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Análise
Após fracasso humilhante de abril, ditador Kim Jong-un sai fortalecido
JUSTIN MCCURRY DO “GUARDIAN”, EM TÓQUIOOito meses atrás o líder norte-coreano então recém-chegado ao poder, Kim Jong-un, assistiu ao fracasso humilhante do lançamento de um foguete de longo alcance que comemoraria o centenário de seu avô e fundador da Coreia do Norte, Kim Il-sung.
O foguete se desintegrou minutos depois de lançado, confirmando que a realidade da perícia técnica do regime não correspondia à retórica.
Mas, após o lançamento aparentemente bem-sucedido de um satélite de observação meteorológica, o líder ajudou em muito a reforçar sua legitimidade em casa e deixar para trás a humilhação da primavera passada.
A mídia estatal norte-coreana atribuiu o lançamento de ontem -quase um ano após a morte do pai de Kim, Kim Jong-il- às realizações das três gerações de líderes.
Hóspedes e funcionários de hotéis em Pyongyang teriam aplaudido vigorosamente quando a notícia foi anunciada na televisão, enquanto veículos com alto-falantes informavam as pessoas nas ruas.
A Coreia do Norte conseguiu frustrar as previsões de especialistas convencidos de que um problema técnico e o mau tempo adiariam o evento. Como bônus, o lançamento desencadeou uma discussão entre os dois candidatos principais na eleição presidencial sul-coreana marcada para a próxima semana.
A deputada americana Ileana Ros-Lehtinen, que preside o comitê de relações exteriores da Câmara, comentou: "A ilusão de que Kim Jong-un seria uma figura menos implacável ou afeita a provocações que seu pai e avô se desfez como fumaça na plataforma de lançamento do míssil".
John Delury, da Universidade Yonsei, em Seul, sugeriu que a Coreia do Norte sentiu que não tinha outra escolha senão levar adiante o lançamento mais recente, após a humilhação de abril.
"Acho que a legitimidade doméstica é a maior prioridade aqui", afirmou Delury.
O lançamento de ontem, o maior golpe de mestre do regime ainda nascente de Kim Jong-un, está longe de alcançar a meta de seu pai de declarar a Coreia do Norte "uma nação forte e próspera".
Estima-se que um terço da população seja subnutrida, e a renda per capita anual não chega a US$ 2.000 (R$ 4.200).