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Analistas não acreditam em nova rodada de sanções
De olho em parceria econômica com Irã, China deve barrar investida, dizem especialistas
Além de afinidade histórica,
Pequim e Teerã celebraram
recentemente acordos para
abastecimento de petróleo
e construção de refinaria
MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM
Com ou sem o apoio do Brasil, que hoje ocupa um assento
no Conselho de Segurança da
ONU, o esforço americano-europeu de aprovar uma nova rodada de sanções contra o Irã no
órgão está fadado ao fracasso.
Para analistas consultados
pela Folha, a China usará seu
poder de veto como membro
permanente do CS para barrar
a iniciativa transatlântica, de
olho em uma parceria econômica de longo prazo com o Irã e
ainda como forma de contrapor o poderio americano.
A intensificação da campanha americana por novas sanções coincidiu com o plano do
governo Obama de vender R$
11,5 bilhões em armas para Taiwan, enfurecendo Pequim. Seria uma ação coordenada, destinada a pressionar Pequim?
Para o especialista em China
Jonathan Adelman, da Universidade de Denver, o governo
Obama superestima sua capacidade de influenciar a China.
"Os EUA são vistos pela China
como um tigre de papel, por
causa da severa crise econômica e seu endividamento", diz
Adelman, que também estuda
o Oriente Médio.
As repetidas declarações do
governo chinês contra sanções
não mudarão devido a pressão
dos EUA e da Europa, ele prevê. "Os americanos se sentem
fortes no momento porque têm
os principais países europeus
do seu lado. Mesmo assim os
chineses pensam: como eles
ousam [pressionar]?"
Adelman calcula que a única
chance dos EUA de quebrar a
resistência chinesa seria obter
o apoio da Rússia a sanções,
isolando Pequim no CS. Segundo ele, ainda não está clara a direção que Moscou tomará, mas
ainda que tenham endurecido
o discurso contra o Irã, os russos tendem a apoiar sanções
mais brandas que os EUA.
"Historicamente a China
prefere não ficar sozinha, e não
lhe agrada a ideia de ser a única
fonte de apoio ao Irã", diz Adelman. "Por outro lado, os chineses têm mais de US$ 30 bilhões
em comércio com o Irã, que é
visto como um de seus grandes
fornecedores de petróleo."
Uma nova rodada de sanções
só alcançará seu objetivo se
realmente atingir a economia
do Irã, afirma o diretor do centro israelense de estudos globais de Herzylia, Barry Rubin,
o que, segundo ele, não aconteceu nas três já aplicadas. Para
Rubin, o mais efetivo seria boicotar o fornecimento de gasolina ao país. Mas isso afetaria interesses russos e chineses.
Apesar de ser o quarto maior
produtor de petróleo do mundo, o Irã não tem capacidade de
refino para suprir suas próprias necessidades, dependendo do exterior em 40% da gasolina que consome. No ano passado, a China fechou um contrato de R$ 5,4 bilhões para
construir uma refinaria no Irã
e anunciou planos de investir
mais R$ 10 bilhões no setor.
Meir Litvak, especialista em
Irã da Universidade Tel Aviv,
cita afinidade histórica de Pequim e Teerã entre os motivos
para ser cético sobre a inclinação chinesa em apoiar sanções,
mas acha que o maior elo é o
econômico: "A China quer se ligar ao Irã no longo prazo, assegurando fornecimento de petróleo por muitos anos".
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