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SOS Caracas

Alto índice de homicídios é preocupação número 1 de campanha venezuelana

Isaac Urrutia - 29.mar.2012/Reuters
Protesto em Maracaibo, em março, contra a violência na Venezuela
Protesto em Maracaibo, em março, contra a violência na Venezuela

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS

Um edifício branco numa colina arborizada e elegante de Caracas é um dos símbolos da violência na Venezuela. Lá fica o Centro Nacional de Estudos Forenses, o equivalente ao IML, e se cruzam tragédias familiares da capital do país com a maior taxa sul-americana de homicídios.

"Nem nos recuperamos de uma e acontece outra", chora José Ramón Montilva, 33. É cedo no domingo e há movimento intenso, já que as manhãs do fim de semana e da segunda refletem o saldo sangrento da noite anterior.

Montilva conta que o pai, Ramón Montilva Pérez, foi morto no sábado. Quando questionado se é a primeira vez que ocorre isso na família, aponta para o primo, Yeritson Pernía, 30: "Não. O pai dele morreu há seis meses, também num assalto".

O pai de Ramón foi assassinado num lugar simbólico: no estacionamento de um edifício na rua atrás do Palácio Branco, parte do complexo que abriga a sede da Presidência venezuelana, a despeito das guaritas militares que resguardam o lugar.

A violência que ronda a residência oficial de Hugo Chávez também pressiona o governo nas pesquisas de opinião. A falta de segurança é apontada como o principal problema para os venezuelanos, que votam no domingo para escolher o presidente.

Chávez lançou em junho, a quatro meses da eleição, uma "missão" (programa social) para a segurança batizada de "A Toda Vida Venezuela", que envolve a expansão de uma nova polícia nacional fundada por ele e um serviço de atendimento às vítimas.

Por anos o governo deixou de divulgar à imprensa dados oficiais sobre a violência, tema que ganha diariamente as capas dos principais jornais de Caracas -todos fazem oposição a Chávez. Também por isso o "IML" caraquenho ganhou tantos holofotes.

Perto do edifício branco, jornalistas e câmeras de TVs disputavam espaço com famílias de vítimas enquanto esperavam ontem os dados "extraoficiais" das entradas de cadáveres do fim de semana. Neste, foram 33 mortos.

CRIME DESORGANIZADO

O segredo sobre as cifras terminou parcialmente em junho, quando o ministro do Interior, Tarek el Aissami, informou que em 2011 morreram assassinadas 14.092 pessoas na Venezuela. A taxa de homicídios fechou em 50 por 100 mil habitantes, uma das dez maiores do mundo.

No Brasil, segundo os dados de 2010, os mais recentes disponíveis, a taxa foi de 26 para 100 mil habitantes.

Pesquisa encomendada pelo governo em 2009 para medir a "percepção de insegurança" encontrou dados ainda mais dramáticos. Nesses números, vazados à imprensa em 2010, Caracas aparece com 165 homicídios por 100 mil habitantes, taxa digna de locais em conflito.

Em sua defesa, o governo Chávez diz que, quando chegou ao poder, em 1999, o país já vivia escalada de violência, o que especialistas venezuelanos confirmam.

No país se debate por que, mesmo após uma década de crescimento e diminuição da pobreza, os números de violência seguiram crescendo.

A socióloga Ana María Sanjuán vê coincidência entre picos de violência e momentos de crise institucional no país, como as tentativas de golpe em 1992 e 2002.

Outros analistas citam o caótico desenho dos corpos policiais: Caracas tem cinco polícias diferentes, com fraca comunicação entre elas.

Fatores adicionais são impunidade (15% dos homicídios são efetivamente julgados), o país como rota da droga vinda da Colômbia e um complicador demográfico: 30% da população venezuelana tem de 18 a 30 anos, com desemprego em 16%.

Apesar da grita da classe média, o problema afeta especialmente a base eleitoral de Chávez. De acordo com a pesquisa de 2009, mais de 80% dos homicídios aconteceram nas classes D e E.

Para Yeritson Pernía, o tema não o faz deixar de votar em Chávez, mas ele sonha que o presidente adote um lado "mão dura". "Vocês não melhoraram no Rio?", pergunta. "Aqui o governo terá que pôr Exército nas favelas, fazer toque de recolher. Só polícia não vai resolver."

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