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Tensão no Egito leva a corrida bancária
Governo limita remessa de dinheiro no mesmo dia em que foi confirmada aprovação de uma nova Constituição
Objetivo é evitar fuga de recursos em meio à desconfiança de investidores em relação ao futuro do país
Khalil Hamra/Associated Press | ||
Vendedor de castanhas no Cairo ao lado de uma casa de câmbio; procura por dólares foi grande na capital do Egito ontem |
Com a economia fragilizada pela instabilidade política, o Egito proibiu ontem que viajantes entrem ou saiam do país transportando em moeda estrangeira o equivalente a mais de US$ 10 mil (cerca de R$ 20 mil). Também foi vetado o envio por correio de quantias acima desse limite.
A medida foi tomada após a população ter iniciado uma corrida aos bancos, em meio a temores sobre a saúde financeira do governo e a apostas de que a libra egípcia irá se desvalorizar mais com o cenário político incerto.
O movimento se intensificou nos últimos dias quando ficou claro, com base em apuração informal, que a nova Constituição, de forte inspiração islâmica, tinha sido aprovada em referendo.
Ontem, foi anunciado oficialmente que a Carta recebeu 63,8% dos votos.
O texto é alvo de críticas por manter a referência à sharia (lei islâmica) e por não dar garantias suficientes aos direitos das mulheres e à liberdade religiosa, entre outros.
Nas últimas semanas, a polêmica em torno da Constituição deteriorou a situação política no país, levando milhares de apoiadores e opositores do presidente Mohamed Mursi às ruas e dificultando a recuperação da economia.
O Egito tem PIB de cerca de US$ 230 bilhões, um dos maiores do Oriente Médio.
Desde a queda do ditador Hosni Mubarak, em fevereiro de 2011, o governo gastou cerca de US$ 20 bilhões de suas reservas internacionais para segurar a cotação da libra egípcia, impactada pela queda dos investimentos estrangeiros e pela redução do número de turistas. O deficit público também cresceu.
A crise atual ainda levou Mursi a adiar um pacote de ajuda do FMI no valor de
US$ 4,8 bilhões, que exigiria a adoção de medidas impopulares de austeridade.
Tudo isso elevou a desconfiança dos investidores e serviu como combustível para a corrida bancária no país, alimentada ainda por queixas de pouca transparência.
Anteontem, a agência de classificação de risco Standard & Poors reduziu a nota de crédito do país para B-.
"Ouvi que o banco central vai congelar os depósitos bancários para pagar os servidores", diz Ayman Osama, que sacou o equivalente a R$ 32 mil de sua conta bancária e planejava novos resgates.
Com as economias em mãos, muitos egípcios tentaram comprar dólares, mas tiveram dificuldade de encontrar a moeda no mercado.
Para tentar conter o que chamou de "rumores", o banco central disse que iria tomar todas as medidas necessárias para garantir os depósitos bancários.