|
Próximo Texto | Índice
OS EUA VOTAM
Se os republicanos vencerem a eleição legislativa, país deve retomar agenda do "conservadorismo com compaixão"
Bush aposta nas urnas para voltar às origens
MARCIO AITH
DE WASHINGTON
Se assumir o controle do Senado
nas eleições de terça-feira, o Partido Republicano promete retomar
com ênfase a bandeira do "conservadorismo com compaixão",
que elegeu o presidente George
W. Bush há dois anos e ficou relegada a um segundo plano depois
dos atentados terroristas de 11 de
setembro de 2001.
"Se ganharmos, vamos recuperar essa bandeira e implementá-la
com todas as forças", disse o líder
republicano no Senado, Trent
Lott. A agenda inicial é ambiciosa.
Os republicanos pretendem tornar permanentes os cortes de impostos aprovados em 2001, restringir o direito ao aborto, limitar
indenizações judiciais contra corporações, viabilizar a privatização
de parte da Previdência Social e
nomear juízes conservadores para as cortes superiores.
Nas eleições, estarão em jogo 34
das 100 cadeiras do Senado e todas as 435 na Câmara dos Representantes (deputados). Os democratas precisam de mais dez cadeiras para assegurar, sem a ajuda
de nenhum independente, a
maioria na Câmara. No Senado,
basta aos republicanos adicionar
um único senador à sua bancada
para retomar o controle da Casa.
Para ajudar os candidatos republicanos, Bush começou na quinta-feira uma viagem por 15 Estados e já coletou pessoalmente
mais de US$ 136 milhões, transformando-se no presidente mais
empenhado (em viagens e valor
arrecadado) numa eleição parlamentar de que se tem notícia.
Se os republicanos retomarem o
Senado, será a primeira vez, desde
1953, que um presidente do partido terá o controle simultâneo das
duas Casas do Legislativo por pelo
menos dois anos.
Se isso ocorrer, Bush poderá
executar sem freios sua plataforma. Uma parte dela pôde ser implementada durante os primeiros
quatro meses de seu governo, de
janeiro a maio de 2001, antes de o
senador republicano Jim Jeffords
abandonar o partido, fazendo-o
perder o controle do Senado.
Nesse período, o Congresso
aprovou cortes de impostos pelo
prazo de dez anos e revogou leis
ambientais e trabalhistas.
"Bush tem um projeto ambicioso para o país", disse Charles
Cook, analista e autor de uma das
mais famosas publicações sobre
política em Washington.
"Mas há dois obstáculos no caminho do presidente", afirma.
O primeiro são as preocupações
com o desempenho da economia.
Desde julho, a porcentagem dos
americanos que elegeram esse tema como prioridade máxima subiu de 13% para 20%, segundo
pesquisa da rede CBS e do "New
York Times". O terrorismo caiu
de 17% para 14%.
O segundo obstáculo são os precedentes históricos, que não favorecem o presidente em eleições
como essa. Desde 1913, quando o
voto direto foi implementado para o Senado, o partido que controla a Casa Branca perdeu cadeiras
no Congresso em 75% das "midterm elections", como são chamadas as eleições que não coincidem
com a presidencial.
Cook prevê um resultado que
irá novamente mostrar a divisão
da sociedade americana.
"Em 2000, as eleições presidenciais foram decididas por cerca de
500 votos na Flórida. Desta vez,
também estão divididas, imprevisíveis. Não haverá um vencedor
claro", analisa.
Segundo ele, embora os republicanos pretendam retomar a agenda doméstica se venceram as eleições, só lhes resta, durante a campanha, usar a bandeira da política
externa, da guerra contra o terrorismo.
"Existe uma força enorme na
sociedade empurrando as eleições em direção aos democratas.
É a fatia dos que se preocupam
com a economia. Mas há também
preocupações de política externa,
como o terrorismo e o Iraque, fazendo força em direção contrária.
Fora isso, há os interesses locais,
divididos igualmente entre os
dois partidos."
Aparentemente, a divisão do
eleitorado reflete-se na divisão do
próprio Congresso americano e
tem contribuído para a obstrução
de projetos e de nomeações não-relacionadas com a guerra contra
o terrorismo.
Nos quatro meses em que governou com o apoio das duas Casas, Bush conseguiu obter a aprovação de 80 dos 130 juízes que indicou para cortes superiores. Cinquenta nomeações estão paradas
por oposição dos democratas.
Além disso, Bush não consegue
aprovar sua versão da lei que garante assistência social do Estado.
Parte do "conservadorismo com
compaixão", o projeto do presidente canaliza recursos para entidades religiosas e exige dos pobres e desempregados que trabalhem ao menos 40 horas por semana para que tenham direito
aos benefícios.
Um exemplo claro foi a dificuldade republicana de nomear o cubano-americano Otto Reich para
o posto de subsecretário de Estado responsável para a América
Latina. Reich tem desempenhado
essa função por meio de um dispositivo legal de emergência que
garante a permanência de pessoas
em cargos sem nomeações aprovadas pelo Senado.
Próximo Texto: Frase Índice
|