São Paulo, terça-feira, 04 de outubro de 2011 |
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Cortes não funcionam, diz Dilma à Europa Em visita à Bélgica, presidente brasileira critica ajuste europeu e afirma que situação requer aumentar investimentos Dilma lembrou crise da dívida na América Latina na década de 80; para premiê belga, não existe 'pacote mágico' CLÓVIS ROSSI ENVIADO ESPECIAL A BRUXELAS A presidente Dilma Rousseff ensinou ontem aos europeus, com a devida elegância, que está errada a estratégia adotada por quase todos os países europeus para enfrentar a crise. A presidente lembrou a crise da dívida latino-americana, nos anos 80/90, para dizer claramente: "Nossa experiência demonstra que ajustes fiscais extremamente recessivos só aprofundam o processo de estagnação e de desemprego". Completou: "Dificilmente se sai da crise sem aumentar o consumo e o nível de investimento". A Europa está fazendo exatamente o oposto. As declarações foram feitas na escadaria de mármore do tricentenário Palácio Egmont, sede do Ministério de Relações Exteriores belga e que serve também para receber dignitários estrangeiros. À noite, a presidente retomou o tema, agora diante de Herman van Rompuy, presidente do Conselho Europeu, a máxima instituição da União Europeia, e de José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, o braço executivo. O premiê belga em funções, Yves Leterme, endossou a observação de Dilma, em breve conversa com os jornalistas brasileiros depois de despedir-se da presidente: negou que os cortes compusessem um "pacote mágico" contra a crise e pregou um "equilíbrio entre o saneamento das finanças públicas e a necessidade de crescimento". Leterme goza de uma posição excepcional para criticar o que seus colegas europeus estão fazendo: a Bélgica não conseguiu formar um governo efetivo desde a eleição de junho do ano passado. Logo, ele é apenas um interino, impossibilitado de adotar medidas mais relevantes. Medidas como os duros pacotes de ajuste de seus vizinhos. Por isso, como assinalou Dilma, "mesmo com a crise, a situação da Bélgica é bastante satisfatória". De fato, mesmo sem governo há quase ano e meio (recorde mundial), a Bélgica cresceu mais que a locomotiva alemã. Dilma já cravou "a crise que afeta os países desenvolvidos" como o principal tema da cúpula do G20, o clubão das maiores economias do planeta, marcada para novembro em Cannes, França. Se for assim, é possível antecipar desde já que Brasil e Estados Unidos alinhar-se-ão no lado dos que pregam a necessidade de priorizar o crescimento, deixando o ajuste fiscal para o médio ou longo prazo. Os europeus que já tomaram a via oposta estarão obrigados a defendê-la, a menos que vozes como a de Leterme ganhem força. Como a Folha antecipou ontem, Dilma tocou ainda em dois pontos de sua agenda: 1 - A Rio+20, a conferência que fará o balanço da Eco-1992 -e eventualmente determinará avanços no combate ao aquecimento global. Aliás, a presidente saudou os belíssimos dias que a receberam em Bruxelas, alusão ao fato de que, mesmo já entrado o outono, as temperaturas bateram o recorde de todos os tempos para esta época, beirando os 30°C. 2 - O empenho em emplacar o programa "Ciência sem Fronteiras", que pretende colocar de 75 mil a 100 mil estudantes brasileiros em universidades europeias, de preferência em engenharia, matemática, física e química. Próximo Texto: Medo de calote da Grécia faz Bolsas do mundo caírem Índice | Comunicar Erros |
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