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Gravidez piora situação
das mulheres pobres
DO ENVIADO ESPECIAL AO HAITI
Christa Felix, Acefie Rosemond
e Thelma Renette são três exemplos de mulheres haitianas que
contribuíram para inflar as altas
taxas de natalidade e mortalidade
infantil do país. O chamado "índice sintético de fecundidade" mede o número de crianças por mulher. A do mundo está em 2,8 filhos. Um país desenvolvido, a Noruega, tem índice de 1,7, e mesmo
no Brasil a taxa é menor que a média mundial, 2,2.
No Haiti o índice é de 4,7 crianças por mulher.
Acefie, 33, teve seis filhos e está
grávida de novo. Um filho vive
com um pai; outros dois estão
com uma tia; outro filho com ainda outro pai; um está com ela e
outro foi dado para adoção. Thelma teve quatro filhos, dois morreram. A taxa de mortalidade infantil no Haiti é de 80 mortos em cada 1.000 nascidos vivos. A média
mundial é de 55, a brasileira é de
33 e a norueguesa de apenas 4.
Christa, grávida de novo, teve
cinco filhos com três homens diferentes. O último morreu baleado durante os distúrbios políticos
de fevereiro, sem saber que seria
pai. Christa chora quando lembra
o fato. Ela deu três dos filhos para
adoção. "Fiquei triste, mas foi um
privilégio, pois eles continuaram
vivos", diz Christa.
Ela trabalhava vendendo limão
e laranja na rua. Comprava em
um ponto da cidade, vendia em
outro, carregava com ela a mercadoria ou, se fosse muita, alugava
um carrinho de mão. É o cotidiano dos milhares de vendedores
que tomam as calçadas das cidades, vendendo de livros escolares
a frutas e eletrodomésticos.
Mas, principalmente, arroz, a
base da dieta haitiana. Antonia
Jean vende "marmites" de arroz
no mercado de La Saline. Cada
"marmite" de arroz é uma lata de
leite em pó grande que custa 17
dólares haitianos (US$ 2,36).
A moeda haitiana se chama
gourde. O "dólar haitiano" é uma
moeda virtual, e o dólar americano também é largamente usado
nas maiores transações. Um dólar
dos EUA vale 7,2 do Haiti.
Os mercados haitianos de rua
vivem uma movimentação frenética. Um mesmo comerciante
vende uma hora, depois vai ao vizinho comprar algo, pedestres
passam continuamente.
Esses microempresários são um
dos alvos da Muci, uma cooperativa que atua há 24 anos. "Nós lhes
damos crédito para que iniciem
seus negócios", diz o economista
Danel Georges. Os juros são de
1%, "em vez dos 20% ou 40% que
eles teriam de pagar a um banco."
A Muci tem 116 mil membros,
segundo Georges. "A crise haitiana é uma crise social, a maneira de
resolver é cultural", diz ele.
(RBN)
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