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SUCESSÃO NOS EUA / 24 HORAS
Eleição alavanca canais de notícia
Jim Mahoney-28.ago.08/AssociatedPress
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Democratas lotam estádio em Denver para acompanhar discurso de Barack Obama; pela TV, mais de 38 milhões de pessoas assistiram à fala, a maioria por canais pagos
Campeãs de audiência, emissoras fechadas apostam em posição política clara para garantir nichos do mercado
Guinada ao centro fez CNN recuperar liderança que era de conservadora Fox News; MSNBC sai pela esquerda e vê audiência aumentar 88%
SÉRGIO DÁVILA
DE WASHINGTON
Um fato novo nas eleições
presidenciais norte-americanas, o sucesso das emissoras fechadas noticiosas -que pela
primeira vez bateram as redes
abertas na transmissão das
convenções partidárias-, vem
obrigando essas empresas a se
posicionarem ou reposicionarem ideologicamente. Mais do
que convicção política, o motivo é fatia de mercado.
A liderança empurrou a CNN
de volta ao centro, abrindo espaço para que a MSNBC investisse no público de esquerda,
chamado nos EUA de "liberal",
e consolidou a Fox News em
seu nicho "conservador" -ou
de direita. A estratégia dá certo:
as três cresceram entre 85% e
88% em audiência entre a eleição de 2004 e a atual.
O rearranjo é embalado por
sucessivos recordes quebrados
durante as convenções dos dois
partidos majoritários, que terminaram na quinta. Esses recordes, por sua vez, são fruto da
atenção que essa eleição desperta no público norte-americano, pelo caráter inédito dos
dois principais concorrentes e,
agora, também pela escolha
inusitada da vice republicana.
O discurso em que o democrata Barack Obama aceitou a
indicação de sua agremiação,
transmitido na quinta-feira retrasada, e o do republicano
John McCain, há três dias, levaram mais gente à frente das
TVs do que a abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim.
Foram mais de 38 milhões de
pessoas, entre TV aberta e paga, o maior público para esse tipo de evento desde que o Nielsen começou a fazer a aferição,
em 1960. Logo atrás dos dois
vem o discurso de quarta-feira,
quando a governadora do Alasca, Sarah Palin, aceitou sua indicação a vice. A maioria viu os
três numa emissora paga.
Hoje, segundo levantamento
de agosto do The Pew Research
Center for The People and The
Press, 39% dos norte-americanos que assistem TV dizem se
informar pelas emissoras noticiosas fechadas, ante 29% que o
fazem pelas abertas. Essa diferença é a maior desde que a entidade passou a publicar a medição, em 2002.
"Não só a audiência do noticiário da TV paga é maior do
que a da TV aberta como também mais nova, mais instruída
e com mais conhecimento sobre os eventos atuais", afirma o
relatório bienal, divulgado no
último dia 17 -o público alvo
preferencial dos anunciantes
nessa categoria são pessoas entre 24 anos e 55 anos.
O motivo é simples, disse à
Folha Jack Shafer, analista de
mídia da revista eletrônica
"Slate": "É que essas emissoras
põem no ar muito mais horas
de cobertura". Fica cada vez
mais claro que o telespectador
médio não quer mais esperar o
horário tradicional do telejornal aberto e prefere o fluxo
constante de informações que a
TV paga provê.
Viés mais claro
Diferentemente das emissoras abertas, também, o viés político é mais explícito nas noticiosas fechadas. Criada em
1980 pelo empresário Ted Turner e hoje propriedade da Time
Warner, a CNN se viu obrigada
a guinar à esquerda com a consolidação da era Bush, principalmente a partir do segundo
mandato, em 2004.
Foi a época da ascensão da
Fox News, alimentada pela
prioridade das informações exclusivas dada pela administração Bush, aliada ao clima reinante no país logo após o 11 de
Setembro. Em 2007, pela primeira vez, bateu a CNN em publicidade -US$ 460 milhões a
US$ 434 milhões.
Fundada em 1996 por Roger
Ailes, ex-assessor de Richard
Nixon, Ronald Reagan e George
Bush pai, e de propriedade do
empresário de mídia australiano Rupert Murdoch, a Fox
News começou por atrair os
descontentes com os desvios
éticos do presidente democrata
Bill Clinton (1993-2001) e com
o que os conservadores chamavam de "viés liberal da mídia".
Os sucessivos reveses de
Bush, no entanto, marcadamente a Guerra do Iraque e a
perda do controle do Congresso para os democratas em
2006, fizeram com que a CNN
voltasse a liderar em audiência,
posição que ocupa hoje em dia
entre as noticiosas pagas, com
24% dos espectadores, ante
23% da Fox e 15% da MSNBC.
Fizeram também com que,
nos últimos meses, a emissora
iniciasse sua caminhada de volta ao centro. Até um novo slogan foi adotado: "No bull, no
bias" (sem besteira nem parcialidade, em tradução livre), que
se contrapõe ao "fair and balanced" (justo e equilibrado), da
Fox News.
A MSNBC é o caso mais interessante e bem-sucedido, com
um crescimento de 88% de audiência entre as duas eleições
presidenciais. De propriedade
da NBC (por sua vez da General
Electric), no ar há 12 anos, a
eterna terceira colocada resolveu investir no filão deixado
aberto pela CNN e tenta virar a
Fox News da esquerda.
O momento de "conversão"
pode ser considerado o dia 3 de
julho de 2007, quando um de
seus âncoras, Keith Olbermann, fez um editorial de oito
minutos em que criticava o governo Bush. Desde então, o jornalista virou o maior opositor
da administração atualmente
no ar, e a cada programa dedica
um segmento para criticar um
aspecto desse governo.
Ele termina as apresentações
de seu "Countdown" dizendo
quantos dias se passaram desde
que Bush declarou o fim dos
combates principais no Iraque,
em 1º de maio de 2003, a bordo
de um porta-aviões, diante de
uma faixa com os dizeres "Missão Cumprida". Sua audiência
dobrou em um ano.
Amanhã, a emissora estréia
um novo programa, comandado por Rachel Maddow, que fez
carreira como comentarista
política na rede de emissoras de
rádio de esquerda Air America.
A jornalista de 34 anos, especialista em assuntos militares e
lésbica assumida, vai concorrer
com Larry King, na CNN, e
"Hannity & Colmes", um dos
sucessos da Fox, co-apresentado pelo ultraconservador Sean
Hannity.
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