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MUDANÇA
West End, que já foi centro da vibração da capital britânica, enfrenta criminalidade e reclamação de moradores
Região badalada de Londres vive decadência
STEVE BOGGAN
DO "THE INDEPENDENT"
Há apenas cinco anos, ele era o
centro geográfico da cidade descrita pela revista "Newsweek" como "a mais "cool" do mundo".
Partindo dele, a vibração que moveu a idéia da Inglaterra "cool"
propagou-se em uma onda positiva que ajudou a impelir o novo
trabalhismo à vitória nas urnas.
Hoje, o West End de Londres, o
local que abriga a essência da cultura teatral e de clubes britânica,
segundo o homem que supostamente o administra, está perto da
anarquia. O sentimento positivo
deu lugar a assaltos, tráfico de
drogas, presença constante de
pessoas embriagadas nas ruas e
tanto lixo que é impossível retirar
tudo entre o fim de um dia de farras e o começo do dia seguinte.
Simon Milton, presidente da
Câmara dos Vereadores do distrito de Westminster (região central
de Londres), compara o West End
à Times Square, em Nova York,
de dez anos atrás, quando era ímã
de usuários e traficantes de drogas, criminosos e mendigos.
Embora tenha sido a Câmara
presidida por Milton que deu alvará aos pubs, clubes e bares responsáveis pelo excesso de entretenimento que está sufocando a região, ele está reclamando de tudo.
"Não podemos empurrar o problema para baixo do tapete", disse
Milton. "Temos traficantes agressivos nas ruas, mendigos, vagabundos. Houve casos de tiroteios
diante de clubes. Não podemos
ignorar isso. Precisamos adotar
uma política de tolerância zero."
West End designa toda uma região que engloba o que os urbanistas ingleses do pós-guerra chamavam de "a zona de atividade
central de Londres", na qual os
habitantes podiam trabalhar, fazer comprar, comer fora, dançar e
desfrutar de atrações culturais.
Entre as áreas de atração do
West End estão Leicester Square,
Covent Garden, Trafalgar Square,
Oxford Street, Soho, Mayfair, Piccadilly e Charing Cross. Algumas,
como Mayfair, têm poucos problemas. Em outras, como Soho,
eles são constantes.
Todas as noites, dezenas de milhares de pessoas -até 100 mil
nos finais de semana- se reúnem numa área relativamente pequena onde muitos bares permitem que se beba até as 3h.
Mas o metrô fecha à 0h30, os
ônibus noturnos são vistos como
perigosos e pouco usados e muitos taxistas licenciados evitam circular pela área à noite. Restam os
cerca de 5.000 taxistas que trabalham ilegalmente. Muitos desses,
quando presos, revelam estar
portando drogas ou ter fichas na
polícia por crimes violentos.
Numa reunião com autoridades
de Londres, Milton disse: "Estamos vivendo a ascensão do "megapub", com sua ênfase no "consumo vertical de álcool", e do "megaclube", com 2.500 pessoas".
"Temos só 15 policiais para percorrer a região e lidar com centenas de milhares de jovens embriagados numa sexta qualquer."
O melhor e o pior do West End
estavam à mostra num começo de
noite deste mês. Em Covent Garden e no Soho, londrinos bem-humorados saíam às ruas após o
trabalho. Havia turistas por toda
parte, espantados com o agito,
mesmo numa noite de semana.
Quando a noite caiu, entretanto,
o clima começou a mudar. Diante
do teatro Prince Edward, na Old
Compton Street, o americano
Charles Dwyer, de Boston, fazia
fila para comprar um ingresso para o musical ""Mamma Mia!".
""Há um sujeito na entrada ao lado, tomando cerveja, fumando cigarros e pedindo esmolas", contou. "Onde ele arrumou o dinheiro para os cigarros? Ele não estava
só pedindo esmolas. Era algo um
pouco agressivo. E já nos ofereceram drogas duas vezes. É uma
sensação muito incômoda. Será
que este bairro é seguro?", disse.
A poucos metros, em Moor
Street, africanos oferecem drogas.
Não perdem seu tempo com maconha: vendem heroína e cocaína.
"Dá para ver pessoas fumando
crack em latas vazias", disse um
membro da Sociedade Soho, que
defende os interesses dos moradores. Ele pediu para não ser
identificado. "De manhã, vemos
latas e agulhas deixadas por usuários de heroína. As mães têm medo de levar seus filhos à escola,
pois esses caras resolvem desentendimentos com armas ou facas.
Às 7h30, muitos traficantes ainda
estão na rua."
A polícia nega que a situação do
West End esteja se agravando.
Aponta para as 14 mil prisões que
fez neste ano, contra as 11 mil feitas no ano passado.
"Essas histórias de pessoas que
acharam seringas usadas de manhã são coisa do passado", disse
um porta-voz da polícia. "Estamos avançando na repressão ao
tráfico. Há pouco tempo, prendemos 19 traficantes."
Mas, como observa Simon Milton, há 42 mil policiais em Nova
York e 28 mil em Londres. As
duas metrópoles têm mais ou menos o mesmo tamanho.
"Não somos contra a idéia de a
cidade funcionar 24 horas", disse
Milton. "Mas, se quisermos estender o horário em que a venda de
álcool é permitida, temos de calcular o total aceitável de bares e
pessoas. Precisamos de policiamento e transporte adequados."
São palavras sábias que podem
poupar o resto da Inglaterra da
experiência dolorosa vivida pelo
West End. Mas são lições que deveriam ter sido aprendidas há
muito tempo com a cidade mais
"cool" do mundo: Nova York.
Tradução de Clara Allain
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