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Cresce pressão por trégua no Oriente Médio
Secretário da ONU dialoga hoje com líderes de Egito, Israel e Autoridade Palestina; gabinete israelense discute cessar-fogo
Hamas diz que Israel blefa com ameaça de invasão e condiciona acordo a abertura de fronteiras de Gaza
Para fazer avançar um cessar-fogo entre Israel e o grupo islâmico Hamas e acabar com o banho de sangue que já deixou ao menos cem palestinos e três israelenses mortos, lideranças internacionais se reuniram ontem no Cairo, em Jerusalém e em Tel Aviv com representantes dos dois lados.
Com a escalada de violência e a iminência de uma invasão das forças israelenses a Gaza, cresceu a pressão em todo o mundo por um acordo que estabeleça o fim dos ataques, que começaram na última quarta-feira.
No centro das negociações está o Egito, que apresentou uma proposta para a trégua e para onde seguiu ontem o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.
Hoje, Ban se reúne com o presidente egípcio, Mohamed Mursi, e o líder da Liga Árabe, Nabil al Arabi. Depois segue para Israel e a Cisjordânia, onde conversará com o premiê Binyamin Netanyahu e o chefe da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas.
Na noite de ontem, os nove principais ministros israelenses se reuniram em Jerusalém para discutir as propostas do Egito para um cessar-fogo.
Mais cedo, o presidente israelense, Shimon Peres, havia elogiado a mediação egípcia e, segundo o "Haaretz", Netanyahu rejeitou uma proposta de cessar-fogo da França e do Qatar. Um alto funcionário do governo de Israel afirmou ao "Jerusalem Post" que o país suspenderá planos de invasão enquanto o cessar-fogo for negociado.
Do lado palestino, o Hamas tentava passar a imagem de que é o seu momento de impor condições, apesar dos intensos bombardeios de Israel e da execução de seu comandante militar, Ahmed Jabari, na última semana.
Em uma coletiva no Cairo, o líder do Hamas Khaled Meshaal sugeriu que a mobilização de tropas israelenses na fronteira com Gaza é um "blefe" e que Israel "pediu" um cessar-fogo por saber que seus soldados não resistiriam a uma ofensiva por terra.
Israel já autorizou a convocação de até 75 mil militares reservistas e mobilizou cerca de metade deles até agora.
Em Gaza, numa rara aparição pública de um dirigente do Hamas, o ministro da Religião, Ismail Radwan, disse à Folha que uma trégua só será aceita se Israel se comprometer a abrir as fronteiras de Gaza e suspender execuções.
"A situação mudou", disse ele, em referência ao apoio que o grupo recebe do Egito desde que a Irmandade Muçulmana venceu as eleições no país. "As nossas condições também mudaram."
A linha-dura tem o apoio de muitos moradores de Gaza. "Não podemos aceitar uma trégua enquanto Israel continuar nos bombardeando de forma criminosa. É uma questão de honra", diz o desempregado Zakaria Dalou, 30, parente dos dez mortos de uma mesma família num ataque no domingo.
Por trás da aparente unanimidade, porém, há quem ouse desafinar o coro. No meio das buscas por sobreviventes nas ruínas da casa da família Dalou, um jovem puxou o repórter da Folha para um canto e sussurrou: "Não acredite no que dizem. A casa era usada pelo Hamas. As pessoas têm medo de falar, não esqueça que Gaza é uma ditadura".
O presidente Barack Obama telefonou para Mursi destacando a necessidade de que o "Hamas ponha fim aos disparos de foguetes".
Já a Rússia acusou ontem os EUA de bloquearem sua tentativa de aprovar resolução no Conselho de Segurança condenando a violência.