São Paulo, domingo, 03 de agosto de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / TETO ELEITORAL

Favorito, Obama não deslancha

Candidato democrata não consegue superar a barreira dos 50% na disputa contra John McCain
Analistas afirmam que questão racial e tendência a polarizar opiniões são obstáculos a crescimento de opositor nas pesquisas

SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON

A quase três meses das eleições e considerado o favorito na corrida pela Presidência dos EUA, Barack Obama não consegue ultrapassar a barreira dos 50% nas pesquisas nacionais de intenção de voto. Mais: segundo os mesmos levantamentos, apesar de ligeiramente à frente, o senador democrata não consegue se afastar da margem do empate técnico em sua vantagem sobre o oponente republicano, John McCain.
Analistas coçam a cabeça em busca do motivo para a demora em romper esse teto, e muitos se questionam se isso de fato vai acontecer até o dia das eleições, em 4 de novembro. A persistir a situação, os americanos irão às urnas naquele dia sem um franco favorito na corrida, e grupos minoritários como os moderados de cada partido, os indecisos e os independentes ganharão importância extra.
Segundo pesquisa nacional feita na semana passada pelo renomado Pew Research Center, Obama bate seu oponente republicano por 47% a 42%. Em pesquisa idêntica do mês anterior, os índices eram respectivamente 48% a 40%. No meio do caminho, houve a amplamente divulgada viagem do democrata à Europa e ao Oriente Médio.
A média atual de pesquisas aponta a mesma tendência, segundo o site agregador RealClearPolitics: 46,5% a 43,9%.
Embora as eleições norte-americanas sejam decididas Estado a Estado, que apontam delegados que votam num colégio eleitoral de acordo com o resultado das urnas, os levantamentos nacionais apontam uma tendência que ajuda a decifrar o estado de espírito do eleitor. "Confunde o fato de Obama não ter rompido ainda a barreira dos 50% nas pesquisas nacionais", disse à Folha o analista político Timothy Carney.

Questão racial
Para o autor conservador do livro "The Big Ripoff" (O Grande Golpe, 2006, John Wiley & Sons), que critica a presença excessiva do Estado na economia, os números "sugerem que muitos independentes e democratas estão preocupados com sua juventude e inexperiência". Ele levanta outra questão: "Ser negro provavelmente o está prejudicando".
A questão racial voltou ao centro do debate político na última semana. Ao reagir a anúncio negativo de McCain em que seu status de celebridade é comparado ao de Britney Spears e Paris Hilton, e sua experiência, questionada, Obama, que faz 47 anos amanhã, reagiu . A campanha tentava assustar seus eleitores, afirmou o democrata, porque ele não se parece "com todos aqueles presidentes nas notas de dólar".
Apesar de 68% dos eleitores terem dito que o país está pronto para um presidente negro, em pesquisa encomendada pela CBS News em junho, 22% dos brancos disseram que a raça do candidato será levada em conta quando eles forem às urnas em novembro. "Para mim, essa ainda é uma questão em aberto, embora eu ache que o país esteja na direção correta", disse Michael Fauntroy, professor de direitos civis da Universidade George Mason, na Virgínia.
É o que os especialistas chamam de "racista no armário", pessoas que declaram uma opinião nas pesquisas mas agem de outra forma no anonimato da hora de votar. De acordo com levantamento do analista político Michael Barone, políticos negros representam 38 distritos no Congresso norte-americano hoje, ou 9% do total, e cerca de 600 cadeiras em legislativos estaduais, ou 8% do total -a população negra norte-americana bate nos 12%.
A discrepância maior, segundo o autor do principal almanaque político dos EUA, aparece quando se leva em conta o total de eleições para o Senado federal e para os 50 governos estaduais realizadas desde a Lei do Direito ao Voto de 1965: foram 722 corridas no primeiro e 579 no segundo; os eleitos negros são apenas quatro -incluindo Barack Obama, em 2004.

Amor e ódio
Outra questão que estaria barrando a ascensão de Obama é o chamado "fator amor-ódio". O sentimento foi detectado por uma pesquisa feita a pedido da emissora NBC e do diário econômico "Wall Street Journal". Um em cada quatro eleitores tem fortes sentimentos positivos em relação a Obama -mesma proporção dos que têm forte sentimento negativo. Esses índices são perto de um em dez em ambos os sentidos para John McCain.
É como se as pessoas não ligassem muito para o republicano, mas se importassem além da conta com o democrata, disse Neil Newhouse, que conduziu parte da pesquisa.


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