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Cúpula América do Sul-Árabes evita definição sobre Síria

Reunião não apresenta proposta nem condenação ao ditador Bashar Assad e pede apenas 'fim da violência'

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A LIMA

Por mais que o secretário-geral da Liga Árabe, Nabil El-Araby, tenha definido a crise na Síria como "o maior desafio para os países árabes no momento", a 3ª Cúpula Aspa (América do Sul/Países Árabes) não foi além de um óbvio chamamento ao fim da violência, sem apresentar qualquer proposta ou, ao menos, uma condenação ao ditador Bashar Assad.

O texto cobra uma solução inclusiva e que atenda aos desejos expressos do povo sírio por mais participação na vida política.

É pouco para uma situação que El-Araby diz ser de "hemorragia" e que nenhuma iniciativa da comunidade internacional conseguiu deter.

No conjunto, a Declaração de Lima, o caudaloso documento final, contém 70 pontos, um catálogo de boas intenções, mas que carece de iniciativas concretas para a aproximação entre os 12 países sul-americanos e os 21 árabes (o 22º, a Síria, não foi convidado por estar suspensa pela Liga Árabe).

É compreensível, de todo modo, o excesso de retórica e a pouca concretude do documento: os dois blocos estão apenas no início de um processo de aproximação, que, de todo modo, já gerou a duplicação do intercâmbio comercial desde a primeira cúpula, realizada em 2005.

Em meio à inevitável celebração das coincidências, houve matizes diferentes no tratamento da crise síria durante a cerimônia de inauguração. El-Araby condenou "os crimes do aparato militar do Estado sírio", preferindo uma palavra mais suave ("violência") para criticar as forças opositoras.

Já Dilma Rousseff repetiu a condenação aos dois lados feita na Assembleia-Geral da ONU, ainda que tenha deixado claro que "a maior responsabilidade recai sobre o governo de Damasco".

O discurso de Dilma foi uma cópia-carbono do que dissera na ONU, desde a condenação a qualquer forma de "islamofobia" até a afirmação de que "o reconhecimento do Estado palestino pelas Nações Unidas é a única alternativa plena e consistente" para o que El-Araby chamara antes de "a questão central no mundo árabe".

A presidente brasileira também repetiu o repúdio a qualquer intervenção externa no Irã, sobre a qual há insistentes rumores. Seria, disse a mandatária, "uma violação da carta das Nações Unidas, que desestabilizaria ainda mais a região".

Dilma manifestou seu apoio a um completo desarmamento nuclear e concordou com a proposta da Liga Árabe de convocação de uma conferência internacional para discutir a transformação do Oriente Médio em uma zona livre de armas nucleares, seguindo o exemplo de América Latina/Caribe, que gozam dessa condição desde o Tratado de Tlatelolco (1967).

Ao propor copiar o modelo no Oriente Médio, a Liga Árabe está sutilmente sugerindo que Israel, a única potência nuclear da região, ainda que não o reconheça oficialmente, teria que se desfazer de seu arsenal.

Valeria, em tese, também para o programa nuclear iraniano, ainda que o Irã não seja formalmente parte do Oriente Médio. Mas é impensável que Israel se disponha pelo menos a discutir a questão sem que o Irã esteja incluído no debate.

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