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Oposição fecha válvulas de gás na Bolívia
Brasil diz que fornecimento não foi afetado, mas adversários de Morales ameaçam prosseguir com ação contra gasodutos
Diferentemente de campos petrolíferos e estações de compressão, válvulas de segurança não estão sob proteção de Forças Armadas
Carlos Hugo Vaca/Reuters
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Manifestantes contra o presidente Evo Morales, que enfrentaram a polícia ontem no departamento boliviano de Santa Cruz
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A VILLAMONTES
(BOLÍVIA)
ROBERTO MACHADO
DA SUCURSAL DO RIO
Opositores ao governo Evo
Morales da região do Chaco,
zona gasífera do sul boliviano,
anunciaram ontem ter fechado
quatro válvulas do gasoduto
que envia o combustível ao
Brasil. O fornecimento ao país
não foi afetado, no entanto, segundo autoridades do setor.
O gerente comercial da Transierra, empresa que administra
o gasoduto Bolívia-Brasil no
país vizinho, Jorge Bolant, disse que os opositores de Morales
ocuparam uma das instalações
com o objetivo de fechar uma
válvula de segurança do gasoduto, mas não tiveram êxito.
"É uma válvula que funciona
com acionamento automático,
mas que também pode ser manipulada manualmente. Mas
não é algo simples de ser feito, é
necessário conhecer o equipamento. Por isso, não conseguiram", disse Bolant.
A Transierra tem como sócias a Petrobras, a Andina-Repsol e a francesa Total. Segundo
Bolant, a operação do gasoduto
funciona normalmente e, até
agora, não há ameaça de interrupção do abastecimento de
gás para Brasil e Argentina.
Na cidade de Villamontes,
um dos focos do protesto no
Chaco, a Folha falou com um
homem que diz ter participado
do fechamento de uma segunda válvula, a 36 km da cidade. O
mesmo disse o líder dos manifestantes da região, Felipe Moza, presidente do Comitê Cívico local. "Sei que fecharam
quatro, mas essa é a única que
garanto, essa sim está fechada",
afirmou Moza.
A válvula afetada pelos manifestantes de Villamontes é como as outras, parecida com
uma chave de torneira gigante,
segundo imagens da TV local. É
cercada por arame farpado,
rompido na ação.
Não havia confirmação sobre
o fechamento das outras duas
válvulas, mas a ameaça dos líderes cívicos era seguir com as
ações para chamar atenção do
governo, de quem cobra que reveja a decisão de reduzir o repasse aos departamentos do
IDH, imposto sobre hidrocarbonetos, para financiar o pagamento de pensões a idosos.
À diferença dos campos petrolíferos e das estações de
compressão, as 20 válvulas de
segurança ao longo do gasoduto da Bolívia até o Brasil não estão sob vigilância militar. Tarija é responsável por 60% da
produção de gás boliviano. O
Brasil, por sua vez, importa da
Bolívia metade do gás natural
que consome.
Abastecimento garantido
No começo da noite de ontem na Bolívia, TVs informavam que o presidente Evo Morales estaria reunido com o comando militar e integrantes do
gabinete. Mais cedo, o governo
voltara a garantir o abastecimento do Brasil e da Argentina.
Ontem, em Manaus, a diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster,
reafirmou que considera o governo boliviano um fornecedor
confiável: "A Bolívia tem sido
um excepcional supridor de gás
para o Brasil, apesar de todas as
suas inquietações. Até o momento não há sinal algum de
que possamos ter perda de suprimento do gás da Bolívia".
A TBG (Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil), que administra o gasoduto
no Brasil, informou que o abastecimento está normalizado.
Apesar dessas declarações,
executivos que atuam na indústria de petróleo e gás da Bolívia
temem que os opositores de
Morales queiram adotar uma
estratégia de interrupções pontuais do fornecimento.
Segundo essa interpretação,
não interessaria a eles paralisar
completamente o fornecimento de gás a Brasil e Argentina.
Isso porque o objetivo dos
manifestantes seria o de pressionar os governos brasileiro e
argentino a adotar uma posição
mais dura quanto a Morales.
Os dois países integram com
a Colômbia o chamado "grupo
de amigos", que tentou sem sucesso destravar a crise que se
arrasta no país desde que o governo aprovou, sem a anuência
da oposição, uma nova Constituição no ano passado, e que
apenas se acirrou após a ratificação de Morales, com mais de
dois terços dos votos, em um
referendo revogatório realizado no mês passado.
A maioria das empresas que
atuam no Chaco montou um
plano emergencial para assegurar o abastecimento das unidades de produção e garantir o
deslocamento dos funcionários
para os locais de trabalho.
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