|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PLEBISCITO
Apesar do tiroteio verbal, campanha entra na última semana sem violência; pesquisa oposicionista dá vantagem a Chávez
Venezuela chega "calma" à reta decisiva
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
Polarizada, mas não radicalizada, como definiu um analista político, a Venezuela inicia hoje sua
última semana da extenuante e
polarizada campanha eleitoral em
torno do plebiscito convocado
pela oposição para tirar Hugo
Chávez do poder, no próximo domingo. Segundo a as últimas pesquisas de opinião, o presidente
venezuelano, que assumiu em
1998, deve continuar no poder até
janeiro de 2007 -isso se não for
reeleito para mais seis anos.
O plebiscito será decisivo para
os próximos anos da política venezuelana. Além do governo federal, também estão em jogo as
eleições para governadores e prefeitos, que serão realizadas já em
26 de setembro. Quem ganhar o
plebiscito naturalmente sairá em
vantagem devido ao pequeno espaço de tempo entre os dois pleitos. Se confirmada a vitória de
Chávez com alguma folga, a oposição sairá ainda mais dividida e
deve continuar perdendo espaço
no tabuleiro político venezuelano.
O favoritismo oficialista fez até
com que o governo do presidente
George W. Bush, um duro crítico
de Chávez, começasse a emitir sinais de paz na semana passada.
Em artigo publicado anteontem
pelo jornal britânico "Financial
Times", diversos diplomatas
americanos ouvidos sob a condição do anonimato já admitiam a
vitória chavista e defendiam a reaproximação com o governo de
um dos principais fornecedores
de petróleo aos EUA -15% da
demanda norte-americana.
O presidente venezuelano sentiu o tom conciliador e, também
na sexta-feira, disse que, se Bush
for reeleito em novembro, espera
que ele "receba bons conselhos"
porque não é possível que "um
país como esse, um aliado estratégico, tem sido pressionado" a criticar a Venezuela.
É uma guinada e tanto para
Chávez, que vem acusando Bush
de financiar a oposição e de ter
apoiado o frustrado golpe de Estado de abril de 2002.
O tom bélico da campanha, no
entanto, continua. Nos últimos
dias, chavistas e oposição aumentaram a troca de acusações mirabolantes. Há uma semana, por
exemplo, o governo denunciou
um plano de golpe militar que incluía bombardear Chávez com
um avião F-16 e matá-lo ao vivo
na TV, durante o seu programa
dominical, "Alô, Presidente".
Nada disso, no entanto, se converteu até agora em sangrentos
confrontos, que deixaram dezenas de mortos nos últimos anos.
"Um referendo é uma opção
dramática -sim ou não. Mas a
radicalização implícita na polarização está um tanto atenuada",
disse à Folha o analista político e
diretor do diário "Tal Cual", Teodoro Petkoff, crítico de Chávez.
Questionado sobre as espalhafatosas trocas de acusação, o sociólogo venezuelano Edgardo
Lander, que apóia Chávez, disse:
"Uma coisa que se tem de agradecer na Venezuela é que, apesar do
tom agressivo do discurso político, a violência política tem sido
bastante limitada. Claro, se alguém chega à Venezuela hoje e assiste à TV, pensa que estamos às
vésperas de uma guerra civil".
Pesquisa interna
A Folha apurou que uma pesquisa interna da oposição realizada entre os dias 23 e 26 de julho
mostra Chávez na frente e ainda
com uma imagem mais favorável
entre os os eleitores indecisos.
De acordo com essa pesquisa, a
maioria dos indecisos vê a oposição dividida, sem um líder com
credibilidade ou um programa de
governo. E, embora Chávez tenha
uma imagem negativa, eles disseram temer o caos que sua remoção possa trazer.
Não é difícil entender essa desconfiança: a Coordenação Democrática (coalizão oposicionista) é
um aglomerado de 20 partidos
políticos que desconfiam um do
outro. Tanto que o comando da
campanha teve de acomodar 18
membros, em vez dos cinco inicialmente planejados.
Texto Anterior: Era Putin: País da vodca, Rússia mergulha na cerveja Próximo Texto: Esquerda brasileira se mobiliza por Chávez Índice
|