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CULTURA
Desejo de aderir à UE motiva a concessão aos curdos
Turquia rompe tabu histórico e inicia liberação do idioma curdo
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
A idéia de que os curdos possam
estudar em sua própria língua e
assistir a programas nesse idioma
começa a deixar de ser considerada "propaganda separatista" e inclinação "terrorista" na Turquia.
Segundo a imprensa local, o
presidente Ahmet Necdet Sezer
propôs, durante uma reunião do
Conselho Nacional de Segurança,
que um dos canais públicos transmitisse todos os dias um pequeno
programa em curdo. E o ministro
responsável pelos direitos humanos, Nejat Arseven, declarou não
ver problemas no eventual ensino
do curdo em escolas particulares.
No início do mês, o Parlamento
legalizou cursos de curdo em institutos particulares, mas escolas e
universidades ainda não têm permissão para utilizar a língua.
O governo turco alegava que
conferir liberdade cultural aos
curdos incentivaria o separatismo. Os curdos formam o maior
grupo étnico do mundo sem uma
pátria reconhecida, e a maioria vive na Turquia (14 milhões).
A forma como os curdos são
tratados -em geral têm de optar
entre a assimilação e a repressão- é um dos principais entraves à adesão da Turquia à União
Européia, que defende o fim do
banimento do ensino em língua
curda e a organização de partidos
políticos curdos.
Para Haluk Gerger, que foi preso em razão de escritos pró-curdos "subversivos", "as reformas
não têm nada a ver com nenhuma
intenção de mudar o militarismo
da Turquia ou a cultura da intimidação; trata-se de acrobacias políticas para aderir à UE".
Estudantes continuam a ser suspensos ou expulsos de universidades por firmar petições em prol
do curdo. Nos últimos três meses,
em pelo menos 30 cidades e 22
universidades, mais de 15 mil estudantes firmaram um abaixo-assinado a favor do idioma. A Universidade de Istambul expulsou
30 alunos e suspendeu 38 por um
ano. A polícia enviou aos pais dos
signatários -20 dos quais foram
presos- uma carta que dizia: "A
campanha com o objetivo de reivindicar a suposta identidade
(curda) e cujo lema é "Queremos o
ensino do curdo", lançada por
uma organização terrorista e separatista, está causando danos a
seus filhos. Infelizmente, seu filho
firmou a petição... Se você não
quiser que isso afete sua família e
prejudique seu filho pelo resto de
seus dias, impeça-o de sucumbir
ao discurso antipatriótico".
Alguns políticos expressam sua
oposição ao debate reformista de
forma inequívoca. "A língua (curda) vai ameaçar nossa coesão social", diz o ministro Oktay Vural,
do Partido da Ação Nacionalista,
principal movimento contra as
reformas. "Não podemos permitir que as organizações terroristas
usem isso como fermento. Precisamos pensar na segurança e na
unidade da Turquia."
Não é só Vural quem evita usar
a palavra "curdo" -resquício de
um tabu em vigor até há pouco.
Mesmo Mesut Yilmaz, ex-premiê
que apóia as mudanças, prefere os
termos "língua materna" e "idiomas e dialetos tradicionais" quando se refere ao projeto.
Para Kerim Yildiz, do Projeto
dos Direitos Humanos dos Curdos, com base em Londres, "as
medidas que a Turquia vem tomando não são passos sinceros a
caminho da democracia". "Tudo
o que foi feito teve o objetivo de
atender a parâmetros da UE de
forma cosmética." Apesar disso,
segundo ele, "as reformas devem
ser vistas de modo positivo".
"Nós não podíamos sonhar com
elas dez anos atrás, e muitas pessoas pagaram um preço alto."
Na opinião de Murat Bozlak, líder do Partido da Democracia do
Povo (Hadep), "em comparação
com o passado, há mudanças impressionantes na Turquia".
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