|
Próximo Texto | Índice
A EUROPA DOS 25
Líderes e populações comemoram a expansão da UE, que passou a integrar países que fizeram parte do antigo bloco soviético
Europa unida sepulta divisão do pós-guerra
MÁRCIO SENNE DE MORAES
ENVIADO ESPECIAL A VARSÓVIA
Líderes europeus e centenas de
milhares de pessoas celebraram
ontem no leste e no oeste da Europa a entrada de dez novos membros na União Européia, levando
para 25 o total dos membros do
bloco e enterrando de vez a divisão da Guerra Fria entre comunistas a leste e capitalistas a oeste surgida no final da Segunda Guerra
Mundial (1939-45).
A adesão da Polônia (maior dos
novos países da UE) foi vista como a concretização de um sonho
de meio século. "Trata-se da realização de um sonho que, durante
décadas, não acreditei que pudéssemos atingir. Estou quase chorando de tanta emoção e sinto
muito que meus pais não estejam
aqui para viver este momento histórico", afirmou o presidente da
Polônia, Aleksander Kwasniewski, em conversa com a Folha concedida após o término da cerimônia oficial, na madrugada de ontem, realizada na praça Pilsudskiego -ao lado do túmulo do soldado desconhecido.
Cenas de júbilo marcaram as
festas ontem de norte a sul, de leste a oeste do continente.
Em Dublin, capital da Irlanda,
país que preside atualmente a UE,
chefes de Estado e de governo dos
novos e velhos membros do bloco
se reuniram no primeiro encontro de cúpula da união expandida.
"O Primeiro de Maio é um dia
de esperança e oportunidade",
disse o premiê irlandês, Bertie
Ahern. "Aos povos europeus que
estão se juntando a nós hoje, estendo minha mão de amizade...
centenas, milhares de boas vindas", disse Ahern.
Na fronteira comum entre Alemanha, República Tcheca e Polônia, líderes dos três países celebraram o momento histórico antes
de rumarem a Dublin. "A divisão
do continente e a separação de
seus cidadãos finalmente acabou", disse o chanceler (premiê)
alemão, Gerhard Schröder.
"Os povos da Europa Central e
Oriental são novamente parte da
família européia", acrescentou.
Polônia
Mas em Varsóvia, até entre os
entusiastas da UE houve vozes de
descontentamento. "Fomos obrigados a atravessar mais de 40
anos de jugo soviético para chegar
até aqui. Contudo é uma vergonha que um momento tão belo seja protagonizado pelos atuais políticos poloneses, que, em grande
parte, participaram do regime
que apoiava Moscou", afirmou
Jerzy, 65, que não quis revelar seu
sobrenome.
O presidente Kwasniewski foi
ministro dos Esportes durante o
regime comunista polonês, e o
premiê Leszek Miller fazia parte
do comitê central do partido.
Logo após o final dessa cerimônia oficial, as atenções do público
foram transferidas para a praça situada em frente ao Castelo Real,
onde foi realizado um evento em
que se apresentaram músicos,
cantores e dançarinos dos dez novos países da UE. Ao lado do palco, as pessoas podiam observar,
num enorme telão, o que ocorria
simultaneamente em Berlim, capital alemã, onde houve um espetáculo similar.
Na praça do Castelo, o número
de presentes foi bem mais elevado, cerca de 30 mil pessoas, e o
ambiente foi menos formal e mais
popular. Ainda assim, pequenos
grupos de manifestantes antiglobalização tentaram se fazer ouvir,
porém não tiveram sucesso.
Na manhã de ontem, vários políticos dos países da UE participaram de um "café da manhã europeu", que foi organizado pela
Fundação Robert Schuman. Este
foi um dos responsáveis pela criação do bloco quando era chanceler francês, na década de 50.
"É claro que vivo um momento
de sonho, pois lutei com todas as
minhas forças para chegar aqui.
Todavia devemos lembrar que é
muito mais fácil lutar contra um
regime que detestamos do que
conseguir consolidar um que
apoiamos", salientou Bronislaw
Geremek, ex-chanceler polonês
(1997-2000) e um dos arquitetos
da adesão do país à UE.
O deputado francês François
Bayrou (centro-direita) também
expressou contentamento. "Sempre militei pela expansão da UE e
fiz questão de vir à Polônia para
demonstrar minha alegria com a
entrada desse grande país no bloco europeu."
Com agências internacionais
Próximo Texto: UE deve incluir cristianismo na Constituição Índice
|