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Bush libera verba para desestabilizar Teerã, diz revista
Operações focam plano nuclear e financiamento da oposição, mas incluem ações em território iraniano; Israel considera ataque
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
Reportagem da última edição
da revista "New Yorker" revelou uma suposta ordem assinada em 2007 pelo presidente
americano George W. Bush para liberar US$ 400 milhões para intensificar ações contra o
Irã, inclusive dentro do território iraniano, a fim de desestabilizar o regime dos aiatolás.
Intitulado "Preparando o
campo de batalha", o texto do
veterano repórter Seymour
Hersh diz que o dinheiro seria
usado para abastecer grupos de
oposição e separatistas e também para obter informações
sobre o programa nuclear iraniano. Teerã diz que a finalidade de seu projeto nuclear é produzir energia, mas Israel e EUA
acreditam que o intuito seja ter
uma bomba.
As operações -que avançariam no território iraniano para seqüestrar membros da elite
da Guarda Revolucionária, posteriormente interrogados no
sul do Iraque- não são uma novidade, lembra Hersh. "Mas seu
escopo e escala foram ampliados significativamente" e incluem a CIA (agência de inteligência) e o Comando Conjunto
de Operações Especiais, diz.
A porta-voz da Casa Branca,
Dana Perino, disse que não poderia negar ou confirmar as informações. Ryan C. Crocker,
embaixador dos EUA no Iraque, declarou à CNN que "as
forças americanas não estão
operando além da fronteira do
Iraque com o Irã".
Congressistas da situação e
da oposição democrata, informados sobre o parecer presidencial, dividem-se sobre o que
fazer -haveria dissonâncias
dentro do próprio governo
Bush, com o secretário da Defesa, Robert Gates, se opondo a
um eventual ataque, diz Hersh.
O aumento das ações e a liberação de mais verba ocorrem
em um momento em que Israel
tem subido o tom contra o vizinho persa, temendo que ele
também passe a ter um arsenal
nuclear -o que mudaria o equilíbrio de forças na região.
No domingo, o jornal inglês
"The Guardian" publicou que
Israel considera atacar o Irã antes do fim do mandato de Bush,
em janeiro de 2009. O cálculo é
que, se o democrata Barack
Obama vencer as eleições americanas, a Casa Branca poderá
trazer Teerã à mesa de negociação, derrubando parte dos argumentos para uma ação militar. Sem aval dos EUA, dificilmente ocorreria um ataque.
O jornal diz que Aviam Sela,
arquiteto da operação de 1981
na qual Israel destruiu o reator
nuclear iraquiano de Osirak, teve um encontro secreto com o
premiê israelense, Ehud Olmert, no início de junho, para
discutir ação similar no Irã.
Há duas semanas, o "New
York Times" havia revelado
uma simulação do Exército de
Israel sobre o Mediterrâneo,
com centenas de caças-bombardeiros e helicópteros de resgate. A distância do alvo era de
1.450 km, a mesma entre as bases israelenses e a usina de Natanz, onde o Irã enrique urânio.
Israel, na ocasião, não confirmou a informação, mas disse
que costuma fazer simulações
para se defender de ameaças.
Especialistas divergem sobre
o interesse dos EUA em um
ataque ao Irã. Para Daniel Levy,
da Fundação Century, de Washington, o momento é desfavorável. "Pode ser verdade que Israel tenha pressa em atacar o
Irã enquanto Bush é o presidente. Mas para os EUA poderia ser devastador o aumento
de instabilidade no Oriente
Médio no momento em que a
gasolina bate recordes de preço. Além disso, o país já comprometeu muito suas tropas no
Iraque", disse Levy à Folha.
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