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Aprovação a Morales atinge 64,3%, com 73% apurados
Presidente surpreende ao obter bom resultado em dois departamentos opositores
Mas apuração também confirma principais líderes da oposição na "meia-lua"; votação evidenciou ainda cisão entre campo e cidade
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ
Com 73,1% das mesas de votação do país já contabilizadas,
o presidente da Bolívia, Evo
Morales ostentava 64,3% de
"sim" no referendo revogatório
de anteontem, com marcada
distância entre sua aprovação
no leste do país e nos departamentos do altiplano, e entre o
campo e a cidade.
Em Tarija, o único dos oito
departamentos na disputa que
já havia encerrado a apuração,
houve um virtual empate: o
presidente Morales foi aprovado por 49,8% dos votos e reprovado por 50,1%. O governador
oposicionista, Mario Cossío, foi
ratificado com 58,06%.
No resultado geral, a consulta que pôs à prova os mandatos
do presidente e dos governadores oposicionistas do leste
manteve o eixo de conflito político na Bolívia: além do de Tarija, foram amplamente ratificados os governadores de Pando,
Beni e Santa Cruz.
O quarteto, chamado "meia-lua", concentra a produção de
gás e grãos do país e exige autonomia administrativa, além de
rejeitar o projeto esquerdista
de Morales.
Para o governo, que já esperava a vitória nacional, o resultado tarijenho, que não seguia
as projeções de boca-de-urna, é
significativo. Na disputa por
território que se tornou a política boliviana, os números
mostravam o departamento dividido entre Morales e o governador Mario Cossío.
Com 76,44% da urnas apuradas, o presidente também vencia no amazônico Pando, com
52,5% de "sim". Os dois resultados enfraqueciam o argumento
mais radical da oposição, de
que Morales havia sido "revogado" na meia-lua, e que só teria autoridade sobre a região
andina. Pelas regras do referendo, Morales deixaria o cargo se
o "não" superasse os 53,7% dos
votos que o elegeram em 2005.
Polarizações
Mas a votação do presidente
em Santa Cruz e em Beni contrastava com as obtidas nos departamentos de La Paz, Oruro e
Potosí e reforçavam a idéia de
país cindido. Nos dois primeiros, oposicionistas, o "sim" a
Morales estava em torno de
40%; nos três que ficam no populoso altiplano, Morales obteve 80% em média.
Os 64,3% de Morales, até
agora, segundo as projeções de
boca-de-urna, também eram
puxados por sua votação no
campo. Segundo a pesquisa do
instituto Captura Consulting,
no interior o presidente obteve
69,8% de "sim" -uma diferença de 13,6 pontos em relação à
sua votação nas capitais.
O governo já esperava o que
chama de "ruralização" de sua
votação. Considera o efeito
normal, já que diz estar orientando suas ações à população
extremamente pobre concentrada no campo. Mas várias vozes apontam o risco de o referendo ter acentuado outro eixo
de polarização na Bolívia.
Além do oriente versus ocidente, majoritariamente indígena, agora há as diferenças entre campo e cidade.
O referendo também mostrou a polarização do departamento de Chuquisaca, no centro do país. Em 2005, a região
era francamente pró-Morales.
Mas a crise em sua capital, Sucre, que era sede da Constituinte até novembro passado, inverteu o sinal político local.
Os sucrenhos querem que a
cidade volte a ser capital "plena" da Bolívia, no lugar de La
Paz. O governo vetou a discussão do tema na Carta, no ano
passado. A população se voltou
contra Morales. Agora, enquanto só pouco mais de 20%
dos moradores de Sucre apoiavam Morales, no interior do departamento 61,6% diziam
"sim" ao presidente indígena,
de acordo com projeções.
O analista Fernando Molina,
diretor do semanário econômico "Pulso", temia que a votação
do presidente nas regiões governadas por opositores animasse o governo a reprimir
manifestações contrárias nos
departamentos.
Essas ações impediram Morales de visitar várias cidades
na semana passada.
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