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Mercenários eram até 40% da força líbia Ditador Gaddafi, morto no ano passado, tinha angolanos, sérvios e até americanos entre seus soldados de aluguel Conclusão é de um estudo do pesquisador brasileiro Fernando Bracoli, que entrevistou mercenários na Líbia RICARDO BONALUME NETOENVIADO ESPECIAL A ÁGUAS DE LINDÓIA Um jovem pesquisador brasileiro se aventurou em meio ao recente conflito na Líbia para obter dados para seu doutorado. E descobriu muita coisa. Por exemplo, que as forças do ditador Muammar Gaddafi, morto ano passado, eram compostas em altíssimo grau por mercenários: entre 30% e 40%, algo inédito em um Estado contemporâneo. Fernando Brancoli é doutorando em Relações Internacionais pelo Programa San Tiago Dantas, uma iniciativa conjunta de três universidades paulistas -Unicamp, Unesp e PUC-SP. Brancoli, fluente em árabe, esteve em Benghazi, em Trípoli e na fronteira com a Tunísia. Entrevistou mercenários, incluindo, curiosamente, dois angolanos. Pôde perceber que o líder líbio era eclético na hora de contratar soldados de aluguel: africanos de vários países ao sul do Saara, egípcios, sérvios, pessoal de países da Europa do leste, e mesmo uns raros americanos. Ele também teve acesso a um tesouro saqueado e levado para a Universidade George Washington, nos EUA: documentos pessoais do ditador, muitos deles discursos inéditos, incluindo vídeos, tirados do seu "bunker". "Baboseiras", resumiu Brancoli. O pesquisador falou ao 36º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), na semana passada em Águas de Lindóia (SP). Gaddafi falava muito da "época de ouro" do islã, o distante século 12, e comenta sobre a decadência islâmica posterior. Um tema recorrente é a criação de estruturas políticas e militares pelo Ocidente para supostamente prejudicar o islã. O líbio tinha concepções curiosas sobre política internacional. "O tratado de Westfália é o grande problema do Islã", pensava Gaddafi. CÃES DE GUERRA Trata-se de um conjunto de tratados assinados em 1648 que colocaram fim à Guerra dos Trinta Anos e que estão na base das relações internacionais modernas, estabelecendo princípios como a soberania do Estado-nação, e forças armadas nacionais. Talvez por isso ele fazia questão de empregar mercenários e zombava das convenções internacionais contra o emprego destes "cães de guerra". Uma maneira de evitar contestações é conferir nacionalidade ao mercenário. Gaddafi não fazia isso, segundo Brancoli. "Ao contratar não nacionais para compor suas Forças Armadas, o ditador líbio estaria ameaçando uma das estruturas basilares das relações internacionais, o monopólio estatal do uso da força", diz Brancoli. Os Estados Unidos eram altamente críticos disso; ironicamente, a necessidade de mais tropas fez com que surgissem empresas militares privadas americanas, como a Blackwater, empregadas em lugares como o Iraque e o Afeganistão. "Tais mercenários estabeleceram relações não-formais com os soldados regulares, formando um verdadeiro Exército híbrido, composto por estrangeiros contratados e cidadãos líbios. Apesar de juridicamente não estarem consagrados, há registros, inclusive, de soldados contratados comandando regimentos formais, com combatentes formais sendo liderados por um estrangeiro contratado", declarou o pesquisador. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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