São Paulo, quarta-feira, 07 de julho de 2010

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Caso de doações ilegais atinge Sarkozy

Segundo acusação, presidente francês recebeu dinheiro para campanha de 2007 de herdeira do grupo L'Oréal

Doação, ilegal segundo legislação francesa, foi feita a atual ministro do Trabalho, disse antiga contadora da herdeira


Yoan Valat/Efe
Sarkozy escuta discurso em um evento perto de Paris

ANA CAROLINA DANI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

O escândalo envolvendo a herdeira do grupo L'Oréal, Liliane Bettencourt, e sua controversa relação com o governo ganhou proporções ainda maiores ontem, atingindo diretamente o presidente Nicolas Sarkozy.
Em entrevista publicada pelo blog Mediapart, a ex-contadora de Bettencourt, Claire Thibout, acusa o ministro do Trabalho e tesoureiro do partido governista UMP, Eric Woerth, de ter recebido, em 2007, 150 mil em espécie para financiar a campanha de Sarkozy.
O financiamento é ilegal segundo a legislação francesa, que limita a 4.600 as doações a candidatos por pessoas físicas e determina que o repasse de verbas somente pode ser feito em espécie quando inferior a 150.
A ex-contadora também afirma que Sarkozy recebia regularmente envelopes com dinheiro de Liliane Bettencourt e de seu marido, André Bettencourt, quando ainda era prefeito de Neuilly-sur-Seine, município da região de Paris, de 1983 a 2002.
Interrogado por jornalistas quando participava de mesa redonda em um hospital na periferia de Paris, Sarkozy negou ontem as acusações.
Disse que "gostaria que o país se interessasse mais por problemas como a saúde, a aposentadoria ou a retomada do crescimento, em vez de se deixar levar por calúnias sem ligação com a realidade".
Mais explícito, o ministro do Trabalho, Eric Woerth, negou com veemência ter recebido dinheiro ilegal e disse que não tem intenção de se demitir, pois não quer "dar razão aos que o acusam".
Em entrevista a uma TV, disse ser vítima de um "turbilhão de insultos" e de campanha para fragilizar sua gestão e a do governo Sarkozy.
Ontem, o chefe de governo francês, premiê François Fillon, reiterou ter confiança em Woerth e afirmou que a acusação contra o ministro "não se sustenta".

PEDIDO DE CPI
A oposição francesa e mesmo membros do governo pedem agora que o presidente se pronuncie sobre o tema. Deputados socialistas defenderam ontem a criação de uma comissão parlamentar.
Thibout trabalhou por 12 anos para a herdeira do grupo L'Oréal e seu marido, morto em novembro de 2007, até se desligar do cargo em 2008.
Na entrevista dada ao blog francês, pouco após depor a investigadores da Brigada Financeira de Paris, ela explica que foi Patrice de Maistre, responsável por administrar a fortuna de Bettencourt, quem lhe teria pedido que sacasse 150 mil em dinheiro de contas do casal.
A soma teria sido entregue a Woerth para financiar a campanha presidencial de Sarkozy. Os 50 mil foram sacados por Thibout, e o restante teria sido retirado diretamente de contas na Suíça.
Caso sejam confirmadas, as acusações podem complicar ainda mais a já frágil popularidade do presidente francês, no momento em que o governo anuncia uma série de medidas para reduzir os gastos e moralizar a administração pública.
Uma delas, a proposta de reforma da previdência, está a cargo justamente de Woerth, que a vê como "uma das mais importantes deste governo".
No domingo, Sarkozy aceitou a demissão de dois secretários de Estado, Christian Blanc e Alain Joyandet, suspeitos de uso abusivo do dinheiro público. A oposição acusou o governo de procurar desviar as atenções do escândalo Bettencourt.
Espera-se que o presidente francês se pronuncie sobre o assunto no dia 13.


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