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PÁTRIA OU MORTE
Para Alina Fernandez, que mora nos EUA, atual onda de repressão visa dissidentes cuja voz é ouvida no exterior
Diálogo é inútil em Cuba, diz filha de Fidel
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Fidel Castro aproveitou a ocorrência da guerra no Iraque para
realizar um expurgo que considerava necessário para calar as críticas internacionais a seu regime.
Foram encarceradas, em Cuba, as
vozes contrárias a seu governo
mais conhecidas no exterior.
As afirmações são de Alina Fernández, filha ilegítima do ditador
cubano e autora de "Alina: Memórias da Filha de Fidel Castro",
que vive atualmente em Miami.
Nascida em 1956, ela só ficou sabendo que era filha de Fidel aos
dez anos de idade. Foi modelo e
diretora de uma empresa cubana
antes de deixar a ilha e não fala
com o pai há mais de uma década.
Leia a seguir trechos de sua entrevista, por telefone, à Folha.
Folha - Como a sra. vê a recente
onda de repressão a dissidentes
políticos em Cuba?
Alina Fernández - Quando faz alguma coisa, Fidel não tem em
mente apenas um objetivo, mas
vários. Assim, silenciando os dissidentes, sobretudo líderes como
Marta Beatriz Roque e Oscar Elías
Biscet, que eram as vozes da oposição cubana que atingiam o
mundo todo, ele buscou calar todos aqueles que, do exterior, atacam suas ações.
É por isso que Fidel permite que
dissidentes que tentam reformar
a Constituição cubana para mudar o regime, como Oswaldo Payá, Elizardo Sánchez e Vladimiro
Roca, continuem ativos. Afinal,
eles defendem a posição do regime em relação a muitos temas,
como o embargo americano.
Os opositores que foram presos
não aceitavam dialogar com o governo e acabaram na prisão. Fidel
aproveitou a ocorrência da guerra
no Iraque para realizar um expurgo que considerava necessário para calar as críticas internacionais a
seu regime. Este, com isso, mostrou que o diálogo é absolutamente inútil em Cuba.
Ademais, Fidel sabe que o país
terá uma grave crise econômica
em breve, e, para ele, o único modo de evitar a instabilidade social
é colocar medo na população.
Atualmente, em Cuba, as pessoas
não se atrevem nem a fazer compras no mercado negro por medo
da repressão oficial.
Ele também busca provocar
uma reação dura dos EUA porque
é um velho ditador que sabe que
não lhe restam muitas outras coisas a fazer, além de dizer que
Washington está por trás dos problemas que atingem a ilha.
Folha - Qual é sua relação com os
opositores cubanos?
Fernández - Antes de deixar Cuba, em dezembro de 1993, eu fazia
parte do grupo dos dissidentes.
Tive de fugir para retirar minha filha do país. Antes disso, todavia,
eu era muito ligada aos maiores
opositores cubanos.
Vivo em Miami há dois anos e
faço parte da comunidade cubano-americana que vive aqui. Todos queremos a mesma coisa: a liberdade de Cuba. Tenho, portanto, uma relação muito estreita
com a comunidade cubano-americana. Por outro lado, não pertenço a nenhuma organização
nem criei nenhuma fundação.
Não tenho aspirações políticas.
Folha - Que tipo de regime a sra.
gostaria de ver em Cuba?
Fernández - Cuba precisa de liberdade. No início da transição,
os cubanos deverão ter em mente
um certo nacionalismo, pois, caso
contrário, ficarão tão à mercê dos
interesses estrangeiros quanto
são quase escravos do regime hoje. O próximo governo tem, portanto, de levar isso em conta para
que os cubanos possam voltar a
prosperar em seu país.
Folha - Após a morte de Fidel,
Raúl Castro (irmão do ditador) tentará manter as rédeas do regime?
Fernández - Tudo o que acontecerá em Cuba dependerá da vontade dos americanos. Se os EUA
quiserem que Raúl comande a
transição, isso ocorrerá. Washington teme um êxodo maciço
dos cubanos em direção às praias
da Flórida e fará o que considerar
necessário para evitá-lo.
Os EUA vão apoiar uma solução
que assegure a manutenção dos
cubanos na ilha. Na verdade, os
americanos têm sido cúmplices
do castrismo há muito tempo,
embora não admitam isso publicamente. Fidel está no poder porque Washington aceita isso. O
próprio embargo não é verdadeiramente aplicado, pois os americanos o contornam, passando por
outros países. Se tivesse sofrido
sanções econômicas reais, o regime cubano já não mais existiria.
Folha - Por que a sra. rompeu com
o regime e com seu pai?
Fernández - Porque não existe a
mais elementar justiça social no
país. O regime é tenebroso e mafioso, além de violar os direitos
humanos mais básicos diariamente. Há uma ditadura terrível
em Cuba, que não pensa na população. Espero que os cubanos consigam construir uma democracia
verdadeira, porém isso não ocorrerá rapidamente.
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