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Rússia e Geórgia "estão em guerra", diz Putin
Declaração de premiê russo sucede morte de centenas de pessoas com a tentativa da ex-república soviética de retomar região separatista
Área autônoma georgiana, Ossétia do Sul tem maioria russa, enquanto Tbilisi se alia à Casa Branca; Rice insta Moscou a suspender ataque
DA REDAÇÃO
O premiê russo, Vladimir Putin, declarou que "a guerra já
começou" entre seu país e a ex-república soviética da Geórgia.
Os dois iniciaram ontem pesados confrontos após a ofensiva
georgiana para retomar a região separatista da Ossétia do
Sul, respondida com bombardeios, por blindados russos, de
bases aéreas dos adversários.
Em uma guerra de versões
que permeou os noticiários por
todo o dia, o saldo de mortos varia de dezenas, nas estimativas
mais conservadoras, a mais de
1.400, segundo os ossetianos.
Moscou e Tbilisi se acusam
de responsáveis pelos incidentes, que romperam uma trégua
pontuada de escaramuças observada desde 2004, com a eleição na Geórgia do presidente
Mikhail Saakashvili, um pró-ocidental empenhado em reunificar seu país. A Rússia apóia
a Ossétia do Sul.
Um assessor de Saakashvili
disse no início da madrugada
que o presidente "nas próximas
horas" decretaria a lei marcial,
após o ataque, pela Rússia, ao
porto de Poti, no mar Negro.
"Os russos estão bombardeando nossa infra-estrutura econômica", disse Kakha Lomaia.
Segundo diplomata citado
pelo "Financial Times", o estopim foi a explosão de uma bomba sobre um veículo da Geórgia
que feriu seis pessoas. Georgianos responderam com disparos
que mataram seis da Ossétia do
Sul. A seguir forças georgianas
invadiram Tskhinvali, a capital
da região separatista.
Moscou acusa a Geórgia de
ter "praticamente destruído" a
capital e nega que ela tenha caído em mãos inimigas. Mas, em
Tbilisi, a versão é de que a cidade está sob seu controle.
Herança pós-soviética
A tensão tem como origem a
implosão soviética e a independência da Geórgia, que não permitiu o desmembramento de
seu território para que a Ossétia do Sul permanecesse na
Rússia, junto da Ossétia do
Norte, com a qual se identifica
cultural e etnicamente.
Após breve conflito armado,
uma trégua foi selada em 1992.
A Ossétia do Sul, tendo declarado independência, passou a
funcionar de forma autônoma.
Na prática, o território sul-ossetiano se tornou um protetorado de Moscou, que supre
dois terços de seu Orçamento.
Os russos deram à região um
presidente e uma nova Constituição, forjando um "Estado"
que só eles reconheceram.
O presidente americano,
George W. Bush, disse ontem
em Pequim, por meio de porta-voz, que "reitera seu apoio à integridade territorial da Geórgia". Mais tarde, sua secretária
de Estado, Condoleezza Rice
emitiria um duro comunicado:
"Instamos a Rússia a cessar os
ataques à Geórgia com aeronaves e mísseis, a respeitar a integridade territorial georgiana e a
retirar suas forças de combate
em campo do solo georgiano".
Os estreitos laços entre Tbilisi e Washington e a perspectiva
de a Geórgia entrar para a Otan,
bloco militar ocidental, irritam
Moscou. O presidente russo,
Dmitri Medvedev, disse ontem
que seu governo protegeria todos os seus cidadãos. Dois terços dos sul-ossetianos têm nacionalidade russa.
"Corpos espalhados"
Em Tskhinvali, há "muitos
corpos espalhados pelas ruas,
disse Lyudmila Ostayeva, 50. A
Cruz Vermelha afirmou à BBC
que os hospitais da capital ossetiana não conseguiam lidar
com tantos mortos e feridos.
A Geórgia decretou cessar-fogo a partir das 15h locais. Mas
uma coluna de blindados russos que atravessara a fronteira
pela manhã chegaria a Tskhinvali à noite, com a possibilidade
de retomada dos confrontos.
O governo georgiano anunciou que repatriaria a metade
de seu contingente de 2.000
homens estacionado no Iraque
para reforçar a defesa do país.
Os russos negam que quatro
aviões seus tenham sido abatidos. A Geórgia acusa a Rússia
de bombardear aldeias ossetianas. E a Rússia diz ter recebido
140 ônibus com refugiados dos
bombardeiros inimigos.
NA FOLHA ONLINE -
www.folha.com.br/082212
especial sobre a Ossétia do Sul
Com agências internacionais
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