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Clone de 'Minha Casa' é trunfo de Chávez

Presidente venezuelano, que tenta seu terceiro mandato no domingo, aposta em projeto habitacional gigantesco

Moradias populares são feitas por empresas russas, chinesas e brasileiras; adversário promete manter projeto

FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A CHARALLAVE

"A gente não deve morder a mão de quem nos alimenta", diz Pedro Pinto, 40, na ampla cozinha do apartamento que ganhou "todo equipado" do governo Hugo Chávez, com geladeira, lavadora e fogão de fabricação chinesa. "Só não deram as camas", diz.

Pinto, com mulher, quatro filhos e mais um a caminho, se mudou em fevereiro para Charallave, um município da Grande Caracas, após um ano e meio de espera em um centro para desalojados de áreas de risco. As 320 famílias vizinhas vieram na mesma situação, de centros para desabrigados das chuvas.

Eles são, segundo números do governo da Venezuela, parte dos 272 mil beneficiários da Gran Misión Vivienda, espécie de versão custo zero (sem financiamentos) do programa Minha Casa, Minha Vida e a grande bandeira de Chávez para obter no domingo o terceiro mandato consecutivo de seis anos.

"Vou votar em Chávez, claro", continua Pinto, que, desempregado, montou uma pequena bodega na janela do condomínio para vender aos vizinhos, muitos também sem emprego.

"Espero que ele mude esses sanguessugas que tem em volta dele. Esses ministros, esses prefeitos não prestam."

Grande parte das casas e apartamentos da "missão" foi entregue nas chamadas "Quintas da Casa Própria", quando, na TV estatal, ministros e funcionários apresentam os condomínios e seus novos moradores.

ESPERANÇA

O programa gerou imensa esperança -mais de um terço do eleitorado diz estar na fila para receber a casa.

Foi um impulso para o governo quando os avanços sociais da década chavista -redução da pobreza de 49,4% para 27,8%, diminuição da desigualdade maior que a dos anos Lula no Brasil- pareciam ser ofuscados pela crise na gestão e pela violência.

"O grande desafio de Chávez para os próximos seis anos será melhorar a capacidade de administração: incluindo serviços públicos, sistema de Justiça, sistema regulatório e outras agências nacionais", diz o economista americano Mark Weisbrot, codiretor do Centro de Pesquisa Econômica.

Por todos os lados em Caracas há imponentes guindastes enfeitados com o "V" de Vivienda, vermelho. Empresas russas, espanholas, brasileiras, mas especialmente chinesas, dominam os canteiros de obras, num frenesi que fez a construção civil crescer 22% e o país todo 5,4% no semestre passado.

A ordem de Chávez foi ocupar terrenos ociosos do Estado em Caracas: da petroleira PDVSA na importante av. Libertador, em espaços ao lado do metrô, em uma área no principal complexo militar da capital, o Forte Tiúna.

"Dentro de Caracas cabe outra Caracas", repete o presidente, prometendo que cada venezuelano vai ter um lar digno em 2019.

Os programas sociais alimentam um jogral diário na campanha. "O candidato da burguesia vai manter a Gran Misión Vivienda?", lançou Chávez, considerado favorito na maioria das pesquisas.

"Nããão", respondeu a enorme multidão no Estado Portuguesa anteontem. "O governo diz que eu vou terminar com as missões. É mentira. O outro candidato só tem um discurso: o do medo", rebateu o candidato da oposição, Henrique Capriles.

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