São Paulo, terça-feira, 12 de agosto de 2008

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Aprovação a Morales atinge 64,3%, com 73% apurados

Presidente surpreende ao obter bom resultado em dois departamentos opositores

Mas apuração também confirma principais líderes da oposição na "meia-lua"; votação evidenciou ainda cisão entre campo e cidade


FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ

Com 73,1% das mesas de votação do país já contabilizadas, o presidente da Bolívia, Evo Morales ostentava 64,3% de "sim" no referendo revogatório de anteontem, com marcada distância entre sua aprovação no leste do país e nos departamentos do altiplano, e entre o campo e a cidade.
Em Tarija, o único dos oito departamentos na disputa que já havia encerrado a apuração, houve um virtual empate: o presidente Morales foi aprovado por 49,8% dos votos e reprovado por 50,1%. O governador oposicionista, Mario Cossío, foi ratificado com 58,06%.
No resultado geral, a consulta que pôs à prova os mandatos do presidente e dos governadores oposicionistas do leste manteve o eixo de conflito político na Bolívia: além do de Tarija, foram amplamente ratificados os governadores de Pando, Beni e Santa Cruz.
O quarteto, chamado "meia-lua", concentra a produção de gás e grãos do país e exige autonomia administrativa, além de rejeitar o projeto esquerdista de Morales.
Para o governo, que já esperava a vitória nacional, o resultado tarijenho, que não seguia as projeções de boca-de-urna, é significativo. Na disputa por território que se tornou a política boliviana, os números mostravam o departamento dividido entre Morales e o governador Mario Cossío.
Com 76,44% da urnas apuradas, o presidente também vencia no amazônico Pando, com 52,5% de "sim". Os dois resultados enfraqueciam o argumento mais radical da oposição, de que Morales havia sido "revogado" na meia-lua, e que só teria autoridade sobre a região andina. Pelas regras do referendo, Morales deixaria o cargo se o "não" superasse os 53,7% dos votos que o elegeram em 2005.

Polarizações
Mas a votação do presidente em Santa Cruz e em Beni contrastava com as obtidas nos departamentos de La Paz, Oruro e Potosí e reforçavam a idéia de país cindido. Nos dois primeiros, oposicionistas, o "sim" a Morales estava em torno de 40%; nos três que ficam no populoso altiplano, Morales obteve 80% em média.
Os 64,3% de Morales, até agora, segundo as projeções de boca-de-urna, também eram puxados por sua votação no campo. Segundo a pesquisa do instituto Captura Consulting, no interior o presidente obteve 69,8% de "sim" -uma diferença de 13,6 pontos em relação à sua votação nas capitais.
O governo já esperava o que chama de "ruralização" de sua votação. Considera o efeito normal, já que diz estar orientando suas ações à população extremamente pobre concentrada no campo. Mas várias vozes apontam o risco de o referendo ter acentuado outro eixo de polarização na Bolívia.
Além do oriente versus ocidente, majoritariamente indígena, agora há as diferenças entre campo e cidade.
O referendo também mostrou a polarização do departamento de Chuquisaca, no centro do país. Em 2005, a região era francamente pró-Morales. Mas a crise em sua capital, Sucre, que era sede da Constituinte até novembro passado, inverteu o sinal político local.
Os sucrenhos querem que a cidade volte a ser capital "plena" da Bolívia, no lugar de La Paz. O governo vetou a discussão do tema na Carta, no ano passado. A população se voltou contra Morales. Agora, enquanto só pouco mais de 20% dos moradores de Sucre apoiavam Morales, no interior do departamento 61,6% diziam "sim" ao presidente indígena, de acordo com projeções.
O analista Fernando Molina, diretor do semanário econômico "Pulso", temia que a votação do presidente nas regiões governadas por opositores animasse o governo a reprimir manifestações contrárias nos departamentos.
Essas ações impediram Morales de visitar várias cidades na semana passada.


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