São Paulo, terça-feira, 01 de julho de 2008

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Bush libera verba para desestabilizar Teerã, diz revista

Operações focam plano nuclear e financiamento da oposição, mas incluem ações em território iraniano; Israel considera ataque

DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK

Reportagem da última edição da revista "New Yorker" revelou uma suposta ordem assinada em 2007 pelo presidente americano George W. Bush para liberar US$ 400 milhões para intensificar ações contra o Irã, inclusive dentro do território iraniano, a fim de desestabilizar o regime dos aiatolás.
Intitulado "Preparando o campo de batalha", o texto do veterano repórter Seymour Hersh diz que o dinheiro seria usado para abastecer grupos de oposição e separatistas e também para obter informações sobre o programa nuclear iraniano. Teerã diz que a finalidade de seu projeto nuclear é produzir energia, mas Israel e EUA acreditam que o intuito seja ter uma bomba.
As operações -que avançariam no território iraniano para seqüestrar membros da elite da Guarda Revolucionária, posteriormente interrogados no sul do Iraque- não são uma novidade, lembra Hersh. "Mas seu escopo e escala foram ampliados significativamente" e incluem a CIA (agência de inteligência) e o Comando Conjunto de Operações Especiais, diz.
A porta-voz da Casa Branca, Dana Perino, disse que não poderia negar ou confirmar as informações. Ryan C. Crocker, embaixador dos EUA no Iraque, declarou à CNN que "as forças americanas não estão operando além da fronteira do Iraque com o Irã".
Congressistas da situação e da oposição democrata, informados sobre o parecer presidencial, dividem-se sobre o que fazer -haveria dissonâncias dentro do próprio governo Bush, com o secretário da Defesa, Robert Gates, se opondo a um eventual ataque, diz Hersh.
O aumento das ações e a liberação de mais verba ocorrem em um momento em que Israel tem subido o tom contra o vizinho persa, temendo que ele também passe a ter um arsenal nuclear -o que mudaria o equilíbrio de forças na região.
No domingo, o jornal inglês "The Guardian" publicou que Israel considera atacar o Irã antes do fim do mandato de Bush, em janeiro de 2009. O cálculo é que, se o democrata Barack Obama vencer as eleições americanas, a Casa Branca poderá trazer Teerã à mesa de negociação, derrubando parte dos argumentos para uma ação militar. Sem aval dos EUA, dificilmente ocorreria um ataque.
O jornal diz que Aviam Sela, arquiteto da operação de 1981 na qual Israel destruiu o reator nuclear iraquiano de Osirak, teve um encontro secreto com o premiê israelense, Ehud Olmert, no início de junho, para discutir ação similar no Irã.
Há duas semanas, o "New York Times" havia revelado uma simulação do Exército de Israel sobre o Mediterrâneo, com centenas de caças-bombardeiros e helicópteros de resgate. A distância do alvo era de 1.450 km, a mesma entre as bases israelenses e a usina de Natanz, onde o Irã enrique urânio.
Israel, na ocasião, não confirmou a informação, mas disse que costuma fazer simulações para se defender de ameaças.
Especialistas divergem sobre o interesse dos EUA em um ataque ao Irã. Para Daniel Levy, da Fundação Century, de Washington, o momento é desfavorável. "Pode ser verdade que Israel tenha pressa em atacar o Irã enquanto Bush é o presidente. Mas para os EUA poderia ser devastador o aumento de instabilidade no Oriente Médio no momento em que a gasolina bate recordes de preço. Além disso, o país já comprometeu muito suas tropas no Iraque", disse Levy à Folha.


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