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SUCESSÃO NOS EUA / O BOLSO E AS URNAS
Crise de efeito lento tira trunfo de Obama
Empate com McCain em pesquisas contraria o histórico de reveses governistas quando economia americana vai mal
Explicação pode ser fato de que percalços econômicos, como alta do desemprego, ainda não afetaram parte significativa da população
FERNANDO RODRIGUES
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Há décadas, os pragmáticos
eleitores norte-americanos
costumam se perguntar na hora de votar se estão melhores
ou piores do que quatro anos
antes. No início da década passada, o democrata Bill Clinton
venceu uma eleição martelando contra o péssimo estado da
economia. Um bordão de sua
campanha se eternizou: "É a
economia, estúpido".
Economia em queda é sinal
de que o partido na Casa Branca pode perder o poder. Neste
ano, entretanto, há um enigma
eleitoral. A economia do país
está à beira de uma de suas piores recessões, como vários indicadores atestam, mas o candidato governista e republicano
John McCain se mantém praticamente empatado nas pesquisas de intenção de voto com o
democrata Barack Obama.
Uma hipótese para explicar
esse possível paradoxo é que a
crise econômica tal qual tem sido noticiada na mídia, por causa dos indicadores ruins, ainda
não afetou com força uma parcela considerável do eleitorado.
O exemplo mais evidente é a
taxa de desemprego de agosto,
anunciada anteontem. Pulou
de 5,7% em julho para 6,1% no
mês passado. É alta para padrões dos EUA, mas ainda é
uma fração dos percentuais verificados em outros países desenvolvidos, sobretudo na Europa Ocidental.
Há também notícias positivas. O preço do petróleo recuou
para perto de US$ 100 o barril
depois de ter rondado a casa
dos US$ 150. Em julho, o valor
médio do galão (3,8 litros, que é
como os norte-americanos medem a gasolina na bomba) chegou a US$ 4,11. Na sexta-feira,
estava em US$ 3,67, uma diferença de 44 centavos por galão.
A percepção, ou sensação
real na vida cotidiana, sobre a
economia é importante para
que o eleitor médio julgue se as
coisas vão bem ou não. E assim
decida em quem votar. "A taxa
de desemprego subiu, mas não
há desemprego generalizado.
Mais de 90% não foram afetados", diz Nigel Gault, economista-chefe nos EUA da Macroeconomic Advisers and Global Insight, conceituada na
área de previsões econômicas.
O mesmo pode ser dito sobre
a crise no setor imobiliário, que
fez milhares de pessoas perderem suas casas por falta de pagamento das prestações de seus
financiamentos bancários. O
problema é dramático para
uma parte da população norte-americana, mas não está disseminado para todos os setores.
Apesar de todos esses sinais
contraditórios, a Global Insight
tem um modelo matemático
segundo o qual Obama deve superar McCain por sete pontos
percentuais no voto popular no
dia 4 de novembro.
"O elemento principal no
nosso cálculo é o PIB per capita
real. Houve queda de um ano
para cá. Por essa razão, a chance de uma vitória democrata é
maior. O PIB per capita era de
US$ 28.639 no terceiro trimestre de 2007, e agora, pelos nossos cálculos preliminares, em
2008, está em US$ 28.469", diz
o economista Gault.
Mas por que então as pesquisas não mostram uma vantagem mais sólida de Obama?
"Tudo depende, é claro, de a
economia ser de fato um item
de grande relevância na eleição", diz. "Notícias recentes
ajudam um pouco a estratégia
dos republicanos de tirar o assunto da agenda, como o resultado do PIB para o segundo trimestre, que foi de 3,3%."
Ray Fair, economista e professor da Universidade Yale, estuda desde os anos 70 o efeito
de variáveis econômicas sobre
as eleições nos EUA. Se o estado da economia atual for levado
em conta, afirma ele, "não há
nenhuma vitória acachapante
no horizonte". No seu cálculo
matemático, o oposicionista
Obama deve ganhar por uma
margem apertada de menos de
três pontos percentuais.
"A percepção da economia
por parte dos eleitores é diferente daquilo que muitas vezes
verificamos na mídia. Se continuar havendo algum tipo de alívio pontual, mas perceptível
nos próximos dois meses, como
a queda do preço da gasolina,
pode ser uma boa notícia para
McCain e péssima notícia para
Obama", diz Ray Flair.
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