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SUCESSÃO NOS EUA / CRISTÃOS NA MIRA
Obama promete manter verba de Bush a religiosos
Iniciativa visa conquistar o eleitorado evangélico, fiel ao atual presidente, mas pouco entusiasmado com McCain
Para críticos da idéia, grupos podem usar critérios morais para limitar beneficiários; democrata ressalta crer em Igreja e Estado separados
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
Tendo como principal alvo os
cristãos evangélicos, que são
quase um quarto dos americanos adultos e ajudaram a selar
as duas vitórias do republicano
George W. Bush, o democrata
Barack Obama declarou em
discurso ontem que, se eleito
presidente, ampliará um programa de repasse de verbas federais para grupos de caridade
ligados a igrejas e templos.
Lançado pelo governo Bush,
o projeto é chamado de Escritório de Iniciativas Comunitárias e Baseadas na Fé (FBCI, na
sigla em inglês) e distribui dinheiro para grupos comunitários ligados a religiões diversas.
Cercado de polêmicas, tem
como principal crítica a possibilidade de que os grupos repassem a ajuda tendo como critério não a necessidade dos cidadãos, mas o alinhamento
com a fé da instituição que provê o apoio. Também teme-se
que o dinheiro seja usado para
proselitismo.
Em discurso em Zanesville,
Ohio (Estado crucial para a
eleição de 4 de novembro),
Obama tentou desconstruir a
rejeição ao projeto. "Como alguém que lecionava direito
constitucional, acredito profundamente na separação de
Igreja e Estado, mas não creio
que essa parceria coloque essa
idéia em risco -desde que sigamos alguns princípios básicos",
declarou o candidato. "Primeiro, se você consegue uma verba
federal, você não pode usar esse
dinheiro para tentar converter
as pessoas que ajuda e não pode
discriminá-las -nem quem você contrata- com base em sua
religião", disse.
"Em segundo lugar, dólares
federais que vão direto para
igrejas, templos e mesquitas
podem ser usados apenas para
programas não-religiosos. E
nós também nos certificaremos de que o dinheiro do contribuinte vá apenas para programas que funcionam."
Eficácia restrita
"O cortejo aos evangélicos é
um ponto obrigatório para
qualquer campanha, mas não
creio que Obama espere com
isso conquistar a maioria desse
grupo. Ele só quer conseguir
tantos votos quanto possível,
assim como [o candidato republicano] John McCain está batalhando por mais votos latinos", disse à Folha Thomas
Patterson, analista político da
Universidade Harvard.
Para Patterson, é equivocada
a idéia de que a direita cristã,
que votou em massa em Bush
em 2000 e 2004, abandone
McCain nas urnas -o candidato da situação ainda tenta convencer o eleitorado republicano de que é suficientemente
conservador.
"Os americanos evangélicos
confiam menos em McCain do
que em Bush, que é muito mais
conservador, mas não é por isso que vão votar em Obama.
McCain tem a credencial de ser
antiaborto, que é o ponto que
realmente importa para conseguir o voto religioso. Ele tem o
ponto negativo de ser mais flexível sobre o casamento gay,
mas esse é um assunto menor,
e Obama é ainda mais liberal
na questão", diz Patterson.
Para o analista, contudo, a
estratégia de Obama pode surtir efeito. "É uma tática inteligente. Já que Obama não pode
conquistar esses votos ideologicamente, ele tenta fazer isso
por meio de um projeto de
ações práticas, que envolve dinheiro. Pode ter impacto."
Após o discurso sobre patriotismo da véspera, foi mais um
sinal de Obama de que caminha politicamente em direção
ao centro, na busca pelo voto
dos eleitores independentes.
Além de conquistar a simpatia
dos cidadãos que não têm preferência partidária clara, Obama e McCain tentam mobilizá-los para ir às urnas, já que o voto nos EUA não é obrigatório.
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