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Transição chinesa

China debate expansão de 'poder suave' pela cultura

Governo chinês admite fracasso em ter presença cultural forte no mundo

País mantém 2.103 trupes artísticas; desde 2004, a China abriu 398 Institutos Confúcio para ensino da língua

FABIANO MAISONNAVE DE PEQUIM

Com presença cada vez maior no palco mundial, a China colocou como uma das prioridades de sua política externa o aumento do "soft power" ("poder suave") do país. Mas o fracasso em ter uma presença cultural forte se tornou um dos temas de debate do 18º Congresso do Partido Comunista, inaugurado na semana passada.

"A China tem um deficit cultural com o mundo; introduzimos muito menos cultura do que exportamos", admitiu ontem a vice-ministra da Cultura, Zhao Shaohua, em entrevista coletiva durante o Congresso. "Isso nos exige libertar nossas mentes e procurar novas formas de intercâmbio cultural, para que as pessoas no mundo saibam que a cultura chinesa tem mais de 5.000 anos."

A falta de um "poder suave" mais efetivo não ocorre por falta de investimentos. Segundo números divulgados ontem, o país tem acordos culturais com 146 países e mantém 2.103 trupes artísticas. Desde 2004, abriu 398 Institutos Confúcio (centros para ensino da língua e cultura mandarim) em 108 países, inclusive no Brasil.

A tendência é que esse esforço continue. No discurso da abertura do Congresso, na última quinta-feira, o líder máximo do país, Hu Jintao, defendeu a criação de um "poder suave cultural" mundial como uma das metas na política externa.

"A força e a competitividade internacional da cultura chinesa são um importante indicador do poder e da prosperidade da China", afirmou Hu, em seu último discurso como secretário-geral do partido. Nesta quinta, ele transfere o cargo para Xi Jinping (pronuncia-se "si jinping"), atual vice, que deve assumir o governo chinês em março.

'MADONNAS CHINESAS'

A falta de "Madonnas chinesas" tem sido fonte constante de discussão no país. Recentemente, a imprensa estatal publicou artigos e promoveu debates sobre por que o país não consegue produzir um fenômeno como o do sul-coreano Psy, sucesso mundial com a música "Gangnam Style", que debocha dos novos-ricos do país asiático.

Em artigo publicado na agência oficial Xinhua, o analista Peng Kan afirma que um dos problemas é que o esforço da China está concentrado principalmente em organizações estatais.

"Essas organizações estão sempre atentas em mostrar a antiga civilização da China e o atual desenvolvimento econômico e não podem promover sátiras como 'Gangnam Style' pelo canal oficial de comunicação. Mas produtos culturais sem entretenimento raramente se tornam populares no exterior."

Em seu livro "China Airborne" (China aerotransportada), publicado neste ano, o escritor americano James Fallows argumenta que o maior obstáculo ao "poder suave" chinês é a truculência em episódios como a nomeação do ativista Liu Xiaobo ao Nobel da Paz, em 2010.

Irritado, o governo congelou na época relações diplomáticas com a Noruega e emitiu dezenas de declarações com ameaças de retaliação a países e organizações que apoiassem a escolha.

Em linha semelhante, Johan Lagerkvist, do Instituto Sueco de Assuntos Internacionais, afirma que o problema é a prioridade. "A segurança interna, a estabilidade da China e a sobrevivência do Partido Comunista serão sempre mais importantes para os líderes chineses do que a imagem projetada para consumo externo."


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