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Cristina ajuda mídia amiga com anúncios do governo
Estado já se transformou no maior anunciante dos meios argentinos
Em alguns casos, verba oficial banca mais de 90% do custo dos jornais simpáticos à Casa Rosada
Às vésperas de ver concretizar-se a Lei de Mídia, sua mais dura ofensiva contra o grupo opositor Clarín, que considera um "monopólio", o governo da presidente Cristina Kirchner investe pesado na formação de sua própria rede de TVs abertas e fechadas, jornais, revistas e sites.
Segundo dados oficiais, o governo kirchnerista destina hoje 606 milhões de pesos em publicidade oficial para meios alinhados ao governo. Já segundo consultorias privadas, como a Monitor (Ibope), e pesquisas realizadas pelos jornais opositores, esse valor superou, em 2012, a marca de 1 bilhão de pesos.
Com isso, o governo já se tornou o maior anunciante da mídia argentina, arcando com mais de 90% do custo de alguns jornais impressos.
No caso das TVs abertas, o domínio alcança quase 80%.
De 2011 a 2012, houve um aumento considerável da verba destinada a subsidiar a mídia governista, destacando-se os casos do jornal "Tiempo Argentino" (105%), do empresário kirchnerista Sergio Spolszky, e do conglomerado televisivo Uno (266%).
Pertencente a aliados políticos de Cristina em Mendoza, o Uno foi o responsável por mover a ação que originou a invasão da sede da operadora de TV a cabo do Clarín, Cablevisión, em 2011.
O grupo é apontado por alguns analistas como forte candidato a comprar a parte do Clarín que terá de ser colocada à venda em 7 de dezembro, quando entra em vigor a Lei de Mídia.
Aprovada em 2009 com amplo apoio da oposição, a legislação tem como justificativa democratizar os meios de comunicação e evitar a formação de monopólios. O Clarín possui jornais, TV aberta e a cabo, provedor de internet e rádios.
"O kirchnerismo fez dos milhões da publicidade oficial uma ferramenta de doutrinação política, de prêmio aos meios que lhe são dóceis e de castigo com relação aos que tentam se manter independentes", diz Gustavo González, editor-executivo do "Perfil", também opositor.
O jornal ganhou recentemente uma batalha judicial contra o governo, obrigando-o a anunciar na publicação. A determinação ainda não foi cumprida. "Há meios nossos, como a revista 'Notícias' que nunca receberam propaganda oficial."
Já a jornalista Maria O'Donnell, autora de "Propaganda K - Uma Máquina de promoção com Dinheiro do Estado", diz que o investimento de Cristina nos meios é uma questão puramente política. "Em todo o mundo os jornais estão fechando, só aqui abrem. A única explicação é o governo por trás, com objetivos bem definidos de autopropaganda".
Além desse instrumento, o governo vem investindo também em seu departamento de mídia. Neste ano, o orçamento da Secretaria de Meios foi de 1,27 bilhão de pesos, o dobro do valor destinado ao departamento de Turismo e 10% a mais que o da indústria.
A Secretaria de Meios é diretamente ligada à chefia de Gabinete, comandada por Juan Manuel Abal Medina.
"É uma amostra evidente do aprofundamento dos traços mais autoritários deste governo. Outra expressão de intolerância à crítica e à realidade que não se acomode ao relato oficial", diz Martin Etchevers, porta-voz do grupo Clarín. A Folha tentou ouvir a Secretaria de Meios, mas não teve resposta.
O uruguaio Claudio Paolillo, presidente da Comissão de Liberdade de Imprensa da SIP (Sociedad Interamericana de Prensa), diz que o governo vem montando, com dinheiro público, "o maior aparato de propaganda desde os tempos de Perón".
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