata eleito em 2011. A despeito da recuperação arrastada no resto do país, que norteia a campanha presidencial, resultados começam a surgir. No ano passado, o porto manejou 6,5 milhões de toneladas de carga -a maior parte, ferro e combustível rumo ao México. Em dezembro, as cidades, que constroem a quinta ponte transnacional, inaugurarão uma ferrovia -algo inédito na fronteira entre EUA e México em cem anos. "Elas estão integradas", afirma Roberto Mattus, da Associação de Maquiladoras de Matamoros. "Brownsville tem promovido a região. Antes, cada uma cuidava de si. Hoje, elas se complementam." Do lado mexicano, se ensaia o renascimento. A cidade de 489 mil habitantes foi um polo importante de "maquiladoras" -as fábricas montadoras que, nos anos 80, fizeram a economia mexicana saltar e inundaram os EUA de produtos baratos. Depois veio a concorrência de cidades vizinhas menos afeitas aos sindicatos, a ascensão chinesa, a crise que quase implodiu o setor automotivo americano e o aumento da criminalidade. Hoje, Matamoros soma 122 maquiladoras que empregam 60 mil pessoas (80% da mão de obra formal da cidade, segundo a associação do setor) e paga salários médios de US$ 400 (R$ 803) aos operários. Ao menos 10% desse dinheiro, estima o professor Rafael Otero, da Escola de Negócios da Universidade do Texas em Brownsville, é gasto do lado americano da fronteira. São US$ 3 milhões ao mês. Essa simbiose puxa uma lenta, mas constante, recuperação. Enquanto a renda média nos EUA encolheu 4,4% nos últimos cinco anos, em Brownsville ela cresceu 6,1%, segundo dados do Censo. LÁ E CÁ O pacote se tornou atraente para empresas que produzem componentes e precisam montar as peças. Operações divididas hoje são comuns. A Trico, maior fabricante de limpadores de para-brisas dos EUA, decidiu reprogramar sua unidade na China apenas para o mercado local. O dos EUA agora é servido só pela unidade de Brownsville e Matamoros. Como em outras empresas visitadas pela Folha, do lado americano se fazem componentes, numa fábrica mecanizada com 388 funcionários, e do mexicano, está a linha de montagem, com 1.500 operários. "Os custos da mão de obra na China continuam subindo", diz Martin Kennedy, vice-presidente da Trico para os EUA. "No México, com benefícios, pagamos US$ 1,80 a hora. Na China, quase US$ 3." Pesa ainda a logística, afirma ele. As fábricas na fronteira podem reagir a picos na demanda americana em dias. As chinesas levam semanas. "Veremos cada vez mais esse movimento", estima Gilberto Salinas, vice-presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Brownsville, que negocia a instalação de outra firma disposta a deixar a China. O HSBC, em relatório de março, prevê que o México atraia boa parte das fábricas que voltam. Sua mão de obra cresceu na cultura maquiladora, e os salários, 365% maiores que os chineses há dez anos, hoje são só 29%. Estão de olho nesse contra fluxo, além de Browsnville, as texanas San Antonio, Corpus Christie e Houston. Falta o apoio do governo federal, imobilizado pela campanha. Mattus, da associação de maquiladoras, brinca que "há Washington e há a fronteira". A última pode ser a resposta à primeira. Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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