São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

EUROPA

Fabrice Robert, líder de grupo banido após atentado contra Chirac, planeja fundar movimento político ultranacionalista

Extremista francês quer fundar partido

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

O grupo de extrema direita Unidade Radical (UR), dissolvido pelo governo francês na última semana, pretende se restabelecer em breve no país, com outro nome e outras ambições. A proibição ocorreu menos de um mês após a tentativa de assassinato do presidente Jacques Chirac, no feriado nacional de 14 de Julho, pelo estudante Maxime Brunerie, 25, que tinha ligações com o UR.
O ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, disse que a ideologia do UR é a da "exaltação da raça branca e do ódio ao estrangeiro, particularmente dirigido contra as comunidades judia e árabe".
O site do UR também foi proibido pela Justiça. "Essa dupla proibição não muda nada. Nós vamos renascer em setembro", disse à Folha o técnico em informática Fabrice Robert, 30, presidente do UR. Na entrevista a seguir, ele refuta que o UR seja de extrema direita e o define como um movimento "antiglobalização", "contra a imigração" e "anti-sionista".

Folha - Por que a UR decidiu apoiar Maxime Brunerie após seu ato contra o presidente?
Fabrice Robert -
Condenamos a atitude de Maxime, considerando que foi um gesto desesperado. É preciso saber que, hoje, 20% dos franceses não estão representados na Assembléia [número aproximado dos eleitores que votaram em Le Pen para a Presidência; a extrema direita não tem cadeiras no Parlamento francês". Maxime acreditou demais na democracia e nas eleições e descobriu que isso não serviu de nada. Então, não surpreende que tenha cometido um ato tão desesperado. Por outro lado, nós o apoiamos moralmente porque não podíamos esquecer que era um camarada e um simpatizante da UR.

Folha - O sr. o conheceu?
Robert -
Sim.

Folha - Como o descreveria?
Robert -
Era um militante com muita boa vontade, muito calmo, não esse sujeito que apresentam na imprensa.

Folha - Ele comentou com o sr. sobre os planos para 14 de Julho?
Robert -
Não.

Folha - Ele tem problemas psicológicos, como diz a polícia?
Robert -
Não creio. Mas não o conheço tão bem assim para dizer. Os que o conhecem dizem que é uma pessoa muito calma.

Folha - Por que o sr. acha que o governo decidiu dissolver o seu movimento e proibir o site?
Robert -
Penso que o governo não viu de fato nenhuma relação entre o gesto de Brunerie e a UR. Do meu ponto de vista, ele quis sinalizar com um pequeno gesto para organizações como a Liga Internacional Contra o Racismo e o Anti-semitismo (Licra). Mas essa dupla proibição não muda nada. Vamos renascer em setembro.

Folha - O que vai acontecer agora com a Unidade Radical?
Robert -
Estamos planejando um fim de semana de formação e reflexão, no final de agosto, no sul da França, para discutir novas estratégias e o lançamento de uma nova estrutura, maior que a atual.

Folha - O sr. pensa em construir uma formação partidária?
Robert -
Pensamos que há espaço para um movimento pela identidade. O MNR (Movimento Nacional Republicano, partido de extrema direita) está indo para os ares e é possível que acabe desaparecendo. Nesse caso, alguns de seus partidários se juntariam a nós. Teríamos a possibilidade, então, de ao menos encarar listas eleitorais em âmbito municipal.

Folha - O sr. está planejando então um partido político?
Robert -
Um movimento político.

Folha - A UR tem relações com partidos de extrema direita europeus?
Robert -
Não nos consideramos de extrema direita.

Folha - Não?
Robert -
Não somos de direita nem de esquerda. Esses são termos de um combate perdido do século 20. Somos militantes por uma identidade européia, engajados nos combates do século 21.

Folha - Que tipo de combate?
Robert -
Nós lutamos por nossa identidade étnica e cultural, contra a invasão da cultura americana, da imigração e da mestiçagem que é imposta hoje pela mídia cosmopolita. Nossos dois inimigos são o liberalismo, que explora o povo, e o jacobinismo, que quer miscigenar a população francesa e européia.

Folha - O nacionalismo não é uma ideologia do passado também?
Robert -
Sim, mas nós não somos pela nação francesa. Achamos que a idéia de Estado-nação mudou e é por isso que lutamos por uma grande Europa unificada. Somos ao mesmo tempo militantes regionalistas e europeus. Somos contra o modelo de globalização que querem nos impor, em que todos escutam a mesma música, vestem a mesma roupa, consomem o mesmo produto. Lutamos por uma Europa européia, uma África africana e uma Ásia asiática. Não temos nenhum ódio por outros povos.

Folha - O sr. defende a expulsão dos imigrantes da Europa?
Robert -
Defendemos a expulsão dos clandestinos.

Folha - Não dos imigrantes em geral?
Robert -
Não podemos excluir milhões de pessoas de um dia para o outro. O que precisa ser feito é pôr em prática uma colaboração entre a Europa e os países de imigração. Não sou contra a imigração para a Europa. Ao contrário, sou a favor de uma política de colaboração com o mundo árabe. Enquanto militante por uma identidade, apóio homens como Saddam Hussein e Iasser Arafat.

Folha - E o que fazer com os descendentes dos imigrantes, nascidos na França e que, portanto, são franceses?
Robert -
São franceses nos documentos, do ponto de vista administrativo, mas não são franceses de sangue. São pessoas totalmente desenraizadas, que não são aceitas na Europa nem reconhecidas nos países de origem. Desculturados, acabam sendo recuperados pela ideologia americana, como se vê na periferia, com sua cultura de rap, jeans e Coca-Cola.

Folha - O sr. é anti-semita?
Robert -
Sou anti-sionista.

Folha - Qual é a diferença?
Robert -
A diferença é que eu considero que a política de Israel, a política sionista, é feita de ódio e intolerância. Hoje, o sionismo é uma espécie de nazismo judeu. Considero que os palestinos têm direito a sua terra.

Folha - O sr. defende a expulsão dos judeus do território francês?
Robert -
Não, os judeus sempre estiveram presentes na Europa. Não tenho ódio contra eles. Não temos vontade de erradicar as pessoas de origem judia.

Folha - A UR é um movimento neonazista?
Robert -
Não somos neonazistas.

Folha - O sr. é simpatizante do nazismo?
Robert -
Todas as ideologias do século 20 fracassaram. Para mim, todos os movimentos chamados de neonazistas que aparecem hoje na Europa são na verdade movimentos de protesto, formados por pessoas que realizam o combate nacionalista atual.

Folha - Qual a lição deixada pelo Holocausto dos judeus?
Robert -
Ele tem um papel importante na unidade do povo judeu e na política israelense. É evidente que o Holocausto permite hoje que o Estado de Israel se desculpe de muitas de suas ações.


Texto Anterior: Colômbia: Combates já deixaram mais de 100 mortos
Próximo Texto: Frases
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.