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ENSINO
Casa Branca privilegia a Patrick Henry, em Virgínia, que tem o objetivo de formar líder políticos ultraconservadores
Faculdade alimenta direita cristã dos EUA
RAFAEL CARIELLO
ENVIADO ESPECIAL A PURCELLVILLE (EUA)
Vinte e poucos anos, ainda virgens, os alunos da Patrick Henry
College só pensam numa coisa:
política.
Faculdade ultraconservadora,
no currículo e na disciplina, seu
objetivo manifesto -"por Cristo
e pela liberdade"- é formar líderes políticos para a direita cristã. A
instituição é uma das faces mais
visíveis de um grupo que ganha
espaço político sob o governo de
George W. Bush: evangélicos de
direita, contrários ao aborto, favoráveis à intervenção mínima do
Estado em suas vidas e ao unilateralismo americano na política externa.
Com apenas quatro anos de
existência e cerca de 240 alunos,
40 deles no último ano, a Patrick
Henry tem oito estagiários na Casa Branca neste semestre (cerca
de cem estudantes de universidades de todos os Estados Unidos
trabalham a cada período no centro do poder do país).
Outros procuram -e encontram- trabalho como assessores
de congressistas republicanos ou
em importantes centros de estudos conservadores, como a Heritage Foundation, o mais importante "think tank" da direita.
Enquanto passeiam pelos corredores e gramados desse complexo
em Purcellville, a pouco mais de
uma hora de Washington, no Estado de Virgínia, têm de seguir
um código moral estrito: não podem fumar (mesmo ao ar livre)
nem beber; ninguém deve beijar
em público; mãos dadas só enquanto caminham; as televisões
nos dormitórios não pegam a
MTV.
E não importa a distância que
estiverem das salas em que têm
aulas como "os fundamentos bíblicos da liberdade", dos prédios
que, com suas colunas gregas,
imitam as construções da época
da independência do país, da livraria em que podem comprar
"Ronald Reagan e Deus: Uma Vida Espiritual", devem manter, segundo os preceitos evangélicos,
sua castidade intacta.
"A fornicação é claramente
proibida pela Bíblia", diz Robert
Stacey, chefe do departamento de
ciência política da escola.
Ele reconhece Bush como um
aliado da direita cristã. Questionado se o fato de o presidente ser
um republicano conservador influencia no número de estudantes
da Patrick Henry na Casa Branca,
Stacey diz: "É claro. Você poderia
encontrar outras faculdades que
já tiveram maior presença na Casa Branca. Estão esperando a sua
vez".
A relação entre religião e política é clara, também, para ele. "A
verdade de Deus está em todos os
campos. Não há física secular ou
física cristã -é tudo a mesma coisa. Quando estudamos política,
estamos estudando idéias que
Deus criou. Liberdade e igualdade
não podem ser separadas de
Deus, são parte da criação."
Além de Bush, ele cita outros fatores que contribuem para o aumento da penetração política do
corpo de alunos da faculdade: "A
proximidade de Washington e o
fato de os fundadores dessa escola
já serem desde antes politicamente ativos".
O presidente da instituição, Michael Farris, é também o fundador da Associação de Defesa Legal
da Escola em Casa, que apóia o direito de pais insatisfeitos com a
escola pública de retirarem seus
filhos de lá e ensiná-los em casa.
Scott Woodruff, que integra a
associação, enumera entre os motivos de insatisfação da direita
cristã com o sistema público de
ensino o avanço da educação sexual "liberal" e a queda dos padrões de "disciplina" e qualidade
dos colégios. Mais de 90% dos
alunos da Patrick Henry, ele diz,
foram em algum período de suas
vidas educados em casa.
A escola é vista como centro estratégico para as batalhas políticas
e culturais que não cessam de
acontecer nos EUA -casamento
gay, limites ao direito de aborto
ou, simplesmente, quantidade de
impostos a serem pagos.
"Estamos num momento importante da nossa cultura -as
coisas podem ir numa direção ou
noutra", afirma Stacey. "Essa é a
geração em que isso vai ocorrer."
Integrante dessa geração (na faculdade, todos brancos, anglo-saxões e protestantes), Gabe Ballard, 22, tinha acabado de conseguir um emprego na Heritage
Foundation no dia em que conversou com a Folha.
Quando fala sobre política externa, diz que "o mais importante
[para os EUA] é defender os próprios interesses". Afirma ainda
que os Estados Unidos devem
"tomar cuidado" ao lidar com a
ONU. "Não devíamos sacrificar
nossa segurança, nossos interesses" ao negociar com outros países, declara.
Seus colegas Christy Ross, 21, e
Matthew DuMee, 21, namoram.
Matthew, que trabalha uma vez
por semana no Congresso, com o
deputado republicano Trent
Franks, teve de pedir autorização
ao pai de Christy, que quer trabalhar num "think tank" conservador, para sair com ela.
Ele participa do time de debates
da Patrick Henry. Já ganhou alguns torneios, em que duplas têm
de, alternadamente, defender tanto a posição contrária quanto a favorável sobre determinado assunto.
"Houve apenas uma vez em que
me neguei a argumentar favoravelmente sobre algo", diz. "O tema era sexo antes do casamento.
A dupla adversária, ao expor argumentos contrários, disse que
cristãos não podem fazê-lo porque a Bíblia diz assim. Não argumentei favoravelmente, disse apenas que o que eles falavam era um
truísmo, uma obviedade. É óbvio
que cristãos devem seguir a Bíblia. Ganhamos."
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