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EUROPA
Fabrice Robert, líder de grupo banido após atentado contra Chirac, planeja fundar movimento político ultranacionalista
Extremista francês quer fundar partido
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
O grupo de extrema direita Unidade Radical (UR), dissolvido pelo governo francês na última semana, pretende se restabelecer
em breve no país, com outro nome e outras ambições. A proibição ocorreu menos de um mês
após a tentativa de assassinato do
presidente Jacques Chirac, no feriado nacional de 14 de Julho, pelo
estudante Maxime Brunerie, 25,
que tinha ligações com o UR.
O ministro do Interior, Nicolas
Sarkozy, disse que a ideologia do
UR é a da "exaltação da raça branca e do ódio ao estrangeiro, particularmente dirigido contra as comunidades judia e árabe".
O site do UR também foi proibido pela Justiça. "Essa dupla proibição não muda nada. Nós vamos
renascer em setembro", disse à
Folha o técnico em informática
Fabrice Robert, 30, presidente do
UR. Na entrevista a seguir, ele refuta que o UR seja de extrema direita e o define como um movimento "antiglobalização", "contra a imigração" e "anti-sionista".
Folha - Por que a UR decidiu
apoiar Maxime Brunerie após seu
ato contra o presidente?
Fabrice Robert - Condenamos a
atitude de Maxime, considerando
que foi um gesto desesperado. É
preciso saber que, hoje, 20% dos
franceses não estão representados
na Assembléia [número aproximado dos eleitores que votaram
em Le Pen para a Presidência; a
extrema direita não tem cadeiras
no Parlamento francês". Maxime
acreditou demais na democracia e
nas eleições e descobriu que isso
não serviu de nada. Então, não
surpreende que tenha cometido
um ato tão desesperado. Por outro lado, nós o apoiamos moralmente porque não podíamos esquecer que era um camarada e
um simpatizante da UR.
Folha - O sr. o conheceu?
Robert - Sim.
Folha - Como o descreveria?
Robert - Era um militante com
muita boa vontade, muito calmo,
não esse sujeito que apresentam
na imprensa.
Folha - Ele comentou com o sr. sobre os planos para 14 de Julho?
Robert - Não.
Folha - Ele tem problemas psicológicos, como diz a polícia?
Robert - Não creio. Mas não o
conheço tão bem assim para dizer. Os que o conhecem dizem
que é uma pessoa muito calma.
Folha - Por que o sr. acha que o
governo decidiu dissolver o seu
movimento e proibir o site?
Robert - Penso que o governo
não viu de fato nenhuma relação
entre o gesto de Brunerie e a UR.
Do meu ponto de vista, ele quis sinalizar com um pequeno gesto
para organizações como a Liga
Internacional Contra o Racismo e
o Anti-semitismo (Licra). Mas essa dupla proibição não muda nada. Vamos renascer em setembro.
Folha - O que vai acontecer agora
com a Unidade Radical?
Robert - Estamos planejando
um fim de semana de formação e
reflexão, no final de agosto, no sul
da França, para discutir novas estratégias e o lançamento de uma
nova estrutura, maior que a atual.
Folha - O sr. pensa em construir
uma formação partidária?
Robert - Pensamos que há espaço para um movimento pela identidade. O MNR (Movimento Nacional Republicano, partido de
extrema direita) está indo para os
ares e é possível que acabe desaparecendo. Nesse caso, alguns de
seus partidários se juntariam a
nós. Teríamos a possibilidade, então, de ao menos encarar listas
eleitorais em âmbito municipal.
Folha - O sr. está planejando então um partido político?
Robert - Um movimento político.
Folha - A UR tem relações com
partidos de extrema direita europeus?
Robert - Não nos consideramos
de extrema direita.
Folha - Não?
Robert - Não somos de direita
nem de esquerda. Esses são termos de um combate perdido do
século 20. Somos militantes por
uma identidade européia, engajados nos combates do século 21.
Folha - Que tipo de combate?
Robert - Nós lutamos por nossa
identidade étnica e cultural, contra a invasão da cultura americana, da imigração e da mestiçagem
que é imposta hoje pela mídia
cosmopolita. Nossos dois inimigos são o liberalismo, que explora
o povo, e o jacobinismo, que quer
miscigenar a população francesa
e européia.
Folha - O nacionalismo não é uma
ideologia do passado também?
Robert - Sim, mas nós não somos pela nação francesa. Achamos que a idéia de Estado-nação
mudou e é por isso que lutamos
por uma grande Europa unificada. Somos ao mesmo tempo militantes regionalistas e europeus.
Somos contra o modelo de globalização que querem nos impor,
em que todos escutam a mesma
música, vestem a mesma roupa,
consomem o mesmo produto.
Lutamos por uma Europa européia, uma África africana e uma
Ásia asiática. Não temos nenhum
ódio por outros povos.
Folha - O sr. defende a expulsão
dos imigrantes da Europa?
Robert - Defendemos a expulsão
dos clandestinos.
Folha - Não dos imigrantes em
geral?
Robert - Não podemos excluir
milhões de pessoas de um dia para o outro. O que precisa ser feito é
pôr em prática uma colaboração
entre a Europa e os países de imigração. Não sou contra a imigração para a Europa. Ao contrário,
sou a favor de uma política de colaboração com o mundo árabe.
Enquanto militante por uma
identidade, apóio homens como
Saddam Hussein e Iasser Arafat.
Folha - E o que fazer com os descendentes dos imigrantes, nascidos na França e que, portanto, são
franceses?
Robert - São franceses nos documentos, do ponto de vista administrativo, mas não são franceses
de sangue. São pessoas totalmente desenraizadas, que não são
aceitas na Europa nem reconhecidas nos países de origem. Desculturados, acabam sendo recuperados pela ideologia americana, como se vê na periferia, com sua cultura de rap, jeans e Coca-Cola.
Folha - O sr. é anti-semita?
Robert - Sou anti-sionista.
Folha - Qual é a diferença?
Robert - A diferença é que eu
considero que a política de Israel,
a política sionista, é feita de ódio e
intolerância. Hoje, o sionismo é
uma espécie de nazismo judeu.
Considero que os palestinos têm
direito a sua terra.
Folha - O sr. defende a expulsão
dos judeus do território francês?
Robert - Não, os judeus sempre
estiveram presentes na Europa.
Não tenho ódio contra eles. Não
temos vontade de erradicar as
pessoas de origem judia.
Folha - A UR é um movimento
neonazista?
Robert - Não somos neonazistas.
Folha - O sr. é simpatizante do nazismo?
Robert - Todas as ideologias do
século 20 fracassaram. Para mim,
todos os movimentos chamados
de neonazistas que aparecem hoje
na Europa são na verdade movimentos de protesto, formados
por pessoas que realizam o combate nacionalista atual.
Folha - Qual a lição deixada pelo
Holocausto dos judeus?
Robert - Ele tem um papel importante na unidade do povo judeu e na política israelense. É evidente que o Holocausto permite
hoje que o Estado de Israel se desculpe de muitas de suas ações.
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