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"Queremos eleições já", diz líder de grupo alternativo
DO ENVIADO ESPECIAL A RAMALLAH
Principal líder da Iniciativa Nacional Palestina na Cisjordânia, o
médico Mustafa Barghouti defende a realização imediata de eleições palestinas sob proteção internacional e as descreve como
"um instrumento de resistência".
Leia a seguir trechos da entrevista que Barghouti, 49, concedeu
à Folha.
(PDF)
Folha - O Conselho Eleitoral Palestino atribuiu o adiamento das
eleições, inicialmente programadas para o dia 15, à ocupação e ao
cerco israelense. Qual sua opinião?
Mustafa Barghouti - Defendo
eleições sob proteção internacional. É a única forma.
Folha - Quando?
Barghouti - Já, o mais rápido
possível. As eleições são um instrumento de resistência, e nós
precisamos desafiar os esforços
israelenses de nos impedir de promover eleições.
Folha - Seu nome tem aparecido
em pesquisas de opinião sobre
quem os palestinos gostariam de
ver como líder, com uma popularidade crescente. O sr. é um candidato às próximas eleições?
Barghouti - Ainda não posso falar sobre o papel que vou desempenhar e sobre quem será nosso
candidato. É cedo demais, mas eu
posso dizer que acreditamos
100% na Iniciativa Nacional Palestina e que não é aceitável que
haja apenas a autoridade atual e,
do outro lado, o Hamas.
Folha - Que opção o sr. defende?
Barghouti - Nós estamos totalmente determinados a promover
uma terceira via, a das forças democráticas, contra a autocracia
atual. A terceira alternativa não é
apenas em prol da libertação palestina e do fim da ocupação israelense, mas também para construir uma Palestina democrática,
uma Palestina que seja transparente, com leis legítimas e um governo competente. Nós vamos ter
eleições. Quem estará lá não depende de mim, mas do povo.
Folha - A Autoridade Nacional Palestina vai permitir a votação?
Barghouti - Vamos lutar por isso. Como bem sabemos e como se
vê em outros países, a democracia
não vem por si só. É preciso lutar
por ela.
Folha - Em sua opinião, a Intifada
deve ser encerrada?
Barghouti - Não. A pergunta é:
"O que é a Intifada?" Na mídia
ocidental, a Intifada é apresentada como se fosse uma luta militar.
Os israelenses conseguiram impor sua visão enfatizando a militarização do conflito. A Intifada
não devia ter sido militarizada.
Pedimos que a Intifada fosse um
movimento popular e pacífico.
Dois grupos tornaram a Intifada violenta: o principal é Israel,
que matou palestinos mesmo
quando os protestos ainda eram
pacíficos, mas houve erros dos
palestinos, que caíram na armadilha da militarização do conflito.
Para mim, a Intifada é a decisão
do povo palestino de desafiar a
ocupação israelense, a opressão e
a injustiça.
Folha - O sr. acha que o Hamas pode aceitar pôr fim aos atentados?
Barghouti - Nós já os convencemos ao menos três vezes, quando
eles declararam um cessar-fogo.
Nas três vezes, Sharon [premiê de
Israel" organizou mortes para pôr
fim a essa iniciativa. Mas eles podem aceitar um cessar-fogo novamente, o fim de ações suicidas e
qualquer tipo de ataque contra civis. Quem nos preocupa é Sharon,
que sabe que há negociações nesse sentido e promove mortes. É o
que ele tem feito sistematicamente no último ano e meio.
Folha - Quais suas expectativas
para as eleições israelenses?
Barghouti - O escândalo de corrupção envolvendo Sharon pode
provocar mudanças, mas talvez
não tão rápidas a ponto de afetar
as eleições do dia 28. Estamos
preocupados com a situação.
Folha - Qual sua avaliação do Fórum Temático Palestina [realizado
no final de dezembro, por iniciativa do Fórum Social Mundial"?
Barghouti - Um fórum na Palestina era um sonho que se tornou
realidade e ajudou a ligar a causa
palestina à defesa da justiça mundial. Este é sem dúvida o pior momento desde 1948. Estamos proibidos de usar as estradas e as ruas.
As cidades enfrentam um toque
de recolher. Os assentamentos
crescem. Temos mais de 60 mil feridos. A comunidade internacional tem o dever de intervir. Israel
violou muito mais resoluções da
ONU que o Iraque. Há realmente
um direito único para todos?
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