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Guerra já é recordista em uso de armas "inteligentes"
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
O total de armas "inteligentes"
usadas contra o Iraque já supera o
que foi usado nos conflitos de Kosovo em 1999, do Afeganistão de
2001 a 2002 e, nesse ritmo, poderá
em uma semana ultrapassar mesmo o total usado na Guerra do
Golfo de 1991 (veja números no
quadro ao lado).
"Inteligente" significa alguma
forma de guiagem que torna a arma mais precisa. Pode ser um feixe de laser que o míssil segue no
caminho ao alvo, pode ser um receptor de sinal de satélite que
identifica latitude e longitude.
A doutrina do "Choque e Pavor" pode não ter causado a rendição imediata dos iraquianos,
mas sem dúvida foi responsável
por alguns dos ataques aéreos
mais concentrados da história.
Em alguns itens a guerra atual já
é recordista.
Durante os 43 dias da Guerra do
Golfo foram lançados 296 mísseis
Tomahawk -dos quais 122 no
primeiro dia-, cada um custando em torno de US$ 1 milhão.
Também contra o Iraque, na operação Raposa do Deserto, em
1998, foram lançados mais 330
Tomahawks. No ano seguinte, os
sérvios receberam 218 mísseis.
Mas somente nos primeiros 17
dias do atual conflito já foram lançados 750 mísseis Tomahawk.
O Tomahawk (o nome é o de
um machado de guerra indígena)
é usado contra os alvos mais difíceis, contra os quais seria arriscado empregar um avião.
A principal novidade do castigo
aéreo que sofre o Iraque é o uso
quase exclusivo dessas "PGM", sigla em inglês para "munições de
guiagem precisa".
Na Guerra do Golfo de 1991 a esmagadora quantidade das bombas eram "burras", sem nenhuma
guiagem. Dependiam totalmente
da pontaria do piloto. Apenas 7%
a 8% das bombas tinham alguma
forma de guiagem, pois esse mecanismo aumentava muito o seu
preço.
Com a invenção de "kits" relativamente baratos de guiagem que
podem ser adaptados às bombas
comuns ficou bem mais prático
usar somente armas "inteligentes".
Como cada avião leva várias
bombas desse tipo ele pode atingir vários alvos em uma mesma
saída, o que ajuda a explicar por
que agora o número delas é menor do que em 1991. São necessários menos aviões para acertar
um determinado alvo.
Curiosamente, nesses quatro
conflitos o avião que mais bombas lançou é um veterano de meio
século, o bombardeiro B-52. Na
guerra de 91 eles eram 4% das aeronaves enviadas, mas lançaram
32% do total de bombas em toneladas.
Trata-se do maior avião de
combate existente, com um peso
máximo na decolagem de 210 toneladas e capaz de transportar 18
bombas guiadas de 900 kg.
No período de 7 de outubro a 23
de dezembro de 2001 os bombardeiros B-52 e B-1 lançaram 11,5
mil bombas contra alvos no Afeganistão, das 17,5 mil lançadas, ou
65% do total.
Esses números mostram a evolução da doutrina americana de
bombardeio estratégico. A precisão permite economizar na tonelagem das bombas.
Mesmo no seu auge, na guerra
de 91 os EUA lançavam por dia o
correspondente a 85% da tonelagem de bombas empregadas diariamente no bombardeiro do Japão e da Alemanha na Segunda
Guerra. Em 1968, no auge da
Guerra do Vietnã, os EUA lançavam mais bombas por mês do que
em todos os 43 dias da Guerra do
Golfo.
As mudanças tecnológicas também afetaram o número de aeronaves perdidas em combate. Se
em 43 dias de combate em 1991 os
EUA perderam 38 aeronaves, no
conflito de Kosovo foram apenas
duas perdas em combate, e nenhuma no Afeganistão.
No atual conflito um caça-bombardeiro F/A-18 Hornet da Marinha foi derrubado, provavelmente por "fogo amigo" de uma bateria de mísseis antiaéreos Patriot.
Pelo menos um helicóptero Apache foi derrubado por fogo de armas portáteis como fuzis e lança-granadas, demonstrando mais
uma vez a vulnerabilidade desse
tipo de aeronave quando se aproxima demais do inimigo.
A aviação é um dos principais
trunfos dos planejadores militares americanos, a principal jóia do
arsenal dos EUA. Mas, como todo
camafeu, custa caro. Um Apache
vale em torno de US$ 25 milhões.
Um bombardeiro B-2 custa mais
de meio bilhão de dólares cada.
Mas, no final das contas, quem
tomará Bagdá serão as tropas terrestres. As tropas iraquianas em
torno da capital são como placas
dentárias: removê-las leva tempo,
mas não causaria dano aos dentes.
Se essas tropas penetram na cidade tornam-se como cáries, cuja
remoção envolve perfurar o dente
com uma broca -e no pior dos
casos, fazer um longo tratamento
de canal ou mesmo arrancá-lo.
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