São Paulo, quarta-feira, 03 de setembro de 2008

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SUCESSÃO NOS EUA / POLÍTICA DO MEDO

"Só McCain pode proteger os EUA", diz Bush

Remarcado, discurso via satélite do presidente na Convenção Republicana evoca o 11 de Setembro e perigos do mundo

Senador Joe Lieberman, o ex-democrata que rompeu com partido, assume a tarefa de atacar Barack Obama por inexperiência


FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A ST. PAUL

O presidente dos EUA, George W. Bush, fez ontem um discurso bem ao seu estilo belicista para defender John McCain como candidato republicano à Casa Branca.
"Vivemos num mundo perigoso. Precisamos de um presidente que entenda as lições do 11 de Setembro: que para proteger a América precisamos estar na ofensiva, deter os ataques antes que eles ocorram, e não esperar para sermos atacados novamente. O homem de quem precisamos é John McCain", disse Bush à noite em depoimento transmitido via satélite de Washington para St. Paul, Minnesota, onde ocorre a Convenção Republicana.
A aparição de Bush estava programada para anteontem, mas a incerteza sobre os danos do furacão Gustav no sul do país fizeram os republicanos suspenderem todas as atividades de cunho político. Só ontem de manhã o discurso do presidente foi confirmado -mas sem sua presença física.
Foi um certo revés para McCain, pois a desaprovação a Bush está na casa dos 70%. O cancelamento do discurso presidencial anteontem havia sido discretamente festejado por parte do partido, embora o público interno goste do tom de Bush -ele foi interrompido por aplausos 14 vezes. Mas o problema dos republicanos é alargar o eleitorado de McCain.
Bush só falou porque o furacão Gustav arrefeceu e a convenção voltou ao normal ontem. Em sua fala, de menos de oito minutos, ele lembrou da atuação de McCain no Senado, para garantir fundos militares para as tropas no Iraque. "Alguns disseram a ele [McCain] que sua defesa por mais soldados [no Iraque] colocaria sua campanha em risco. Ele respondeu que preferiria perder uma eleição a ver seu país perder uma guerra", afirmou Bush. "É o tipo de coragem e visão que precisamos em nosso próximo comandante-em-chefe."

O atacante
Além de Bush, a legenda escalou oradores para reforçar o perfil nacionalista de McCain e sua suposta superioridade gerencial sobre o adversário democrata, Barack Obama. Os dois principais foram Fred Thompson e Joe Lieberman.
Thompson é um ex-senador pelo Tennessee e famoso por seu trabalho como ator de séries de TV. Tentou disputar a indicação republicana, mas desistiu no meio do caminho. Em sua fala, trataria da coragem de McCain quando a serviço dos EUA. "Ele já esteve oito vezes no Iraque desde 2003. Foi buscando a verdade, não publicidade", disse o político.
O último orador foi o simbólico Joe Lieberman, senador por Connecticut. Sua escolha ocorreu a dedo para atrair eleitores mais progressistas. Em 2000, Lieberman foi candidato a vice na chapa do democrata Al Gore. Depois, deixou o partido e se tornou um independente. Não por acaso, o título do discurso de Lieberman era "The Original Maverick: John McCain" (O político independente original: John McCain). O termo "maverick" é uma expressão que nos EUA designa pessoas de comportamento independente, como se fossem "animais desgarrados".
"O povo americano não se importa muito se você tem um "R" [republicano] ou um "D" [democrata] depois de seu nome. O que lhe interessa é: nós estamos solucionando os problemas do dia-a-dia?", disse Lieberman. Sua fala lembrou a de alguns políticos brasileiros defendendo o fim da fidelidade partidária em Brasília. A intenção é atrair democratas "desgarrados" para McCain.
Coube a Lierberman a tarefa de atacar o também senador Barack Obama, o rival democrata. "A eloqüência não é um substituto para realizações", disse Lieberman, que criticou a pouca experiência de Obama e pediu para McCain os votos de "democratas Clinton" (referência ao ex-presidente) e de independentes. "Votem na pessoa, e não no partido. Votem no líder que sempre colocou a América primeiro."
Os discursos da noite foram pontuados por vídeos enaltecendo exemplos de americanos que colocaram "o país em primeiro lugar" e lutaram em guerras. Pelo menos um vídeo foi narrado pelo ator Robert Duvall. Outra estrela de Hollywood era Jon Voight, pai de Angelina Jolie, que passou os últimos dois dias zanzando pelo plenário e dando autógrafos.


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