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Protesto ameaça palácio de líder egípcio
Diante da sede do governo no Cairo, cerca de 10 mil manifestantes pedem saída do presidente Mursi, que deixou prédio
Manifestação é parte de atos contra superpoder presidencial; jornais independentes, em protesto, não circulam
Um protesto que reuniu cerca de 10 mil pessoas no Cairo obrigou o presidente do Egito, Mohamed Mursi, a deixar o palácio do governo por razões de segurança. A manifestação foi contida pela polícia com gás lacrimogêneo, e o conflito terminou com pelo menos 18 pessoas feridas.
Os manifestantes protestavam contra o que consideram autoritarismo de Mursi e contra a aprovação-relâmpago de um projeto de Constituição por uma assembleia dominada por islamitas. A nova Carta egípcia será submetida a referendo no próximo dia 15.
No fim do mês passado, Mursi editou decretos que lhe dão superpoderes -principalmente o de não ter suas decisões sujeitas a contestação pelo Judiciário até que o novo texto constitucional vigore, o que causou a eclosão de protestos por todo o país.
Na manifestação de ontem, descrita pelos grupos oposicionistas que a organizaram como um "último aviso" ao presidente, os participantes gritavam palavras de ordem pedindo a saída de Mursi e agitavam faixas com dizeres como "não à Constituição".
Alguns dos manifestantes romperam o cordão de isolamento feito pelos policiais e escalaram os muros do palácio presidencial. Em dado momento, um grupo deles subiu em um veículo blindado da polícia e agitou bandeiras.
Segundo a agência Reuters, duas fontes no governo confirmaram que o presidente deixou o palácio durante os distúrbios. Algumas centenas de pessoas dirigiram-se à casa de Mursi, na região leste da capital egípcia, para protestar, mas foram barradas por um bloqueio policial.
O ato teve o objetivo de alertar Mursi, disse o ativista Abdelrahman Mansour. "Ele vê a oposição como fraca e inofensiva. Hoje [ontem], nós mostramos que é uma força com a qual ele terá de lidar".
PROTESTO DE JORNAIS
Os principais jornais independentes do Egito (não ligados ao Estado) deixaram de circular ontem, excepcionalmente, em ato de repúdio contra o que chamam de "ditadura" do presidente ligado à Irmandade Muçulmana.
Para aliados de Mursi, porém, a situação ficará mais tranquila assim que se fizer o referendo constitucional.
"A crise que vivemos há duas semanas está perto de acabar, se Deus quiser", disse Saad al Katatni, líder do partido da Irmandade (Liberdade e Justiça). Em entrevista à CNN, o primeiro-ministro Hisham Kandil disse que o projeto da Carta "não é de modo algum perfeito", mas tem o respaldo da maioria.