Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Análise
Ganha força proposta de uma intervenção no conflito sírio
GIDEON RACHMAN DO “FINANCIAL TIMES”Os chamados para que "algo seja feito" em relação à Síria estão ganhando força nos EUA e na Europa, tanto que dentro em pouco é possível que sejam ouvidos.
O primeiro passo seria suprir a oposição síria de armas. O segundo, estudado ativamente, seria a criação de uma zona de exclusão aérea.
Cerca de 40 mil pessoas já morreram num conflito que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, diz estar alcançando "níveis de brutalidade inusitados e medonhos".
Alguns dias atrás o regime de Assad bombardeou um hospital em Aleppo, causando muitas mortes. Mesmo assim, há perguntas chaves que precisam ser respondidas antes de o Ocidente ajudar os rebeldes com armas ou ataques aéreos. Antes de mais nada, uma intervenção acabaria com o conflito? Ou simplesmente faria a guerra ingressar numa fase nova, na qual americanos e europeus teriam envolvimento direto?
O maior argumento contra uma intervenção ainda é que suas consequências seriam incalculáveis. Mesmo que um bombardeio ocidental provocasse o fim do regime de Assad, ninguém sabe que combinação de forças assumiria o poder na Síria -ou se as forças continuariam a combater, disputando o país.
O risco é que uma campanha aérea ocidental não ponha fim aos combates na Síria, mas apenas mude os rumos do conflito. Para impedir que isso acontecesse, o Ocidente poderia então sentir-se compelido a mandar uma grande "força de estabilização" à Síria.
Mas qualquer discussão desse tipo imediatamente traz à tona os espectros do Iraque e Afeganistão.
Essas hesitações e objeções provocam a indignação dos intervencionistas. "Já estamos nos dirigindo para um Estado falido, com partes do país controladas por milícias jihadistas. O que poderia ser pior que isso?", indaga um partidário da intervenção. Um funcionário dos EUA responde: "Quem afirma que uma intervenção ocidental não seria capaz de agravar as coisas na Síria sofre de falta de imaginação". É uma reação que revela muito. Mas talvez não seja a visão dominante para sempre.