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Lula já espera triunfo de Bush e prevê cenário positivo
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Bush é melhor para o Brasil. Em
conversas reservadas, foi assim
que o próprio presidente Luiz
Inácio Lula da Silva resumiu as últimas avaliações que recebeu do
Itamaraty dando conta de que aumentaram as chances de reeleição
do atual presidente dos Estados
Unidos, George W. Bush.
Em público, a posição de Lula e
do Itamaraty é de neutralidade
em relação às chances do republicano Bush e do candidato do Partido Democrata, John Kerry, na
eleição marcada para novembro.
Mas já se trabalha no Palácio do
Planalto com o cenário de que é
mais provável a recondução de
Bush para novo mandato de quatro anos.
Concessões econômicas
A posição de Lula tende a contrariar seus correligionários mais
à esquerda no PT, incansáveis críticos do que classificam de ""imperialismo" da era Bush.
O primeiro argumento de Lula e
auxiliares para considerar Bush
"melhor para o Brasil" é o de que
ele poderá fazer mais concessões
econômicas ao país do que o democrata Kerry. Historicamente,
republicanos demonstraram menos pendor "protecionista". Nos
últimos anos, essa diferença diminuiu muito.
Mas Lula acha que conquistou
boa relação pessoal com Bush em
diversos encontros e que isso é
um trunfo político com possibilidade de trazer eventual ganho
econômico. Com Kerry, o presidente começaria uma relação da
estaca zero.
Lula crê que muito da dureza de
Bush na negociação da Alca (Área
de Livre Comércio das Américas)
se deve ao momento eleitoral.
Acredita que, uma vez reeleito,
Bush poderá flexibilizar a negociação com o Brasil.
Essa avaliação prospera na ala
do Itamaraty tida como mais nacionalista, representada pelo pensamento do secretário-geral do
Ministério das Relações Exteriores, Samuel Pinheiro Guimarães.
Contraponto sul-americano
Paradoxalmente, a política externa agressiva de Bush é vista como vantajosa para o posicionamento de Lula no mundo como
uma espécie de contraponto do
subcontinente sul-americano. O
atual presidente dos EUA não tem
se importado, aparentemente,
com demonstrações explícitas de
Lula para marcar diferença com
ele em relação aos mecanismos de
combate ao terrorismo.
Já Kerry, que tem posição mais
similar à de Lula ao pregar um retorno ao multilateralismo nas decisões da ONU, é uma incógnita.
Em 2003, na 58ª Sessão de Abertura da Assembléia Geral da
ONU, Lula fez um discurso notadamente anti-Bush, condenando
a invasão do Iraque, ocorrida naquele ano. Nessa assembléia, o
presidente da França, Jacques
Chirac, com discurso semelhante
ao de Lula, apoiou, por exemplo,
iniciativas do petista para criar
um fundo mundial de combate à
pobreza.
Com Kerry, Lula poderia perder
o discurso. No final das contas,
Bush não deu nem dá importância à posição brasileira sobre o
Iraque e o combate ao terrorismo.
Os EUA invadiram o Iraque sem o
apoio formal da ONU.
Obviamente, a eleição de Kerry
não é vista como particularmente
ruim para o Brasil. É que Lula
acha "Bush melhor" para a continuidade da política externa que
tem praticado. Os democratas,
por exemplo, têm uma ligação
forte com os sindicatos norte-americanos, um público com laços com Lula e o petismo.
Essa ligação poderia trazer ganhos políticos a Lula, apesar da
avaliação de que a guerra pela manutenção de postos de trabalho
nos EUA encontrará mais suporte
em Kerry do que em Bush.
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