São Paulo, quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

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Washington cortejou membros da Irmandade, diz pesquisador

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

Apontada por EUA e aliados como obstáculo a uma "transição ordeira" no Egito, a Irmandade Muçulmana já foi cortejada por Washington como anteparo aos nacionalistas e comunistas árabes.
Nos anos 50, auge da Guerra Fria, mais de 30 líderes do grupo político-religioso egípcio foram convidados aos EUA para uma conferência na Universidade Princeton como parte de um programa de propaganda da USIA, a agência de informação americana que existiu até 1999.
O episódio é um dos relatados no livro "Uma Mesquita em Munique: Nazistas, a CIA e a Ascensão da Irmandade Muçulmana no Ocidente", do pesquisador e ex-repórter do "Wall Street Journal" Ian Johnson, lançado no ano passado nos EUA.
A ideia da USIA, exposta em um memorando do Conselho de Segurança Nacional intitulado "O fator religioso", era usar o apelo da fé contra o ateísmo e o secularismo.
Os dirigentes da Irmandade egípcia foram recebidos na Casa Branca pelo presidente Dwight Eisenhower (1953-1961) em 1953 -um ano após o golpe de militares nacionalistas do Egito que depuseram a monarquia pró-Ocidente, aproximaram-se da antiga URSS e viriam a nacionalizar o canal de Suez.
A aproximação com o grupo começou com um projeto da CIA (agência de espionagem) na Alemanha do pós-guerra, relata Johnson.
Três décadas mais tarde, a estratégia seria aproveitada para financiar combatentes islamistas contra a ocupação soviética do Afeganistão. Em 2005, o governo de George W. Bush (2001-2009) também buscou apoio de dirigentes da Irmandade contra a rede terrorista Al Qaeda.
Originalmente, relata o pesquisador, a CIA levou adiante uma iniciativa dos nazistas, que a partir dos anos 30 tentaram recrutar muçulmanos das repúblicas da Ásia Central para lutar contra os soviéticos.
A fachada civil da operação americana era a Rádio Liberdade, que incentivava minorias à rebelião contra o ditador Josef Stálin.
Parte do material usado por Johnson está nos arquivos da rádio, hoje na Universidade de Stanford (Califórnia). Ele também conseguiu papéis do agente Robert F. Kelley (1894-1976).
Johnson obteve documentos inéditos da CIA por meio da Lei de Liberdade de Informação dos EUA. Mas teve muitos pedidos negados, sob a alegação de que poriam em risco a segurança nacional.
Para ele, a história completa da relação dos EUA com grupos religiosos do Oriente Médio ainda está por ser contada. "A CIA só libera informação por ordem do Congresso. Mas esse tema ainda é muito delicado."


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