São Paulo, quarta-feira, 09 de fevereiro de 2011 |
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ANÁLISE Revolução em curso definirá relação do país com o Ocidente GIDEON RACHMAN DO "FINANCIAL TIMES" Os acontecimentos no Egito são tão dramáticos que é tentador encarar cada dia como uma virada potencialmente decisiva. Mas revoluções podem se desenrolar por meses e até mesmo anos. À medida que a situação no Cairo se acalma um pouco, vale lembrar que a aparente estabilização dos acontecimentos pode ser apenas uma pausa antes que o drama seja retomado. A lembrança da maneira pela qual revoluções anteriores se desenvolveram significa que as simpatias ocidentais pela revolta no Egito vêm acompanhadas por temores. Revoluções, muitas vezes, se radicalizam quando se prolongam: os mencheviques foram alijados pelos bolcheviques; os progressistas laicos foram derrubados pelos aiatolás. Quando isso ocorre, a chance de conflito com o mundo externo cresce. Mas há outros exemplos mais reconfortantes. As revoluções na Europa Central em 1989 transcorreram em larga medida de modo pacífico e não resultaram em guerras. Assim, o que distingue a espécie de revolução que pode ser recebida com segurança pelos demais países daquela que termina em problemas e guerra? Se os países envolvidos forem pequenos e as forças revolucionárias buscarem contato com o mundo externo, em lugar de rejeitá-lo, as coisas ficam mais fáceis. Revoluções em países do tamanho da Rússia e da China inevitavelmente causam abalo mundial; e a ideologia comunista que eles adotaram tornou inevitável que contemplassem com hostilidade o Ocidente capitalista. O Egito parece se enquadrar à banda mais ameaçadora do espectro. Primeiro, trata-se de um país grande e importante, que por vezes dita o tom do resto do Oriente Médio. O que ocorre lá tem enorme importância. Segundo, não é difícil perceber os radicais esperando por sua oportunidade. A Irmandade Muçulmana foi convidada a negociar com o governo, o que lhe dá posição formal no processo. O grupo conquistou muito crédito na sociedade egípcia ao longo dos anos por oferecer serviços sociais nos cortiços de cidades como o Cairo. No entanto, sua ideologia é hostil ao Ocidente e a Israel, país com o qual os egípcios têm um tratado de paz em vigor há décadas. O Ocidente sabe que está profundamente envolvido com a situação contra a qual os egípcios hoje se revoltam. Hosni Mubarak vem sendo aliado de confiança dos líderes ocidentais há anos. EUA e Europa sabem que, por enquanto, há relativamente pouco que podem fazer para determinar o curso dos acontecimentos. Mas as ações que empreenderem agora poderão ainda assim influenciar a posição da revolução egípcia em relação ao Ocidente -se de aproximação ou rejeição. Isso porque existem duas narrativas rivais em conflito no Egito. Em uma, o Ocidente exemplifica a abertura e a liberdade a que os egípcios agora aspiram. Na outra, o Ocidente representa a reação e repressão que os egípcios hoje lutam para derrubar. Ao pressionar Mubarak, EUA e Europa tardiamente alinham o mundo ocidental às forças do mundo árabe que lutam pela mudança. Quando os egípcios exigem eleições livres e uma imprensa livre, eles estão adotando ideias exemplificadas pelo Ocidente, e não pelo Irã ou outra teocracia islâmica. Para o mundo externo, tudo dependerá de se o Egito pós-Mubarak olhará para o passado, para o mundo dos mulás, ou para o futuro, para um mundo globalizado e interconectado. Tradução de PAULO MIGLIACCI Texto Anterior: Rumor: Ditador pode ser internado na Alemanha Próximo Texto: Revolta Árabe: Oposição do Irã aproveita onda para protestar Índice | Comunicar Erros |
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