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Rússia abre nova frente contra Geórgia
No quinto dia do conflito, tropas russas entram no país pela região da Abkházia e consolidam posições na Ossétia do Sul
Governo georgiano anuncia
reforço da defesa da capital
e pede intervenção externa;
Moscou afirma não ter
intenção de ocupar o país
Yuri Kochetkoy/Efe
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Moradores abandonam Tskhinvali, capital sul-ossetiana, por temer ataques georgianos; 30.000 já teriam fugido rumo ao norte
DA REDAÇÃO
Depois de tomar o controle
de boa parte da região separatista pró-Moscou da Ossétia do
Sul, na Geórgia, a Rússia abriu
ontem uma nova frente de
combate com as forças georgianas ao entrar no país pela também separatista região autônoma da Abkházia, a oeste.
No quinto dia do conflito
-deflagrado no dia 7 por uma
ofensiva georgiana contra
Tskhinvali, capital da Ossétia
do Sul -, o Exército russo reforçou sua presença na Abkházia, onde já tinha desde 1992
um contingente militar, e deu
um ultimato para que as tropas
georgianas baseadas num encrave na região entregassem
suas armas e abandonassem
suas posições ontem de manhã.
Imediatamente depois do rechaço do ultimato pelo governo
georgiano, tanques e blindados
russos entraram na Geórgia pela fronteira da Abkházia e avançaram 40 km, amparadas por
bombardeios pontuais. Foi a
primeira incursão terrestre
confirmada da Rússia em território da Geórgia fora das regiões autônomas.
A primeira cidade invadida
foi Zugdidi, onde forças da Rússia tomaram delegacias de polícia e a representação local do
Ministério do Interior. O vilarejo de Kurga, nos arredores de
Zugdidi, foi ocupado por milícias da Abkházia ligadas a Moscou. O Exército russo também
apoderou-se de uma base aérea
em Senaki, de onde anunciou
ter se retirado horas depois.
Pedido de intervenção
Em pronunciamento ontem
à noite pela TV, o presidente da
Geórgia, Mikhail Saakashvili,
acusou a Rússia de pretender
"ocupar" o país e afirmou que
os russos haviam tomado uma
rodovia estratégica próxima à
cidade de Goria, na prática partindo o país em dois. Ele também anunciou ter reforçado a
defesa da capital, Tbilisi.
Depois, numa aparente contradição, recomendou calma
aos moradores da cidade: "Se
Tbilisi estiver ameaçada, vou
informar os moradores com 12
horas de antecedência". Um comunicado do governo georgiano pediu "uma intervenção internacional urgente para impedir a queda da Geórgia".
Saakashvili, que chegou ao
poder em 2003 com apoio ocidental, se tornou um dos principais inimigos de Moscou ao
iniciar o processo de adesão da
Geórgia à Otan, a aliança militar liderada pelos EUA.
Moscou negou manobras militares perto de Gori, afirmou
que não pretende ocupar a
Geórgia e disse que seu objetivo
é criar zonas-tampão para
"proteger as populações" da
Ossétia do Sul e da Abkházia de
ataques georgianos.
Na frente de batalha aberta
na semana passada, a Rússia
consolidou ontem seu avanço
sobre as posições georgianas na
Ossétia do Sul e cercanias.
Moscou manteve o controle de
Tskhinvali, a capital sul-ossetiana, mas conflitos esporádicos ainda aconteciam pela noite, incluindo ataques de helicópteros georgianos.
O presidente russo, Dmitri
Medvedev, disse ontem que os
objetivos da Rússia na Ossétia
do Sul já foram quase todos alcançados. Mesmo assim, Moscou anunciou o envio de mais
soldados à região -já seriam
20.000 nas duas frentes, segundo Tbilisi- e caças russos continuaram bombardeando alvos
georgianos.
Um repórter do "Financial
Times" que esteve em Kareleti,
na Ossétia do Sul, relatou o desespero dos soldados georgianos toda vez que avistam os caças russos sobrevoando a área.
O medo também tomou conta de Gori, cidade que fica perto
da fronteira com a Ossétia do
Sul. Depois que a aviação russa
destruiu anteontem uma base
militar local, a população vive
no temor de mais bombardeios.
O governo de Tbilisi chegou a
anunciar que Gori havia sido
tomada pelos russos, mas Moscou desmentiu a informação.
Segundo testemunhas citadas
pelas agências de notícias, de
fato não havia presença de forças russas na cidade até o fechamento desta edição.
Vítimas
Há poucos dados sobre o número de vítimas do conflito.
Moscou afirma que 2.000 pessoas morreram, a maioria no
ataque georgiano à capital da
Ossétia do Sul, no dia 7, e Tbilisi
diz que houve 130 baixas.
O Comitê Internacional da
Cruz Vermelha (CICV) fez um
apelo por US$ 7,4 milhões para
fornecer atendimento médico
e comprar água potável para as
populações deslocadas.
Segundo a Comissão Européia, 30 mil pessoas fugiram da
Ossétia do Sul em direção à Ossétia do Norte (Rússia), e 6.000
buscaram proteção em Tbilisi.
Moscou disse que até o fim de
semana 34 mil pessoas haviam
cruzado a fronteira. Um porta-voz da comissão afirmou que a
situação pode piorar nos últimos dias, pois é esperada a fuga
de pelo menos 10 mil pessoas
da Ossétia do Sul devido à continuação dos confrontos.
Com agências internacionais
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