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Mordomo acusa Vaticano de maus-tratos

Ao depor em seu julgamento sobre vazamento de cartas do papa, Paolo Gabriele diz que sofreu tortura psicológica

Gabriele negou furto de correspondência, que apontava 'corrupção e abuso' na igreja e foi publicada por jornalista

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Em depoimento durante seu julgamento no Vaticano, o ex-mordomo do papa Bento 16 Paolo Gabriele negou ter cometido furto qualificado e acusou a polícia da Santa Sé de maus-tratos no caso chamado de "Vatileaks".

Preso desde maio, Gabriele é acusado de roubar correspondência dos aposentos do papa e vazá-la para o jornalista Gianluigi Nuzzi, que divulgou as cartas -algumas, como a do ex-vice-governador do Vaticano Carlo Maria Vigano, falavam em "corrupção e abuso" na igreja.

Lançado no mesmo mês da prisão do mordomo, o livro de Nuzzi, "Sua Santità: Le Carte Segrete di Benedetto XVI" (Sua Santidade: as cartas secretas de Bento 16, em tradução livre), tornou-se um best-seller imediatamente.

Em agosto, veio à tona a acusação de que Gabriele teria furtado cheque de € 100 mil (R$ 261 mil) em nome de Bento 16, que fora doado ao papa por uma universidade católica espanhola.

No depoimento, o mordomo negou ter furtado o cheque e se disse inocente em relação ao furto qualificado: "Eu me sinto culpado de ter traído a confiança do Santo Padre, a quem eu amava como um filho [ama o pai]".

Ao ser interrogado em 5 de junho, Gabriele assumira ter vazado o conteúdo dos documentos para o jornalista -o que ele reafirmou- e disse ter feito isso sob a inspiração do Espírito Santo, para expor "o mal e a corrupção" na igreja.

No novo depoimento, porém, o mordomo alegou ter feito fotocópias dos documentos do papa, para entregá-las a Nuzzi, durante seu horário de trabalho e à vista de outros, no escritório que dividia com os dois secretários particulares de Bento 16.

Gabriele argumentou ainda que sua intenção ao revelar a correspondência secreta era defender o papa. "É fácil manipular pessoas que têm o poder de tomar decisões", disse no depoimento.

SUPOSTOS MAUS-TRATOS

Durante a audiência no tribunal, o advogado de Gabriele afirmou que a polícia do Vaticano manteve seu cliente isolado durante pelo menos 15 dias em uma cela tão estreita que não permitia que ele estendesse os braços.

Os policiais também foram acusados de tortura psicológica do mordomo, mantendo as luzes da cela acesas 24 horas por dia, e de não lhe dar um travesseiro para dormir na primeira noite na prisão.

O porta-voz da Santa Sé, Federico Lombardi, disse que Gabriele foi mantido em custódia "de acordo com padrões internacionais" e que as condições da prisão não feriram sua dignidade. O juiz do caso, Giuseppe Dalla Torre, ordenou que se investigassem os supostos maus-tratos.

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