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CHOQUE NA FRANÇA
Segundo turno inicia luta contra a extrema direita, que deve continuar na eleição legislativa de junho
França trava hoje "guerra civil" nas urnas
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
Uma "guerra civil" começa a ser
travada hoje nas urnas do segundo turno das eleições presidenciais da França.
De um lado, estarão cerca de um
quinto dos eleitores, depositando
seu voto para a extrema direita de
Jean-Marie Le Pen, 74. De outro, o
restante do país, tentando salvar a
democracia por meio do apoio
que entregarão ao candidato de
centro-direita Jacques Chirac, 69.
É uma guerra apenas parcialmente ganha por Chirac e a chamada "frente republicana" que se
formou ao seu redor. Em junho, a
França terá eleições legislativas, e
o confronto com a extrema direita
voltará a ser colocado, com dificuldades ainda maiores, diante do
quadro de desagregação da esquerda. Do resultado de hoje dependem a performance da Frente
Nacional, partido de Le Pen, nas
577 circunscrições do país, e o futuro da democracia francesa.
Cientistas políticos calculam
que, se Le Pen obtiver cerca de
20% dos votos no segundo turno,
ele já terá ganho uma força inédita. Se alcançar mais de 30%, a
Frente Nacional poderá desestabilizar o sistema político. "Tendo
obtido 17% [no primeiro turno:
16,8%", se eu fizer 18% já será um
ganho. Todos os votos que eu tiver a mais serão votos vencedores", disse Le Pen anteontem.
Segundo pesquisa divulgada
antes do encerramento da campanha, na sexta-feira, Chirac terá
hoje entre 64% e 82% dos votos, e
Le Pen, entre 18% e 36%. O primeiro número indica a porcentagem de eleitores que têm absoluta
certeza de que votarão no candidato. O segundo representa os
que disseram ter optado a princípio pelo candidato, mas não estavam totalmente certos disso.
Atenção total
A Europa inteira estará de olhos
bem abertos nestas eleições, nas
quais, pela primeira vez num segundo turno, concorre um político de extrema direita. Elas representam um teste de resistência da
democracia contra o radicalismo
político. São também uma prova
colocada pela oposição nacionalista ao processo de unificação do
continente. Le Pen disse que, se
for eleito, uma de suas primeiras
medidas será fazer um referendo
para tirar a França da União Européia e restabelecer o franco.
"Mais do que nunca, Chirac tem
uma enorme margem de manobra européia. Ele vai reafirmar a
escolha da França pela Europa para marcar sua oposição a Le Pen",
declarou Heather Grabbe, diretora de pesquisa do Centro Britânico para as Reformas Européias.
As eleições implicam ainda o revigoramento da centro-direita na
Europa e um sinal de declínio da
centro-esquerda. A chegada de Le
Pen ao segundo turno abriu a crise do Partido Socialista, que até
agora tenta se restabelecer do
choque que sofreu com a eliminação de seu candidato, o premiê
Lionel Jospin, 64, dado como favorito para o segundo turno.
No primeiro turno, a coligação
dos quatro partidos de esquerda
que sustentava o governo socialista na chamada "esquerda plural"
se desfez e cada um deles apresentou um candidato diferente.
Os votos para a centro-esquerda
foram em menor número do que
o esperado, ao contrário da extrema esquerda, com quatro concorrentes, que obteve uma votação
inédita -cerca de 10%.
A dispersão dos votos da esquerda foi uma das principais
causas aventadas para explicar a
chegada de Le Pen ao segundo
turno. Outra foi a ênfase dada pelos principais políticos à questão
da segurança durante a campanha, tema que é um dos carros-chefes do programa lepenista.
O sentimento de repetição causado pela presença nas eleições de
Chirac, presidente da França há
sete anos, e de Jospin, seu premiê
há cinco anos, também pode ter
desmotivado os franceses. O primeiro turno registrou a maior
abstenção da história do país
(28%) e Chirac, acossado por acusações de corrupção, chegou em
primeiro lugar no segundo turno,
mas com o índice mais baixo já
obtido por um candidato (19,8%).
A confirmação de Le Pen na final das eleições presidenciais foi
um choque político e social de
enorme impacto na França. O 21
de abril, domingo do primeiro
turno, chegou a ser comparado ao
11 de setembro, data dos ataques
terroristas aos EUA.
Desde aquela data, centenas de
manifestações se espalharam pelo
país. No último dia 1º, mais de 1
milhão de pessoas saíram às ruas
para protestar contra Le Pen e o
fascismo. Foi uma das maiores
mobilizações cívicas da França
desde o pós-Segunda Guerra. Um
dos milhares de cartazes do megaprotesto em Paris avisava: "Melhor votar certo hoje do que pegar
em armas amanhã".
Com agências internacionais
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