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Pentágono muda foco para "guerra irregular"
Diretrizes privilegiam combate a grupos, não a países
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Quase sete anos após o 11 de
Setembro e a menos de seis meses do fim do governo George
W. Bush, o Pentágono anuncia
a mudança mais profunda dos
últimos tempos em sua estratégia geral. Segundo documento
tornado público pelo Departamento de Defesa no fim da semana passada, o foco do órgão
muda da guerra "convencional" para a "irregular", e grupos
terroristas, e não países inimigos, passam a ser a prioridade.
Além disso, o relatório urge
que os Estados Unidos optem
por parcerias -em lugar de
confrontação- com rivais como China e Rússia como maneira de frear a ascensão militar desses países. Recomenda
ainda que a opção militar seja
coordenada com o "soft power"
(poder suave), a persuasão pela
diplomacia, cooperação e influência cultural.
O documento é o primeiro
sob a gestão de Robert Gates,
64, que em dezembro de 2006
substituiu Donald Rumsfeld
como titular da Defesa. Marca
uma virada pragmática em relação ao que ficou conhecido
como doutrina Rumsfeld, o
conjunto de ações prescritas
pelo ex-secretário, um dos artífices da Guerra do Iraque.
"Se eu fosse descrever a nova
estratégia de defesa nacional
em uma palavra, ela seria "equilíbrio'", disse Gates. O balanço a
que se refere é entre os dois
fronts tradicionais aos quais o
país dedica parte importante
de seu poderio militar hoje e o
que o documento chama de
"combate irregular" contra organizações sem Estado, como a
Al Qaeda.
As "guerras preventivas" defendidas por Rumsfeld, por
exemplo, dão lugar a parcerias
dos Estados Unidos com "Estados com pensamentos semelhantes". "A vitória exigirá de
nós que apliquemos todos os
elementos de poder nacional
em parceria com velhos aliados
e novos parceiros", afirma o
texto, para depois definir:
"O Iraque e o Afeganistão
continuam sendo as frentes de
batalha centrais, mas não podemos perder de vista as implicações de travar um conflito de
longo prazo, episódico, com
múltiplas frentes e multidimensional, mais complexo e diverso que o confronto com o
comunismo durante a Guerra
Fria". Sucessos nos dois países
"serão cruciais, mas sozinhos
não trarão a vitória."
O chamado "soft power", termo criado pelo professor de
Harvard Joseph Nye num livro
de 1990, é citado cinco vezes no
relatório do Pentágono: as
guerras convencional e irregular "podem aparecer individualmente ou em conjunto, aumentando o espectro do combate e mesclando "hard" e "soft
power". Em algumas ocasiões,
talvez nem saibamos que o conflito está em andamento até
que esteja avançado, e nossas
opções sejam limitadas".
Tanto o Irã como a Coréia do
Norte são citados negativamente, apesar de esforços diplomáticos recentes lançados
pelos Estados Unidos em direção aos dois países. Ambos são
chamados de "Estados proscritos" e acusados de "ameaçar a
ordem internacional".
A versão anterior do documento era de 2005. A atual chega no fim do segundo mandato
de Bush, o que causou estranheza entre analistas. Ela "está
destinada a ser ultrapassada
pelos eventos", disse Michele
Flournoy, a presidente do Center for a New American Security, instituto moderado de
Washington.
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