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FRANÇA
Se o centro-direita obtiver maioria parlamentar, o presidente governará sem a necessidade de "coabitar" com a esquerda
Bloco de Chirac é favorito nas legislativas
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
O centro-direita deve obter
maioria de votos no primeiro turno das eleições legislativas na
França, hoje, segundo as últimas
pesquisas de opinião. Se o segundo turno, no próximo domingo,
comprovar os resultados, terão
chegado ao fim 20 anos de presença da esquerda no poder, iniciados desde a eleição do socialista François Mitterrand (1981).
A nova vitória do centro-direita,
já majoritário no Senado, dará
maioria parlamentar e um poder
extraordinário ao presidente Jacques Chirac, reeleito em 5 de maio
com 82,2% dos votos, inclusive da
esquerda -que ajudou a elegê-lo,
no segundo turno, para fazer
frente ao candidato de extrema
direita, Jean-Marie Le Pen.
A consolidação do centro-direita no poder na França representará também mais um trunfo para
essa tendência política na Europa.
A direita já venceu as eleições em
Portugal, Itália, Espanha, Holanda e Dinamarca. A Alemanha é o
próximo país onde o centro-esquerda vai enfrentar, nas eleições
legislativas de setembro, o "furacão direitista".
Em termos de totalização de votos, o resultado aparenta estar
apertado. Na apuração do instituto Ipsos, para o jornal "Le Figaro",
a direita tem 40% das intenções
de voto no primeiro turno de hoje, enquanto a esquerda alcança
36%. A Frente Nacional (FN), de
Le Pen, chega a 12%.
No segundo turno, a direita
também venceria, com 52% (contra 48% da esquerda), podendo
obter, no resultado final, entre 339
e 381 cadeiras na Assembléia Nacional. A esquerda teria entre 174
e 216 deputados, e a FN, entre nenhuma e quatro cadeiras.
Para o instituto CSA, a direita
conquistaria entre 350 e 410 cadeiras, enquanto a esquerda obteria entre 140 e 196. A FN teria entre nenhuma e duas cadeiras.
O instituto Ipsos qualifica como
incertos os resultados em 126 dos
577 distritos eleitorais. Além disso, 29% dos entrevistados dizem
que podem ainda mudar de candidato. A situação de dúvida deixou em alerta os líderes de um lado e de outro até o último momento da campanha, anteontem.
O primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin (centro-direita) pediu
o "voto útil" para o seu bloco, a
UMP (União pela Maioria Parlamentar), o mesmo de Chirac, reagindo à dispersão dos votos da direita para outras formações. "Não
se enganem, votem nos candidatos da União", disse. O UMP deve
ser o mais votado no primeiro
turno, obtendo de 29% a 33,5%.
O primeiro secretário do Partido Socialista, François Hollande,
pediu aos eleitores de esquerda
que não se dispersem. "O primeiro turno será determinante para
fixar nosso futuro por cinco
anos", afirmou. O PS pode alcançar entre 22% e 26,5% dos votos.
O próprio Chirac, numa atitude
que irritou líderes socialistas, utilizou a TV pública na última
quarta-feira para pedir que os
franceses não se abstivessem e
dessem a ele "uma verdadeira
maioria" parlamentar para poder
"governar e agir".
Segundo o Ipsos, 51% dos entrevistados rejeitam uma nova coabitação política, o que aumenta as
chances da direita.
Em seu último mandato presidencial, Chirac dividiu o poder
com o primeiro-ministro socialista Lionel Jospin, que representava
a maioria da esquerda na Assembléia Nacional.
A fim de evitar a coabitação,
Chirac organizou, logo após as
eleições presidenciais, o megapartido UMP, que reuniu outras forças de direita para unificar candidaturas nas legislativas.
A esquerda não foi tão bem sucedida e só obteve coalizão em 42
distritos com seus antigos parceiros da "esquerda plural" -o Partido Comunista, os Verdes e o
Partido Radical de Esquerda. Ela
também não soube capitalizar a
energia política despertada por
centenas de organizações de esquerda nas mobilizações populares que reuniram milhões de pessoas nas ruas da França contra Le
Pen às vésperas do segundo turno
das presidenciais.
A abstenção é outro desafio dos
políticos. Existem cerca de 41 milhões de eleitores inscritos na
França. No primeiro turno das
eleições presidenciais, 28,4% deixaram de votar. O número caiu
para 20,3% no segundo turno, depois da ampla mobilização contra
a extrema direita. Nas legislativas,
espera-se que a abstenção seja
igualmente elevada.
Os eleitores vão escolher entre
8.456 candidatos, um recorde histórico. A inflação de concorrentes
se deve ao sistema de financiamento dos partidos pelo Estado,
que favorece a proliferação de
candidaturas.
A dispersão dos votos enfraquece o resultado dos grandes partidos e propicia o avanço eleitoral
de Le Pen. "É verdade que pode
ocorrer, por causa da dispersão,
uma situação que favoreça a extrema direita", afirmou Hollande.
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