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Para analistas, imprensa em crise já corrige rumos
DE NOVA YORK
Para Bill Kovach, um dos principais teóricos do jornalismo nos
EUA, a imprensa americana passa
por mudanças profundas. Rosental Calmon Alves, professor de
jornalismo da Universidade do
Texas, fala em crise.
Ambos dizem, no entanto, que
o ajuste de contas que pode ser lidos nas páginas dos jornais americanos -particularmente do
"New York Times"- desde o ano
passado, dando conta de plágios,
invenções e erros, faz parte de um
processo de "correção de rumo" e
redefinição do papel da imprensa
-positivo, portanto, ou, como
diz Alves, "o copo está meio
cheio".
"Todos esses escândalos já
aconteciam. Não há nada de novo
em plagiar um texto", declara Kovach, presidente do Comitê de
Jornalistas Preocupados, organização dedicada a estudar e aperfeiçoar os padrões da profissão, e
ex-diretor da sucursal de Washington do "New York Times".
A novidade, diz, está na necessidade atual da imprensa "de desenvolver um novo tipo de relação com seus leitores, mais aberta, mais transparente, trazendo o
público para dentro de seu processo de tomadas de decisão".
O movimento de maior transparência responde a uma crise de
identidade da imprensa, dizem,
que tem tido de lidar nos últimos
anos com uma revolução tecnológica na área de comunicação
-internet, canais de jornalismo
24 horas- que tem efeitos sobre
o modo como a notícia é feita,
tanto quanto no seu acompanhamento, na sua crítica e na competição entre os veículos.
Na prestação de contas mais recente, há dez dias, o "Times" reconheceu que avaliou mal reportagens que indicavam que Saddam
Hussein era capaz de produzir armas de destruição em massa e que
possivelmente já as tivesse.
As armas nunca foram encontradas. A maioria das reportagens
foi feita por Judith Miller, que teria entre suas principais fontes integrantes do governo americano e
Ahmed Chalabi, líder iraquiano
de oposição a Saddam.
No ano passado, o "Times" já
viera a público no caso de invenções e plágios de Jayson Blair e no
de Rick Bragg, que assinou texto
apurado por outro jornalista.
Alves, que é diretor do Centro
Knight para Jornalismo, organização dedicada ao aperfeiçoamento de jornalistas, diz que a crise que vê agora nos EUA é cíclica,
geralmente associada a grandes
mudanças tecnológicas e "excesso de comercialização" na imprensa.
Kovach afirma que o caso de Judith Miller foi motivado pela mesma razão de fundo do caso Blair:
"O desejo exacerbado de bater os
concorrentes", mais importante
"do que se certificar de que a informação era confiável".
O caso de Larry Rohter é completamente diferente e não faz
parte da crise, disse Alves. O correspondente do "Times" no Brasil
escreveu há um mês reportagem
sobre o consumo de álcool pelo
presidente Lula. "Não é uma boa
matéria e é exagerada na conclusão de que haveria uma preocupação nacional. Mas ele não inventou nada, não fabricou nada",
disse Alves.
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