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SUCESSÃO NOS EUA / CONTROLE DE DANOS
Republicanos reagem para tentar salvar Sarah Palin
Partido diz que sua vice conhece melhor o cotidiano do americano comum e é experiente
Em seu discurso, candidata ataca mídia, a qual acusa de criticá-la por não pertencer à cena de Washington, e diz ser "só uma mãe dedicada"
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A ST. PAUL
O Partido Republicano montou uma operação de guerra para tentar conter o efeito negativo na mídia provocado pela nomeação de Sarah Palin como
candidata a vice-presidente na
chapa de John McCain.
O objetivo era estancar ou
eliminar a percepção cada vez
mais generalizada de que Palin
é desqualificada para o cargo.
Os republicanos também dizem querer defender a governadora do Alasca dos ataques
de que foi alvo no plano pessoal, sobretudo após a revelação de que uma filha sua de 17
anos, solteira, está grávida.
A filha grávida, Bristol, apareceu ontem em St. Paul acompanhada do pai do bebê, Levi
Johnston, 18. A família anunciou que os dois vão se casar.
Palin foi treinada para reagir
no discurso mais importante
do dia, que começou às 21h30
em St. Paul (23h30 em Brasília). Aos 44 anos, ela é determinada. Ontem, às 6h20 da manhã, de tailleur no palco da convenção, ensaiava para a noite.
O texto que leu continha referências a sua origem política
no interior, além de uma dose
de autocomiseração. "Sou apenas aquela "hockey mom" (mãe
que leva e trás os filhos do jogo
de hóquei) e participo da reunião de pais e mestres porque
quero melhorar a educação de
meus filhos", disse, aplaudida.
E foi marcado pelo tom coloquial, próximo ao modo como
fala o americano médio. Por
exemplo, a frase na qual ela explicou como entende ser o trabalho de um prefeito do interior: "Eu acho que um prefeito
de cidade pequena é tipo assim
um "organizador comunitário",
só que com responsabilidades
de verdade". Era uma estocada
no democrata Barack Obama,
ex-organizador comunitário.
Assim ela descreveu sua forma de fazer política: "Quando
concorri a vereadora, eu não
precisei de pesquisas qualitativas e perfis dos eleitores porque eu conhecia o eleitorado".
Em seguida, fez uma crítica
direta à grande mídia: "Eu não
faço parte do establishment político permanente (...) Se você
não faz parte da elite de Washington, parte da mídia vai considerar você desqualificada.
Mas aqui vai uma dica para os
repórteres e colunistas: eu não
vou para Washington para buscar a aprovação de vocês, eu
vou para Washington para servir às pessoas deste país".
Nervosismo
Ontem, logo cedo os republicanos convocaram uma entrevista às pressas pela manhã
com seis mulheres do partido.
"Não vamos aceitar [discriminação contra Sarah Palin],
vamos nos ver com vocês quando vocês aprontarem com a
gente", falou num tom ameaçador Renee Amore, vice-presidente dos republicanos na Pensilvânia. Alguns dos repórteres
na sala de imprensa riram.
A investida das mulheres foi
comandada pela poderosa
Carly Fiorina, ex-executiva de
grandes empresas como a Hewlett-Packard (HP) e agora à
frente do comando do Comitê
Nacional Republicano Vitória
2008. "O Partido Republicano
não vai aceitar os ataques preconceituosos contra Sarah Palin só porque ela é mulher. As
mulheres americanas também
não vão aceitar", disse ela.
Fiorina citou o fato de Palin
ter sido chamada "até de cheerleader do Oeste" e de ter sido
dito que a vice foi filiada a um
partido nazista ("mentira").
A operação republicana de
controle de danos foi clássica:
assessores com peso político se
ofereciam nos corredores para
entrevistas. Ao longo do dia, as
TVs foram inundadas por republicanos defendendo Palin.
Até pessoas improváveis ajudaram nesse "fogo-de-encontro" para proteger a candidata a
vice. O ex-embaixador dos EUA
na Venezuela e assessor para
assuntos latino-americanos de
McCain, Otto Reich, aproveitou para dar sua explicação:
"Chegaram a propagar rumores absurdos, como o de que
o bebê de Sarah Palin era na
realidade de sua filha. Isso
ocorre porque os jornalistas em
Washington não gostam de
quem não conhecem. E eles
não conhecem Palin. Por isso a
criticam."
Para Reich, a alta exposição
de Palin na mídia pode vitimá-la e ter efeito oposto ao que seria desejado pelos democratas.
Essa teoria é por enquanto de
difícil comprovação -não há
pesquisas de opinião captando
todos os fatos desta semana.
A cartilha republicana tem
propagado três argumentos
principais em defesa de Palin:
1) América profunda: a governadora do Alasca representa o país de forma mais completa do que o democrata Barack
Obama, da elitista Harvard. Ela
é graduada em jornalismo por
uma universidade de Idaho e
fez carreira no Alasca;
2) Sexismo: os ataques no
plano pessoal refletem preconceito da mídia. "Ela pode muito
bem ser mãe de cinco filhos e
ter uma carreira bem sucedida
como política", diz Fiorina;
3) Experiência: prefeita de
uma cidade pequena (9.000 habitantes) e agora governadora
do Alasca por quase dois anos,
ela teria "mais experiência administrativa do que Barack
Obama, que nunca dirigiu nada", no argumento de Fiorina.
NA FOLHA ONLINE
www.folha.com.br/082471
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