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ANÁLISE
Resolução deixa pouco espaço para Saddam agir
PATRICK E. TYLER
DO "THE NEW YORK TIMES"
Ao obter apoio unânime do
Conselho de Segurança da ONU
anteontem para sua resolução sobre o Iraque, a administração
Bush estabeleceu os passos finais
para desarmar Saddam Hussein,
deixando aberta por apenas algumas semanas a questão de se isso
será feito por meio de uma guerra
ou pacificamente.
Para evitar a guerra, o ditador
iraquiano tem sete dias a partir de
anteontem para aceitar a resolução. Em 30 dias, até 8 de dezembro, ele deve fornecer uma lista
completa e precisa de seus programas de armas nucleares, biológicas e químicas e de desenvolvimento de mísseis de longo alcance para mostrar que está pronto
para tornar-se o agente principal
de seu próprio desarmamento.
Os inspetores da ONU farão
muito pouca inspeção e basearão
sua avaliação sobre a cooperação
iraquiana no grau de precisão da
"confissão" que Saddam terá de
fazer sobre os programas de armas cuja existência ele vinha negando e que, para Washington,
estão sendo desenvolvidos em
bunkers secretos, cavernas subterrâneas e laboratórios móveis.
Para vários analistas, Saddam
enfrentará um grande dilema para se autodeclarar um mentiroso.
Ele é um ditador absoluto, e sua
imagem e postura estão baseadas
em nunca se curvar diante de um
rival ou de uma outra força.
Mas Bush foi implacável anteontem ao insistir que Saddam
deve acatar a resolução de forma
total e transparente, embora o
presidente dos EUA e funcionários da ONU ainda não tenham
descrito detalhadamente o processo pelo qual o cumprimento
das exigências será checado.
Vários membros de governos
árabes, que conhecem a índole difícil de Saddam, crêem que seu
forte instinto de sobrevivência
acabará sobrepujando a humilhação que o processo de inspeção
imporá a ele. "Ele cooperará, não
tem outra alternativa nem lugar
para se esconder", disse um embaixador árabe em Washington.
Mas, se Saddam não atender às
detalhadas exigências da equipe
de inspeção da ONU ou suas informações não corresponderem a
dados fornecidos aos inspetores
pelos serviços de inteligência ocidentais, Bush deixou claro que os
EUA considerarão que ele está
violando a resolução do Conselho
de Segurança. "Qualquer não
cumprimento [da resolução" por
parte do Iraque será grave", disse
Bush.
Enquanto pareceu a alguns que
os EUA construíram uma clara
"ratoeira" para provocar Saddam
a cometer um ato desafiador autodestrutivo, Bush e seus assessores afirmam que obtiveram uma
posição coletiva que dá ao ditador
uma opção pacífica de desarmamento.
Os EUA deixaram claro anteontem que qualquer membro da
ONU, não apenas os inspetores,
pode levar uma queixa ao Conselho de Segurança de que Bagdá
não passou no teste. Assim, o governo Bush guardou um papel
substancial para si mesmo no desenvolvimento da questão nas
próximas semanas.
O problema para Saddam seguir enganando os inspetores é
que ele não sabe o quanto de informação os EUA, o Reino Unido
e outros países possuem sobre
suas armas secretas.
Saddam, que nos anos 80 foi
apoiado pelos EUA para conter a
Revolução Islâmica iraniana,
nunca pareceu tão encurralado e
sem apoio no mundo árabe.
Nabil Fahmy, embaixador do
Egito nos EUA, disse que o mundo árabe apoiará o desarmamento do Iraque sob a égide da ONU,
mas afirmou que a maioria dos
países da região estará observando se há um esforço sincero para
realizá-lo "pacificamente".
"É sempre muito difícil determinar um desarmamento completo, ainda mais em meio a retórica elevada e fortes suspeitas",
disse Fahmy.
O embaixador do Kuait em
Washington, Salem Abdullah al
Jaber al Sabah, disse na semana
passada que seu país fechou um
terço de seu território para disponibilizar a área às tropas dos EUA
sendo enviadas à região.
Salem disse que há consenso entre os líderes árabes do golfo Pérsico de que a guerra está vindo,
mas que sua maior preocupação
era a falta de consulta dos EUA a
seus aliados sobre como ajudar os
23 milhões de iraquianos e garantir a estabilidade política do país
após uma guerra.
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